012. VOLTA A ROTINA.

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Giovanna Scarpa
São Paulo, SP 📍

— O jogo de ontem rendeu comentários... — Jullie dizia, enquanto tomávamos café antes de ir pra faculdade. As férias foram ótimas, mas a rotina nos chamava de volta.


— É, jogaram bem apesar do único gol.

— Não tô falando só disso, Gio! — Jullie retrucou, abrindo algo em seu celular.

— Então?

Assim que perguntei, obtive a resposta em forma de post de uma das milhares de páginas de fofoca com fotos nossas no camarote e a seguinte legenda:

"Vocês conseguiriam ser amigos do ex do seu(sua) namorado(a)? Pois Giovanna Scarpa e Bruna Ripani, atual e ex de Raphael Veiga respectivamente, foram flagradas juntas em um dos camarotes do Allianz Parque na partida de ontem e pelas fotos podemos ver que as duas se dão muito bem, obrigada. Vale lembrar que Bruna e Raphael terminaram devido a uma traição do jogador que tempos depois assumiu a irmã mais nova de Gustavo Scarpa -  e uma das melhores amigas de Bruna - como sua namorada em uma premiação. Segundo Ripani, ambas seguem a amizade e deseja tudo de bom ao casal. Então , ? E vocês, o que acham disso tudo?"

Perdi uns cinco minutos lendo os comentários, o tempo passa quando a gente se diverte. Um deles me chamou a atenção, dizia algo como...

" repararam que em todas as fotos da Giovanna com o Veiga ela nunca sorri e sempre séria? Parece até que quer bater nele, eu hein..."

Dou uma gargalhada sincera e mostro a Jullie que concorda, finjo irritação e paro pra pensar que nessas últimas semanas Raphael e eu estamos nos tratando de forma mais amena, como se um já estivesse totalmente adaptado ao outro. Nem no assunto dinheiro nós tocamos mais e isso desde o dia em que cheguei a sua casa. Meus pensamentos são interrompidos pela presença do mesmo.

— Pensei que já tinham ido, não estão atrasadas? Assim não vão conseguir se formar! — O camisa vinte e três brincou, nos fazendo rir. Notei surpresa na sua expressão, esperava alguma patada da minha parte e recebeu sorrisos e em seguida um beijo como forma de cumprimento. — Aceitam carona?

— Treino hoje? Pensei que jogadores recebiam folga no dia de seguinte a um jogo.

— É só um regenerativo, depois vou visitar meus pais. Se quiserem pego vocês na volta?!

— Tudo bem pra você, Ju? — Me viro e pergunto a Jullie que comia um pão de queijo, respondeu com um joinha e uma piscada. Volto minha atenção a Raphael. — Caronas aceitas, amor. Obrigada! — Respondo, dando outro beijo no jogador. Estava o deixando mal acostumado? Sim.
Estava viciada naquela boca gostosa e aproveitava toda e qualquer oportunidade para beijá-lo? Também!

— Não sei o que fiz ou que aconteceu pra você estar assim, mas que continue! — Raphael brincou, dando partida.

— Aproveita antes que minha tpm chegue, viu? — Devolvi a brincadeira, enquanto terminava de organizar minha bolsa. Entre alguns cadernos, uma pequena agenda.

Suspiro. Penso em abrir a janela e jogar ela longe, mas o melhor seria queimar para não ter nenhuma lembrança dessa época não tão antiga.

— Isso é o que eu tô pensando? — Jullie perguntou, já sabendo a resposta. — Não é perigoso andar com isso por aí? E se você perde, alguém mal intencionado acha e mostra pra todo mundo? — Nesse momento desejei morrer amiga de Marchetti, mas ela tinha razão.

— Tô perdido, alguem me explica? Claro, se quiser que eu saiba! — Raphael toma coragem e fala, seu tom era de preocupação genuína e não por fofoca, mera curiosidade.

— Lembra quando você me ligou e, em um momento, eu te disse pra esperar? — Veiga assentiu. — Eu estava com isso aqui nas mãos, separando um dia pra sair com você.

— Já entendi tudo e dou razão pra Jullie, poderia ter deixado em casa. Lá não entra ninguém sem minha permissão, Gio! Mas você deve saber o que está fazendo...

Minha resposta foi um sorriso para ambos e a certeza de que se um dia minha família descobrisse e me mandasse pro inferno eu poderia contar com eles, mesmo se Raphael e eu não prosseguirmos com o relacionamento.


— Agora, minhas futuras empresárias do ramo da moda, a carona acabou. Desçam da carruagem e boa aula! — Agradecemos e saímos, rumo ao enorme prédio.

Estamos em cima da hora e para não perder nem mais um minuto, saímos correndo. Tenho a impressão de ter ouvido Raphael gargalhar do nosso pequeno desespero e também de que algo caiu da minha bolsa.

Raphael Veiga
São Paulo, SP 📍

Se eu não tivesse coisas importantes para fazer agora, poderia ficar vendo aquela cena até o final, mas infelizmente não foi possível. Então, liguei o carro novamente e quando estava pronto para dar a partida, vejo alguém familiar chegar a faculdade.

Bruna.

Meus olhos reviraram automaticamente, por porra nenhuma quero essa garota na minha família outra vez. Mas meus olhos não conseguem não prestar atenção no que ela faz, no meio do caminho pega uma espécie de caderninho e depois segue para dentro do prédio.

Além de mentirosa, também era ladra?

— Era só o que faltava... — Digo alto, seguindo para o treino regenerativo. No primeiro sinal vermelho, meu celular vibra. Não só uma, mas umas cinco vezes. Quem está tão desesperado que não pode esperar uns minutos? — Agora não, porra! Tô dirigindo. — Penso alto novamente, só pegando o aparelho quando já estou no CT.

Giovanna.

— E aí, mano. Tá atrasado, o chefe não vai gostar! — Piquerez brinca, assim que me vê.

— Foi mal, dei carona pras meninas até na faculdade e me distraí! — Respondo o acompanhando e olhando as mensagens da minha amada.

— Meninas?

— É cara, a Gio e a Jullie. — Joaco põe a mão no rosto ao ouvir o nome da Marchetti, de maneira maliciosa. Safado. Devo avisar a ela que ele, apesar de ser um dos meus melhores amigos, não vale o ar que respira? Ok, exagerei! Mas o fato é que depois da jogadora de vôlei lá, ele não ficou sério com mais ninguém. Ele dizia alguma coisa sobre ter gostado dela mas que eu não prestei mais atenção depois de ter lido e entendido as várias mensagens de Giovanna.

"fala que eu deixei a agenda no seu carro, procurei pela bolsa toda e ela sumiu.

desesperada, se alguém acha eu fudida e não do jeito bom!

Raphael responde, caralho.

é isso, é o meu fim!"

— Não é possível, puta que pariu... Vai tomar no cu, que porra! Quando eu penso que tudo tá dando certo...

— O que eu fiz? — Piquerez me olhou assustado, achando que era com ele.

— Hã? Nada Pique, não é com você. Olha, preciso ir... Depois eu me entendo com o Abel... — Respondi, completamente nervoso. Joaco veio atrás de mim.

— No se o que aconteceu, mas no está podendo dirigir! Vou contigo, ok? — Apenas concordei e então dei a chave do meu carro a ele e seguimos de volta a minha casa.

Essa agenda não pode estar com quem eu presumo que está, não pode.

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