Coração Dividido - 1-44

111 17 0
                                    

 Uma manhã tranquila estava começando em Hogwarts. Todos estavam ansiosos com o iminente Torneio Tribruxo, mas ainda se esforçavam para se dedicar aos estudos. Enquanto os alunos se apressavam para suas aulas, Severus Snape percorria os corredores com sua típica presença imponente, sua longa capa preta fluindo atrás dele.

 Um nervosismo incômodo dominava Severus naquela manhã, pois havia recebido uma carta de Dumbledore solicitando um encontro em seu escritório. A incerteza pairava no ar, deixando-o inquieto. Embora soubesse que o encontro provavelmente se relacionava com a missão que havia recebido, as reuniões com o diretor sempre o deixavam apreensivo.

 O gabinete de Albus Dumbledore exalava o suave aroma de livros antigos e era iluminado pelo brilho mágico de velas. Severus adentrou o espaço com uma expressão séria e reverente, saudando o diretor com um respeitoso aceno de cabeça.

 "Severus," Dumbledore começou, seu olhar azul penetrante focado no professor de Poções. "Sente-se, por favor."

 Severus se acomodou em uma das cadeiras diante da escrivaninha de Dumbledore, sua mente repleta de dúvidas sobre a razão por trás daquela reunião.

 Dumbledore o observou por um momento, como se estivesse escolhendo com cuidado as palavras. "Severus, tenho acompanhado de perto sua trajetória aqui em Hogwarts e, recentemente, tomei conhecimento de um desenvolvimento pessoal."

 Severus permaneceu em silêncio, mantendo uma expressão imperturbável. No entanto, por dentro, ele já tinha uma ideia do que se tratava, e uma profunda apreensão começou a se apoderar dele.

 O diretor prosseguiu. "Tenho ciência de que você desenvolveu um relacionamento com Emma Stevens, uma aluna talentosa e dedicada desta escola."

 Severus ficou surpreso. Não esperava que Dumbledore tivesse conhecimento do relacionamento. Ele inspirou profundamente antes de responder. "Diretor... eu imploro, por favor, não a prejudique. O futuro dela é promissor, e ela não merece sofrer as consequências disso. Se for necessário, retire meu emprego, mas poupe-a, por favor."

 Dumbledore sorriu calorosamente. "Não seja tão severo consigo mesmo, Severus," seu olhar estava repleto de compreensão. "Severus, fico feliz em ver que você encontrou alegria e companhia em sua vida. A felicidade é um tesouro raro."

 Os olhos de Severus se arregalaram. "Você não está... zangado?"

 "Claro que não, Severus," Dumbledore respondeu com um sorriso sincero. "Nunca o vi tão bem. Notei que seu humor melhorou consideravelmente, e parece que você tem dormido melhor também. Essa jovem trouxe cores ao seu mundo de uma forma que eu não via desde Lily."

 Severus ficou em silêncio por um momento. Lily. Ele havia deixado de pensar nela, com todo o acontecido entre ele e Emma. Lily se tornara uma memória distante, mas agora, com o comentário de Dumbledore, ele percebeu que havia seguido em frente. E, para sua própria surpresa, ele não pôde deixar de sentir uma certa felicidade por isso.

 "E..." Severus suspirou. "Como o senhor descobriu?"

 Dumbledore sorriu. "Eu sei de tudo que acontece nesse castelo, Severus. Nada passa despercebido pelo meu olhar, eu observava a troca de olhares de vocês, o singelo sorriso que sempre aparecia no seu rosto quando via ela, eu percebi essas coisas."

 Severus balançou a cabeça, incrédulo. E antes que pudesse falar qualquer coisa, Dumbledore o interrompeu.

 "Entretanto," Dumbledore começou, "há algo sobre esse relacionamento que preciso abordar."

 Severus sentia-se cada vez mais tenso. Ele esperava sinceramente que aquela conversa não resultasse em um ultimato.

 Dumbledore avançou com atenção. "Você está ciente de que estamos vivendo tempos sombrios, com a ascensão de Lord Voldemort e suas ameaças cada vez mais audaciosas."

 Severus assentiu, sua mente começando a captar a direção que Dumbledore estava tomando na conversa.

 "Emma Stevens é uma jovem brilhante e promissora," prosseguiu Dumbledore com uma expressão séria. "Ela não apenas se destaca como estudante, mas é também uma pessoa de grande valor para a comunidade escolar. No entanto," ele pausou por um momento, seus olhos estudando os de Severus, "é importante compreender que, caso a relação entre vocês seja descoberta por Voldemort ou por algum de seus seguidores, isso pode representar um perigo significativo para ela."

 Severus assentiu, sua mente absorvendo cuidadosamente as palavras de Dumbledore, como se estivesse avaliando o peso da situação.

 "Eu não estou lhe dando ordens, Severus," Dumbledore disse com firmeza, seus olhos expressando preocupação genuína. "Mas é crucial que você compreenda os riscos envolvidos. Existe uma probabilidade considerável de que, se Voldemort descobrir sobre seu relacionamento, ele poderá utilizar Emma como uma arma contra você."

 Severus lançou um olhar sério a Dumbledore, demonstrando sua compreensão da gravidade da situação. "Entendi, diretor," respondeu ele.

 Dumbledore suspirou profundamente. "É bom ver você feliz, Severus. Porém, há momentos em que tomar a decisão certa pode ser uma tarefa árdua. Reflita bem sobre o que é melhor para Emma e para você."

 "...eu entendo, Albus. Emma é uma mulher incrível, e o que sinto por ela... eu nunca senti por ninguém, nem mesmo por Lilian. É mais do que uma simples paixão, eu a amo," confessou Severus com um suspiro pesado. "Eu não quero que nada aconteça com ela, não quero vê-la se machucar por minha causa... Eu não sei o que fazer, diretor." Suas palavras carregavam um misto de emoção e incerteza.

 Dumbledore balançou a cabeça com empatia. "Severus... vejo que o que vocês compartilham é uma relação pura, sem aproveitar da sua situação como professor, e reconheço a sinceridade desse sentimento. Não estou aqui para lhe dizer o que fazer, mas, às vezes, é necessário considerar o que é melhor para todos. Neste momento, o que é melhor para Emma é a sua segurança." Ele pausou.

 "Portanto, ponderar sobre isso é essencial, especialmente quando sabemos que você está sob constante estudo devido à sua lealdade. Se a relação de Emma com você for descoberta, principalmente por ela ser uma nascida-trouxa..." Ele não precisou completar a frase, pois as implicações eram evidentes.

 Com a última observação, Severus assentiu com a cabeça e se levantou. "Vou refletir sobre isso, diretor." Ele se virou para sair, mas antes que pudesse sair completamente, foi interrompido pela voz de Dumbledore.

 "Severus, há apenas uma última pergunta que gostaria de fazer," solicitou Dumbledore.

 Severus voltou-se novamente para Dumbledore. "Sim, Albus?"

 Dumbledore ponderou cuidadosamente suas palavras antes de prosseguir. "A senhorita Stevens... ela se assemelha bastante a Lily. Poderia ser que você esteja com ela porque vê traços de Lily nela?"

 O coração de Severus pareceu dar um salto quando ouviu a pergunta, e ele respondeu imediatamente, com uma intensidade surpreendente. "Não, claro que não. Emma pode ter algumas semelhanças com Lily, mas não foi isso que me fez me apaixonar por ela. O que sinto por Emma é amor, puro e verdadeiro, diferente do que senti por Lily. Agora eu vejo que o que sentia por Lily não era amor; era obsessão, desespero, porque ela era minha única amiga na época, e eu achava que precisava dela." Severus parecia à beira das lágrimas. "Foi doloroso perder Lily, mas será ainda mais doloroso perder Emma." Suas palavras carregavam uma profunda angústia.

 Assim, Severus virou-se e deixou o gabinete do diretor, sua mente repleta de preocupações e dilemas angustiantes. Sentia-se frágil, incapaz de seguir a lógica inflexível que sempre o guiara, e, acima de tudo, frágil por se permitir ter pensamentos tão egoístas.

Para Sempre Nós - Severus SnapeWhere stories live. Discover now