028. LAR VERDADEIRO LAR!

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Giovanna Scarpa
📍São Paulo, SP

No carro e no caminho de volta para o lugar de onde, segundo Raphael, eu nunca deveria ter ido embora, um silêncio que não deveria estar acontecendo, mas na verdade nenhum de nós dois sabia por onde começar. A minha vontade era de matar a saudade dos toques do camisa vinte e três ali mesmo e tenho quase certeza que o pensamento e o sentimento eram recíprocos. As trocas de olhares quando o trânsito fechava eram várias, sinal de que nada mudou entre nós e isso deixava meu coração tranquilo.

- Obrigada! - Falo, como um sussurro.

- Pela carona? Sempre as ordens! - Pergunta e solto uma risada sem humor. Piadinhas quando estou tentando e quase conseguindo demonstrar meus verdadeiros sentimentos por você, Raphael? Melhore! Mais uma vez o sinal ficou vermelho e então Veiga aproveitou o momento. - Tô brincando, Gio. - Não consigo resistir e deixo outro sorriso escapar. - O que eu falei de tão engraçado agora?

- Nada, jogador! Isso é o efeito que você me causa, a antiga Giovanna que não suportava nem ouvir seu nome e que não existe mais, surtaria por ouvir isso mas a verdade é que eu também não sei como aguentei ficar longe de você por tanto tempo. Qualquer coisa que você faz me deixa assim, sorrindo feito boba! Não sei o que você tem de tão apaixonante, ou talvez eu até saiba mas não sei descrever, só espero que essa coisa boa que sinto quando te olho e estou perto nunca acabe.

Sabe quando você sente um incômodo, uma dor tão forte que só se alivia com um bom remédio? Era assim que eu me sentia agora, depois de botar para fora o que eu guardava no coração e praticamente me declarar para alguém que eu pensava ser impossível criar algum sentimento bom.
No caso a dor era a distância e o remédio o nosso reencontro.

- Isso foi foda...

- Só vai dizer isso, Raphael? Esperava mais de você. - Ele gargalha e se aproxima, me dando um beijo que continha e dizia toda a saudade, desejo e amor que sente por mim. Quando faltava ar, nos separávamos e ele mordia minha boca levemente me fazendo sorrir, voltando a beijá-lo. Infelizmente tivemos que parar, não percebemos o sinal abrindo e fomos acordados do nosso sonho, quase erótico, pelas buzinas dos outros carros atrás do nosso. - Eita, gentinha mal amada... Já estamos indo, caralho! Tão com pressa, então passem por cima. - Os vidros do carro estavam estavam todos fechados, logo, ninguém do lado de fora me ouvia. Ouço mais uma gargalhada de Raphael.

- Que isso, linda, somos muito jovens pra morrer!

- Não me provoca, Raphael.

- Engraçado, a poucos minutos atrás tava quase pedindo pra eu te foder aqui mesmo e agora vem com essa? Não consigo te entender... - Diz, com uma das mãos na minha coxa, subindo devagar. Percebo e devolvo sua intenção com um tapa na mesma, o fazendo gemer.

- Ouvi dizer que o dramático era o Piquerez! Falando nele, preciso que você vá comigo até a casa da futura esposa dele, leia-se Jullie, pegar minhas coisas. Ou quer que eu volte a morar com você sem ter nada mais pra vestir?

- Se eu responder o que eu pensei, recebo outro tapa! - Foi a minha vez de gargalhar, bagunçando seu cabelo o fazendo sorrir.

Não demorou muito para chegarmos, Jullie me deu uma cópia da chave para caso acontecesse alguma emergência então subimos sem precisar esperar sermos anunciados. Percebemos que as luzes estavam apagadas, supus que minha melhor amiga tivesse saído ou que estava dormindo. Saquei que era a segunda opção, quando levemente mexi a maçaneta da porta do seu quarto e não consegui abrir.

- Rapha, faz o menor barulho possível. A Jullie tá dormindo, vem! - Digo e o jogador me segue até o que agora seria meu antigo quarto. - Abre essas malas e me ajuda a por tudo nelas, ok? - Ele assente e começa a me ajudar, sem dar um pio. O que me surpreende, mas com certeza pediria algo em troca e eu sabia muito bem o que era. Safado.

De repente, a porta do quarto de Jullie se abre e tudo que vemos é ela e Piquerez aos beijos se dirigindo até o banheiro, mas para isso no caminho precisam passar em frente ao meu quarto e gargalhamos quando os dois percebem nossas presenças e dão um pulo devido ao susto.

- Mas que porra, não tinha outra hora? O lesado do porteiro nem pra avisar...

- Não se preocupe, amiga, não ouvimos nada e já estamos de saída. E outra, eu tenho a chave, esqueceu que você fez uma cópia para emergências?

- Graças a Deus que não ouvimos e nem vimos, eu ia ficar traumatizado. - Raphael diz, me fazendo rir.

- Vai se fuder, carajo! - Piquerez resmungou.

- Olha, não fala assim, cadê a educação? Tá, não precisa responder. - Completou. Dessa vez nós todos rimos. - Tudo certo, linda, podemos ir? - Raphael muda de assunto e pergunta, me ajudando com a última das cinco malas.

- Tudo certo, vamos indo pra deixar vocês dois a vontade pra fazer nossos sobrinhos. - Gargalho, vendo Jullie revirar os olhos e Piquerez piscar o olho como se dissesse: é um orgulho te chamar de amiga, Gio.

- Vamos ver quem vai ser titia primeiro... - Nem deixo minha melhor amiga completar, saio do apartamento com Raphael antes que ele soltasse alguma gracinha e voltamos para o carro e consequentemente, para o trânsito e seus motoristas impacientes.

Raphael Veiga
📍São Paulo, SP

Aquela casa era uma sem a presença de Giovanna. Chata, sem graça e sem vibração.
Com ela presente outra vez e agora para ficar, era totalmente outra. Animada, agitada e vibrante.

Assim como ela é.

E eu ficava feito um bocó observando ela arrumar suas coisas no que agora voltava a ser nosso quarto, que tantas coisas já vivemos ali e estávamos mais do que prontos para as novas que viriam.
Agora como um verdadeiro casal, sem a idiotice de um contrato que terminaria no final do ano com ela recebendo o que lhe foi prometido e eu seguindo a minha vida como se nada tivesse acontecido.

Na verdade aconteceu, aconteceu que nós nos apaixonamos com o passar do tempo, aconteceu que pude provar algo além do seu gosto, pude provar a Giovanna de que minhas palavras não eram da boca da pra fora e que poderíamos contar um com o outro.

E eu não poderia estar mais feliz.

- Nem lembrava que eu tinha tanta roupa assim, algumas nem me servem mais e outras... Bom, você sabe de onde elas são. - Giovanna diz, organizando sua parte no nosso guarda-roupas. - Raphael, tá me ouvindo garoto?

- Hã, tô linda... - Mentira, de tão hipnotizado que fiquei ao vê-la dar cor ao lar outra vez, só prestei atenção na fala sobre as roupas. - O que pensa em fazer com essas? Se bem que esse vestido me traz boas lembranças, muito boas por sinal. - Digo, me referindo ao vestido que Giovanna usava quando transamos pela primeira vez. Já as outras roupas mais ousadas, digamos assim, são de sua vida como acompanhante.

- Vou doar, não posso e nem quero ficar com coisas que me remetem a algo que não vou voltar a ser. Como eu te disse no carro, a antiga Giovanna está morta! - Diz, pegando peça por peça e as colocando em sacolas. - Mas você tem razão e o vestido é a única dessas roupas que vai ficar, se não fosse aquela noite maravilhosa nós não teríamos certeza de que daria certo. Além do que, eu fico uma grande gostosa nele, pode dizer! - A olho, rindo. Como pode ser tão convencida? Como pode até isso eu amar nela? - O que foi? Nunca esqueci o jeito como você me olhou.

- Quer relembrar? - Sugiro, com um sorriso malicioso e desabotoando minha camisa devagar.

Giovanna boceja e se deita na cama, apagando o abajur.

- Hoje não, tô cansada! Amanhã quem sabe? Boa noite, lindo, dorme bem e sonha com a gente.

Penso ser deboche de sua parte e que minutos depois estaríamos aos beijos, toques e gemidos na cama, mas percebo que não, pois sua respiração fica leve e que agora dormia feito um verdadeiro anjo. Me junto a ela, fazendo carinho no seu cabelo e depositando um beijo em sua testa.

- Te amo. - Sussurro perto de seu ouvido, adormecendo em seguida.

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