007. O JANTAR.

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Raphael Veiga
📍São Paulo, SP

Desde o dia em que nos beijamos, Giovanna não tocou mais no assunto relacionamento. Na frente das outras pessoas éramos um casal feliz e apaixonado, mas em casa o comportamento era bem diferente... Talvez porque aqui não precisávamos fingir algo que não somos e nem temos.

Isso até a noite de hoje, onde nossos pais, o Scarpa e a Sarah, sua esposa, passariam a véspera de Natal conosco.

Jogado na cama e distraído olhando alguma coisa no celular para passar o tempo, recebo uma mensagem da minha mãe avisando que ela e meu pai já estavam se aprontando e chegariam em uma hora.

— Uma hora? Mas ainda é cedo... — Pensei alto, mas ao olhar pro relógio dele me assusto ao ver que já eram sete da noite e dou um pulo da cama. — Puta merda! — Abro o guarda-roupa na tentativa de encontrar algo adequado pra ocasião e vejo o mesmo terno que usei na premiação, não penso duas vezes e o pego, junto com um par de sapatos. Dispensei o blazer, usaria apenas a camisa e a calça. Separei meu perfume favorito e me dirigi ao banheiro. — Fechado? — Por segundos esqueci da convivência com Giovanna e quando tento abrir a porta, uma voz feminina invade meus ouvidos.

— O mundo não vai acabar se você esperar uns minutos, Veiga.

— O mundo não, mas minha paciência...

Resmunguei, acreditando que ela não escutou mas pro meu azar a porta abriu no mesmo instante e pude ver uma Giovanna extremamente gostosa usando um vestido vermelho decotado nas costas, maquiagem leve - o batom de mesma cor da roupa era o que se destacava e calçando um salto médio, que a fazia ficar praticamente da minha altura. Fiquei mudo por segundos, admirando tamanha beleza. Nosso relacionamento poderia ser falso, mas o que eu pensava sobre ela estava longe de ser.

— Vai ficar aí parado ou vai tomar banho? O que as visitas vão pensar se você aparecer fedido? — O que tem de bonita, tem de debochada. Entrei no local sem trocar uma palavra, era Natal então nada de brigar. — Bom garoto, meia noite vai até ganhar um presente!

Porra, o que tava acontecendo comigo e porque fiquei excitado com aquelas palavras? Balancei minha cabeça negativamente e entrei debaixo do chuveiro, fechando meus olhos sentindo a água fresca pelo meu corpo e tentando me acalmar.

Saio do recinto e volto para o meu quarto, Giovanna havia organizado minha roupa escolhida em cima da cama, com o perfume e um pente ao lado e os sapatos no chão próximo. Fiquei pronto em minutos e saindo do quarto, ouvi vozes. Descendo as escadas pude vê-la com nossos pais, Scarpa e Sarah conversando.

— A noiva chegou! — Gustavo disse, rindo e me cumprimentando. — Feliz Natal... cunhado. — Me abraçou, logo após cumprimentei Sarah e os mais velhos.

— E como vão as coisas, a Tilde? Tô com saudade dela. — Perguntei a minha mãe, já sentados a mesa e degustando tudo o que havíamos comprado dias atrás para essa ceia. Méritos de Giovanna que era bem melhor que eu nesse aspecto e sabia quais eram as melhores marcas de pernil, doces, vinhos, etc. — Pensei que também viria!

— Época de férias dela, filho. A Matilde também tem família! — Respondeu, sorrindo.

— Filha, está tudo maravilhoso. — Ouvi a mãe de Giovanna elogiar. — E fico feliz de saber que você prestava atenção nas coisas de casa quando morava lá, já que não saía do celular...

— Que exagero, mãe!

— Mas é verdade, até quando ia me ver jogar você não desgrudava dele. — Gustavo falou, após tomar mais um gole do vinho. — Certeza que era algum contatinho, não sei como o Raphael conseguiu fazer você sossegar. — Sarah deu um tapinha em seu braço numa tentativa de contê-lo, não deu certo. — Falando nisso, desde quando vocês estão juntos? Até outro dia não podiam se ver... Estranho! — Completou, com uma das mãos no queixo, desconfiado.

Será que algum de nós dois deixou algo escapar? Não, não era possível, caso contrário um já contaria ao outro. Por dentro eu estava em pânico, pensando em uma boa resposta, mas um anjo surgiu.

— Não tem nada de estranho nisso, Gus. — O anjo chamado Sarah falou. — Os opostos se atraem e nós também somos prova disso, quando nos conhecemos você era um largado que só queria saber de futebol e eu começando a faculdade.

— Largado? Judiou, magoei. — Falou, fazendo todos nós rirmos.

— O que pensam em fazer no ano novo? — Foi a vez do pai deles perguntar, de início acreditei que ele não gostou de mim, mas com o passar das horas percebi que era apenas seu jeito quieto e sossegado. — Vamos ficar pela cidade mas podemos ir para um resort, o que acham?

— Agradecemos o convite, mas nossos outros filhos virão passar um tempo conosco... — Meu pai respondeu. — Rapha pode ir se quiser! Início de namoro, você e a Giovanna devem odiar ficarem separados. — Afirmou, sorrindo.

Ah, se ele soubesse...

— Se meus sogros não se incomodarem, vai ser um prazer! — Falei, olhando para eles.

— O prazer será nosso em ter vocês quatro com a gente! Passamos aqui dia 30 pela manhã para irmos todos juntos, tudo bem? — A mais velha propôs e eu assenti concordando. — Ótimo!

— Viagem em família? Isso não estava no contrato... — Giovanna sussurrou no meu ouvido.

— Te dou um bônus por isso, gatinha.

𝗲𝘀𝗰𝗼𝗿𝘁, raphael veiga.Onde histórias criam vida. Descubra agora