Capítulo 3

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Abbie

Irritada, irritada, eu estava em um nível de estresse que caso tivesse que cumprimentar alguém com um aperto de mão, a pessoa certamente morreria eletrocutada, além disso, por pouco não sentia meu cérebro explodir, a cada passo que eu dava meus saltos soavam em meus ouvidos martelando-os, pareciam calçados comprados em uma ponta de liquidação qualquer.

Enquanto caminhava, minha irritação aumentava, não conseguia definir se era por me ver rodeada de seres incompetentes, ou pelo fato de estar com um ódio mortal da minha irmãzinha, que tinha escolhido o pior dos momentos para sumir, bom, no meu caso nunca existiria um momento bom.

Mas o fato era que já fazia alguns meses que a irresponsável tinha simplesmente desaparecido da face da terra. Se não fosse pela curta mensagem, assegurando de que estava bem, eu já teria enlouquecido, pirado, colocado a polícia, o exército, FBI, CIA até mesmo a KGB para que pudessem dar com o rastro da minha única, maluca e adorada irmã.

Depois do que aconteceu comigo no passado, eu me fechei para tudo que não fosse trabalho, estudo e mais trabalho, e fiz com que ela seguisse meu exemplo, pois se estava dando certo para mim, com certeza para ela também daria. E ela não me decepcionou, terminou seu curso de psicologia e estava concluindo seu mestrado, ela era meu orgulho, até sumir. Mas ela iria me pagar, o problema era que para isso eu primeiro teria que encontrá-la.

— Jogue essa porcaria na cara do idiota que teve a audácia de o enviar para mim. — Irritada, retirei dos meus pés o maldito calçado, e o depositei sobre a mesa de Geórgia, minha secretária, e segui descalça para minha sala. — Diga a eles que nenhuma mulher merece ter seus ouvidos torturados com o barulho infernal que essa coisa é capaz de produzir

— Sim, senhorita Green. — Meus ouvidos mais uma vez foram feridos com o barulho dos seus saltos me seguindo. — E sua reunião começa em dez minutos.

— E você acredita que eu estou em condições para me apresentar em uma reunião? — olhei para ela, enquanto continuava massageando minhas têmporas, com o intuito de amenizar a dor. — O que tem nessa sua cabeça inútil, que não está correndo para buscar outro?

— Já estou indo, senhorita Green — afirmou deixando a sala em disparada.

— E troque os seus também — gritei, pois por mais que os irritantes clac-clac já soassem distantes, eram alto o suficiente para deixarem qualquer um louco.

— Tomou uma dose dupla de suco de limão no café da manhã, foi? É por isso que está mais azeda que o normal? — Dylan, meu assistente pessoal, tentou fazer piada, mas eu não estava com humor.

— Não, eu amanheci no meu normal, o problema são os inúteis que me rodeiam. E você só volte aqui com um pedido de desculpas do idiota que teve brilhante ideia de enviar aquela porcaria para que eu usasse. Melhor, coloque o incompetente na rua, e mande uma nota ao designer da máquina mortífera, dizendo que eu achei que seus sapatos servem apenas para serem usados por masoquistas.

— Farei isso agora mesmo — ele respondeu tirando seu celular do bolso para fazer a chamada, pois percebeu que eu não estava para brincadeiras e muito menos para piadas insolentes.

Desligando-me do inconveniente, encarei o detetive que eu tinha contratado para procurar pela minha irmã. Ele se encontrava encostado contra a parede, olhando ao seu redor, com cara de quem procurava uma janela para se jogar. E eu acreditava que, se não estivesse trazendo os resultados que eu esperava, seria melhor mesmo que se jogasse, caso contrário, eu mesma o empurraria

— Espero que tenha boas notícias para mim, senão, será melhor sair antes de começar a falar — joguei minha bolsa sobre uma cadeira que havia na sala, e empurrei meu casaco, cachecol e gorro nas mãos de uma menina com cara de ser estagiária de primeiro dia, que estava me seguindo desde que adentrei no escritório. — E então?

— Não, senhorita Green — enquanto falava se aproximou da minha mesa —, mas fique tranquila, será apenas uma questão de dias, já sabemos que ela está no Texas.

— Se ela está no Texas, o que faz você aqui, sem ela? — vociferei, furiosa.

— É que não consegui me comunicar com a senhorita, então tive que vir pessoalmente — mentiu —, pois o adiantamento que recebemos se esgotou e precisamos de mais para finalizar a investigação e busca.

— Senão sair nesse exato momento, eu o denunciarei por extorsão — ameacei. — Como ousa pedir mais, se até agora não me apresentaram nenhum resultado? Se não me trouxerem algo plausível até amanhã pedirei meu dinheiro de volta, além de denunciá-los.

— Mas, senhorita...

— Coloque esse incompetente para fora da minha sala, Dylan — apontei para o idiota. — Agora, antes que ele me enfureça mais do que já estou, peça aos advogados que entrem com um processo contra o escritório desses ladrões.

Ele continuou com sua lenga-lenga de pedidos de desculpas para que eu reconsiderasse e que, em apenas alguns dias me entregariam resultados positivos. Sem tempo e muito menos paciência, dispensei-o e fiz sinal para que uma das funcionárias, que estava esperando com as caixas de calçados, entrasse.

Um minuto antes do horário marcado, usando um scarpin que envolvia e acariciava meus pés como uma delicada luva, e o principal, não faziam nenhum ruído, adentrei na sala de reuniões para decidir os últimos detalhes com os designers, fotógrafos e todos os responsáveis pela parte mais importante da nossa revista. A capa.

Ainda que fosse um dos dois lançamentos mais importantes do ano, eu estava tranquila, afinal, eu era a CEO mais reconhecida do ramo. Já tinha estudado e pesquisado todos os detalhes do que estaria no lançamento. Como acontecia todos os anos, essa capa seria a de entrada de estação, e vinha acompanhada com a abertura da semana da moda de Nova Iorque, nossa vitrine. Tudo deveria estar mais do que perfeito, textos, chamadas, modelo e o principal, a roupa.

Eu sabia que, se algo desse errado, uma imensa quantidade de empregos visíveis e invisíveis estariam em risco. Mas eu era Abigail Green, aquela que não conhecia o verbo falhar. E por isso era conhecida nos bastidores por Abzila, mas eu pouco me importava de como era chamada, e sim do resultado do meu trabalho.

Estávamos terminando os últimos detalhes sobre a imagem que seria escolhida, quando meu celular tocou e Geórgia se apressou em colocá-lo em silêncio, pois sabia que eu odiava ser interrompida. Ainda assim, em vez de desligar, ela olhou para a tela, atendeu, e em seguida o estendeu em minha direção.

— O que pensa que está fazendo? — empurrei o aparelho de volta e tentei seguir com a linha de raciocínio interrompida.

— Mas, senhorita Green — chiou. — É....

— Não importa quem seja — levantei o tom —, estou ocupada, se durante a tarde eu tiver tempo eu devolvo a chamada.

— É o número particular — ela falou levando o dedo para encerrar a ligação — da sua irmã.

— Como pode ser tão idiota? — esbravejei arrancando o aparelho das suas mãos. — A reunião está encerrada, se faltou alguma coisa para ser decidida, marcaremos uma agenda extra amanhã, caso contrário, acertem com o senhor Davies. Eu preciso ir.

Enquanto ouvia o que Agnes, do outro lado da linha, me dizia, eu apressava meus passos de volta à minha sala. A fala, que no início apenas zumbia em meus ouvidos, foi subindo e quando a conversa finalizou, minha cabeça explodiu. Tanto que, assim que cruzei a porta, joguei o aparelho longe.


LAÇADA PELO COWBOYWhere stories live. Discover now