19| De volta ao passado

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Kim Taehyung não teve uma infância tão comum quanto das demais crianças, assim como Jungkook. Ele nunca teve um pai presente, na verdade sequer sabia quem era seu pai e mesmo que fizesse questão de perguntar todos os dias, sempre recebia a mesma resposta: — Não é alguém que você deveria conhecer.

Sua mãe em algum momento até tentou compensar a falta que um pai fazia, mas para uma criança curiosa, a questão sempre vinha à tona. Era inevitável não vir, afinal de contas, ele queria ser como um menino comum e com uma família comum como todos os outros. Também queria entender porque sua mãe o olhava torto tantas vezes.

Seguindo os conselhos de sua avó, nas poucas vezes que se falavam ao telefone desde que ele tinha partido, ele ignorava as piadas que eram ditas na intenção de ofendê-lo, com o passar dos anos isso foi ficando cada vez mais fácil. Claro que os problemas com raiva era um dos seus maiores empecilhos, e ser diagnosticado com transtorno explosivo intermitente não foi lá uma experiência tão boa. O olhar que recebia da mãe sempre que se estressava demais, sempre que aparecia com as mãos machucadas por ter socado as paredes até se sentir aliviado. O olhar torto se tornou dez vezes pior, parecia que ela se esforçava demais para gostar do garoto, como se fosse uma obrigação ou coisa do gênero.

Mesmo se tornando o capitão do time de basquete, mesmo que se esforçasse para ter as melhores notas, mesmo que tivesse lutado para compensar o que faltava... tudo foi por água abaixo no momento em que ouviu uma provocação completamente fora de hora, num momento em que ele já estava sob muito estresse, durante uma das partidas mais importantes de basquete do semestre.

O que resultou numa briga no meio da quadra, um colega com nariz quebrado, uma advertência e em seguida sua expulsão. O início da adolescência trouxe problemas que na infância eram completamente esquecidos, então tudo passou a desandar de um jeito incontrolável. Os sentimentos em excesso, as descobertas e os feromônios. Ser um alfa não estava nos planos, sequer fez os exames necessários para descobrir isso antes que seu cio acontecesse, já que aquela nunca foi uma grande preocupação da sua mãe, então ele não dava a menor atenção também. Negligenciado, aquilo poderia resumir a situação do garoto perfeitamente.

Porque apesar de sua mãe ter tentado compensar, era falha, sempre estava sofrendo por seu amor não correspondido, por ter dado a luz ao filho pensando que seria o suficiente para manter o homem ao seu lado, por ter um filho que vez ou outra levava a culpa por sua vida não ter saído como o planejado.

A verdade era que mesmo tentando dar uma boa vida a Taehyung, na grande maioria das vezes ela estava o culpando por sua vida triste. Não demorou para que o jovem Kim notasse aquilo, sempre foi um rapaz muito inteligente.

Todo um histórico perfeito manchado por uma expulsão, a procura por uma nova escola que aceitasse um aluno com TEI não foi fácil, então por quase um ano seus estudos eram feitos em casa. Pelo menos até sua mãe decidir que eles iriam voltar a Busan, sua cidade natal, onde ele teria uma linha de apoio muito maior e melhor do que a própria mãe.

Seus avós queriam cuidar dele, desde que era só um garotinho, mas depois dos 7 anos a mãe fez questão de levá-lo para outra cidade e tomar as responsabilidades das quais fugia desde o dia que o Kim nasceu. Aquilo não agradou em nada a pobre senhora Kim — que tinha um apego tão grande ao menino — que ficou dias doente depois da partida dele, mas quem eram eles para tomar a criança? Que juiz em sã consciência negaria a uma mãe o direito de criar seu filho e o entregaria aos avós camponeses?

Nada fez Taehyung mais feliz do que saber que veria os avós, que os teria por perto outra vez. Ele não poderia estar mais certo, porque até em seus piores momentos, sua avó sabia como cuidar dele, trocou os remédios pela paz que os dois idosos lhe proporcionaram.

Obsessão • ABO | jikookOnde as histórias ganham vida. Descobre agora