Vinte e oito dias para o fim das férias

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— Obrigado por conversar comigo, você ajudou muito, de verdade.

— Oxe, não foi nada — faço um sinal com a mão, meio sem jeito. — Amigos são pra essas coisas, sério. — digo com um sorriso, mas ainda tem algo estranho no meu peito. Empurro aquele sentimento para o fundo da minha cabeça e afasto o máximo que posso, voltando a me concentrar na carne.

— Vou chamar as meninas — Taeyang diz e eu faço um aceno positivo com a cabeça, já que a comida está pronta.

Dal

Não acredito que estou perdendo no Uno para uma criança de onze anos. Faço uma careta quando Geovana, a filha do seu Gilson, me dá um sorrisinho e joga outro "+4". Ela tem cabelos e olhos castanhos, é magra, um pouco baixa para a idade e quando sorri fica simplesmente idêntica ao pai.

— Fala sério! Eu devia te... — finjo que vou dar um puxão na orelha dela e ela cai na risada.

— Oxe mulher, não pode me culpar por você não ter sorte no jogo! — brinca comigo e eu faço um bico, enquanto Malu dá risada.

— Eu vou vingar você Dal... Em algum momento. — Nós três caímos na risada, por mais que eu esteja verdadeiramente irritada por perder, acontece só porque sou muito competitiva. — Taeyang a gente já tá indo comer, viu? É que estamos apanhando de uma criança. — Malu fala enquanto meu irmão se aproxima, ele solta uma risada e dá meia volta.

— Ok, boa sorte aí. — Tae brinca e eu reviro os olhos para o meu gêmeo, antes de voltarmos ao jogo. Outra rodada e dessa vez Geovana pula a minha vez. Faço uma careta.

— Você me odeia, é oficial! Isso é xenofobia! — reclamo, cruzando os braços e fazendo um pouco mais de drama.

— Dal, relaxa, depois te dou um beijinho e passa essa raiva toda. — Malu brinca comigo e eu coro um pouco, antes que eu possa responder alguma coisa, Geovana pergunta de supetão.

— Vocês duas são namoradas?

— Não, não somos — falo rápido demais, quase como um reflexo involuntário e sinto meu estômago revirar. Olho para Maria Luiza, que me observa quase como um cervo que foi pego de surpresa pela luz. Ela parece ferida com o modo que eu falei.

— É, não somos Geovana, a gente é só amiga, ou talvez nem isso — Malu fala a última parte mais baixo, acho que só eu ouvi. Respiro fundo, eu vacilei, não sei o que fazer. Falar alguma coisa para que ela não fique ainda mais magoada é minha melhor opção, mas não consigo. — Vamos comer, acho que chega de Uno por hora. — Ela joga as cartas na mesa e nem me olha. — Geovana é melhor mesmo a gente ir logo, antes que eles comam tudo, vem! — Malu sorri para a criança e a abraça de lado, mas eu sei que ela está se esforçando para não deixar Geovana notar o clima.

A menina me dá um abraço e agradece pelo Uno, eu sorrio e faço um aceno positivo com a cabeça, tudo no piloto automático. Sinto um nó em minha garganta enquanto eu apanho as cartas de Uno, continuo repetindo em minha mente que não posso chorar. Me levanto e falo alto que estou indo guardar o jogo no apartamento. Taeyang me olha preocupado, por favor não me olha assim, peço mentalmente e respiro aliviada quando Laura o chama para mostrar alguma coisa. Ando apressada até o elevador pensando repetidamente que eu não posso chorar. Não chore. Não chore. Dal, você não pode chorar. Minha cabeça repete como um mantra. Entro no elevador, estou sozinha. Ninguém vai me ver, não vou estragar o churrasco, ninguém vai saber. Sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto, começo a chorar e uso as mãos para esconder o meu rosto, mesmo sozinha, estou morrendo de vergonha. Tento engolir o choro e não consigo. Respiro fundo, algumas vezes, engulo todos aqueles sentimentos e seco o meu rosto. Olho para a parede do elevador e encaro meu reflexo distorcido no metal, eu posso fazer isso. Posso me acalmar sozinha, respirar fundo, guardar o jogo e voltar para lá.

Sob o mesmo solWhere stories live. Discover now