Capítulo 20

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P.O.V. Dulce

Não sabia em que quarto Christopher dormira, mas não foi no meu. Acordei na manhã seguinte com olhos injetados e uma dor de cabeça de matar. Havia conseguido chegar a uma conclusão por volta das duas da manhã. Eu procurei tudo aquilo. Escolhi Alonzo e toda sua propaganda enganosa. Decidi me casar com Christopher em vez de levar meus problemas para minha família. Iniciei, conscientemente e de boa vontade, um relacionamento físico com meu marido temporário.

Não esperava me apegar emocionalmente, mas em algum momento meu coração começou a se partir e Christopher o tive nas mãos. Ele disse que não era um homem confiável e que não me merecia. Admitiu abertamente que estava me usando, e, ainda assim, esperava que algo dentro dele houvesse mudado, como mudou em mim. Como Lori havia dito? Que, se quisesse sair desse casamento inteira, teria que encontrar o lado frio e desapegado com que havia entrado nele. Mas, depois de tomar banho e tentar esconder os círculos escuros sob os olhos, a imagem no espelho era de uma mulher arrasada, e não exatamente fria. Endireitei os ombros e comecei um ritual para passar a impressão de que estava renovada. Hidratante, algo para disfarçar as olheiras, uma espessa camada de base. No rosto, um rubor de confiança que teria de fingir até que parecesse natural. Os olhos, meu maior trunfo, teriam que se destacar nesse dia. Um delineador para levantar o olhar e uma grossa camada de rímel eram equivalentes a uma pintura de palhaço sorridente. O batom escuro cor de ameixa acabava meu arsenal cosmético. Prendi os cabelos no alto da cabeça, deixando um ou dois fios caindo no pescoço. Ele gostava deles soltos, e eu usaria isso.

Fui para o closet e deixei cair o roupão. Cada pedacinho de roupa tinha um trabalho diferente do que o pretendido pelo alfaiate. A lingerie me fez sorrir. Ainda mais sabendo que Christopher gostaria dela, mas que nunca mais a veria. A parte sexual entre nós estava acabada. A blusa de tricô abraçou os seios e foi descendo sobre a cintura, até se assentar nos quadris. A calça de seda parecia uma camada de pele macia, e os sapatos de salto de oito centímetros ofereciam a quantidade certa de apelo sexual que eu desejava. Nenhuma. A rotina inteira tomou uma hora da manhã e me fez recordar como eu era forte. Nunca mais lágrimas. Nunca mais confiança. Nunca mais erros. Fui até a cozinha, onde Andrew estava sentado, lendo o jornal. Ele se levantou quando entrei:

Andrew: Bom dia, Sra. Uckermann. — A necessidade de lhe recordar que me chamasse pelo primeiro nome ficou presa no fundo da garganta. Fria e desapegada.

Dul: Bom dia, Andrew.

Andrew: Já fiz café, ou prefere chá?

Dul: Café está bom. — Ele contornou rapidamente o balcão e pegou uma xícara no armário. A aceitei, tomei um gole e murmurei um agradecimento.

Andrew: O Christopher me pediu para lhe dizer que foi ao escritório. — olhei para o relógio na parede. Eram mais de nove horas.

Dul: Tudo bem. — ouvi passos e em seguida a a voz que já me era familiar.

Solomon: Bom dia, Sra. Uckermann.

Dul: Bom dia, Solomon. — Ele foi direto para a cafeteira; murmurou, satisfeito, enquanto engolia a bebida.

Andrew: Andei aperfeiçoando minhas habilidades de fazer panquecas, se quiser.

Dul: Não se preocupe — Ele deu um sorriso triste.

O som do interfone do portão interrompeu o silêncio que se seguiu. Andrew atendeu e deixou entrar quem havia tocado. Tomei um gole de café, contemplando meu dia, minha vida, enquanto os homens da casa me observavam em um silêncio tenso. Andrew me arrancou de meus pensamentos depois de abrir a porta da frente:

Andrew: Entrega especial — disse, empurrando o buquê para os meus braços.

Dul: Quem mandou? — Como se eu não soubesse.

OlvidarWhere stories live. Discover now