28| Uma linha tênue

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Quando seu coração está em pedaços, tudo ao seu redor parece não ter mais importância, como se o mundo inteiro apertasse o botão mudo do controle remoto. O mundo de Jungkook estava no mudo e a única coisa que parecia ter som era aquilo que ficava se repetindo em sua mente:

- Ele me assusta.

Um peso enorme parecia ter caído em cima do garoto e ele não conseguia pensar em nada, não quando tudo que ele mais temia na vida acontecia bem diante dos seus olhos. Ele jurou que jamais seria como o pai, pensar em ao menos ser parecido com ele era a coisa mais assustadora no mundo pra ele.

Porque ele conhecia sua mãe muito bem, desde que se entendia por gente sabia que a mãe brigaria com seu pai quantas vezes fossem necessárias, mas ele também lembrava que todas as vezes foi por causa dele. Nenhuma das vezes foi por ela mesma, sempre era por Jungkook, sempre pelo filho e Jungkook tinha plena consciência de que se fosse de outra forma ela apenas abaixaria a cabeça e aceitaria porque tinha medo, seu pai tinha a capacidade de despertar esses sentimentos tão assustadores.

Ali se via algo maior que a ligação entre um alfa e sua ômega, era a ligação entre uma mãe e seu filho, algo de um poder tão imensurável que poderia ultrapassar barreiras jamais imaginadas.

Era por essa razão que Jungkook se odiava naquele momento, ele queria poder castigar a si mesmo por estar se tornando algo tão podre quanto aquilo que despertava o medo de sua mãe, aquilo que agora despertava o medo em Jimin. Se sentia nojento, amargurado, sujo.

Por essa razão ele não ouvindo Yoongi chamando, assim também como não se deu conta de que caminho estava tomando até chegar em casa. As lágrimas embasavam sua visão e desciam por sua bochecha de forma descontrolada, de todas as vezes que já tinha derramado lágrimas por sua situação com Jimin, aquela parecia a mais dolorosa porque ele sabia que era o fim.

Ele foi até o quarto, tendo a chance de ver a própria imagem refletida no espelho, não conseguia reconhecer a si mesmo, não conseguia mais se encontrar naquele ser que estava sendo refletido. Estava perdido. Não sabia mais quem era, só sabia o quanto estava fazendo mal a pessoa que ele mais amava nessa vida.

Se conseguir controlar o impulso, ele socou o espelho, o quebrando em pedaço e cortando o próprio punho. Deixou seu corpo pouco a pouco indo em direção ao chão, até que estivesse sentado com suas costas apoiadas na cama, começando a socar as próprias pernas.

- Você é um lixo! Você não presta! Nunca vai ser ninguém! - Socou suas coxas até sentir o punho cortado arder pedindo descanso. - Você nunca vai ser o suficiente pra ele!

Repetiu as palavras que tinha ouvido do pai antes, agora mais que nunca ele acreditava em todas elas. Sem ter muito mais o que fazer, jogou uma mala sobre a cama e começou a jogar suas roupas dentro dela de qualquer jeito e qualquer coisa que fosse minimamente importante pra ele.

Seu quarto ficou uma verdadeira bagunça, aquilo seria um pesadelo para Jungkook se ele já não estivesse completamente transtornado. Vendo seu antigo caderno, assim que abriu a gaveta para pegar suas antigas cartas e durante todo o momento em que estava pegando todas as suas coisas, não pensou em como iria se despedir de Jimin.

Ser pessoalmente já era fora de cogitação, ele não conseguiria e não sabia o que um encontro cara a cara com Jimin poderia fazer com ele agora. Então como fez desde o início da sua adolescência, ele resolveu escrever, seria a última vez que escreveria sobre Jimin e a primeira vez que ele o fazia com a real intenção de quem Jimin lesse.

Suas mãos ainda tremiam, mas ele ainda estava se esforçando para manter a caligrafia ao menos legível, já que aquele seria o último contato entre eles. Pelo menos ele faria com que fosse o último contato entre eles, já que não conseguia seguir daquela forma.

Obsessão • ABO | jikookOnde as histórias ganham vida. Descobre agora