08 | um sonho concreto

99 14 4
                                    

•───────────────────────•

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

•───────────────────────•

Aquele cheiro de laranjas me trouxe um momento de pausas, e mesmo que fosse desnecessário aquilo, sempre me justificava. Sempre foi difícil manter uma relação boa em casa. E isso me fez pensar em como eu agradeci por ser aceita na Universidade de Columbia, a alguns anos atrás. Fiquei anos fora de Sheffield, longe dos meus pais e principalmente daquela casa.

Por muito tempo tive que dar conselhos a minha mãe, ao invés do contrário, e me senti péssima e deixar ela sozinha naquele lugar, mas por pedidos dela eu fui. E mesmo depois de tantos exemplos a não seguir, eu continuei com Alister por mais dois meses, nas mesmas condições. 

É claro que, dessa vez, quem me deu um tapa na cara foi Harley, sempre me salvando. Aquelas desculpas bobas que dei a ele foram ótimas, na sua percepção, e por um momento pensei que estaria livre até receber sua ligação mais cedo.

— Eu deveria ir lá? — perguntei a mim mesma, então observava minha carteira cheia de moedinhas.

Naquele dia, Callangham havia faltado. E por ser o patrão não mandou sequer uma explicação. E por talvez sorte alguns funcionários creram até mim tirar dúvidas que geralmente o chefe tiraria.

Me levantei apanhando meus papéis e organizando a mesa em movimentos rápidos. 

Alister sempre me lavava lá, e mesmo que eu quisesse esquecer todos os nossos momentos, era impossível. Eu já tinha colocado isso na cabeça, mas sempre voltava meu discurso que deveria seguir em frente e não ligar para coisas como essa. Afinal, é só um ex namorado.

Suspirei pegando o elevador cheio de pessoas desconhecidas, até o último andar, em que me livrei passando por uma porta de vidro peculiar, que girava. Prédios comerciais me assustavam e agora eu trabalhava em um.

Mais uma vez fiz jus a desfilar pelas ruas e faixas de pedestres até a cafeteria. E mesmo que a coragem percorresse pela minha veia, eu ainda torcia para que ele não fosse no mesmo horário que eu.

Aí me lembro que ele deve ter todos os meus horários anotados ainda.

Avistei o atendente que me reconhecia, e fiz o pedido de sempre. Cookies de Doce de leite, com um café simples, me ajeitando para pegá-los, senti uma quente respiração no meu pescoço. E me virando não pude deixar de me assustar com os pares de olhos verdes me cercando.

— Continua com o mesmo perfume, lilá?

Revirei os olhos e tentando me despistar dele fui a uma mesa vazia com apenas uma cadeira, esperava que assim ele não se sentasse comigo.

— Não me chama por esse apelido.

Ele puxou uma cadeira de outra mesa, se sentando como um delinquente do ensino médio.

— Não se preocupe, linda. Não vim aqui pedir para voltar a ser minha. Mesmo que eu queira.

— Não perde uma oportunidade, não é?

Ele sorriu, presunçoso, e colocou uma pilha de papéis na mesa marmorizada.

— Lydia Paz, aparecendo tanto em artigos de fofocas. Que como empreendedor na Vogue eu não pude deixar de notar você.

— Como se não me conhecesse há anos, Alister — aquele sorriso não saia dali, irritava vindo dele — Qual o ponto?

— Contratada, chamada, convocada. Escritora oficial da Teen Vogue. Isso, é claro, se você aceitar.

Uma coisa daquela vindo expressamente da boca de Alister me parecia um tanto quanto suspeito. Franzindo as sobrancelhas peguei os papéis encarando cada mínima letrinha. Era um contrato direto para mim.

Um sorriso involuntária surgiu em meus lábios, e quis por algum momento abraçar ele. Neguei com a cabeça me levantando e indo até o balcão buscar qualquer caneta que fosse.

— Ah por favor me diz que não estou sonhando.

Falei deslizando a caneta no papel e assinando cada espaço para essas assinaturas.

— Não precisou nem se entrevistar. Eu mereço um beijo depois dessa, não é?

— Me contratou pra ganhar um beijo. Você é um nojo, Alister.

Senti um pouco de raiva por dentro sabendo que foi diretamente ele a me contratar, mas eu finalmente iria ter algo que não fosse no escritório independente de jornalismo do senhor Callanghan. 

Suspirei quase que tentando recuperar minha euforia de uma corrida, e segurei as mãos do moreno as apertando com força.

— Obrigada, Silver.

Falei genuinamente, e ele sorriu satisfeito de algum modo. 

— Semana que vem quero você lá.

Do mesmo jeito que andava um delinquente, ele saiu da cafeteria, com as mãos no bolso e fingindo que provavelmente não foi tudo para ficar mais perto do mesmo, mas ainda sim eu não me importava, com uma oportunidade assim. Tudo que desejei a um bom tempo agora podia ser oficial.

Fui quase que saltitando pegar o carro e apertei os olhos de raiva quando dois homens com câmeras esbarraram em mim sem nem se desculpar.

Pensei em gritar um palavrão, mas em segundos uma multidão de garotas e câmeras espalhadas vieram até mim, e acompanhando no meio, um tanto de gel pregado no cabelo.

Me encostei no carro na esperança daquilo passar o mais rápido sem me ver, mas parecia que eu era o seu alvo.

Todos me olharam quando ele tentou ir até mim, se esbarrando nos outros.

— Lydia podemos conversar?

Sua voz saiu preocupada e se eu não estivesse com tanta vontade de sair daquilo não teria puxado ele para meu carro e dirigido até minha casa. E sinceramente, foi a pior coisa que decidi.

WET STAGE - 𝑨𝒍𝒆𝒙 𝑻𝒖𝒓𝒏𝒆𝒓Where stories live. Discover now