Páginas de Vulnerabilidade - 1-28

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 Numa noite serena e plácida, Severus e Emma reuniram-se uma vez mais no refúgio oculto que partilhavam, um lugar onde tinham a oportunidade de partilhar momentos de profunda intimidade e honestidade. As velas trêmulas lançavam um brilho suave ao redor, tecendo uma atmosfera aconchegante e particular.

 Os olhos de Severus se fixaram em Emma por um instante, revelando uma complexa mescla de emoções. "Emma," ele começou, sua voz carregada de sentimentos, "existe algo que desejo compartilhar contigo. Uma parte do meu passado que poucos têm conhecimento." Nesse momento, a tensão emocional pairava no ar, enquanto ele preparava-se para desvendar um segredo profundo.

 "Referente ao seu passado?", indagou ela, curiosa.

 Ele concordou com um aceno de cabeça. "Sim... é algo que teve um impacto profundo na minha vida e que lança luz sobre muitos dos meus comportamentos atuais." Seu olhar estava sério, carregado com uma leve nota de melancolia.

 Emma fixou seu olhar nele, observando atentamente a seriedade que transparecia em sua expressão. "Severus, saiba que não é necessário compartilhar se isso lhe causar desconforto," ela expressou com compreensão.

 Ele suspirou, agradecendo a sua preocupação. "Eu entendo, mas acredito que chegou o momento de dividir isso contigo. Desejo que você conheça todos os aspectos de mim." A determinação se misturava com uma leve vulnerabilidade em suas palavras.

 Emma concordou com um gesto de cabeça, transmitindo a ele a segurança necessária para prosseguir.

 "Minha infância foi marcada por desafios," ele começou, sua voz sussurrando carregada de emoção. "Meu pai era uma figura dominadora e violenta, enquanto minha mãe... ela parecia estar presa a ele, incapaz de se libertar. Fui criado em um cenário caótico, onde palavras e atos agressivos eram frequentes."

 Emma escutava atentamente, seu coração apertando de empatia. "Seu pai... ele lhe fazia mal?"

 Ele hesitou brevemente antes de confirmar com um aceno. "Sim... com frequência, ele voltava para casa embriagado. Ele sendo um trouxa, nutria um profundo ressentimento contra os bruxos, e infelizmente, descarregava essa raiva em mim e na minha mãe."

 A ruiva notava os olhos dele ligeiramente úmidos, indícios das memórias que emergiam. Ela apertava com firmeza a mão dele, buscando oferecer conforto. O coração dela doía em sincronia com o dele, especialmente por ela mesma ter enfrentado dificuldades em casa.

 "Obrigada... Bem, minha mãe era uma mulher incrível. Ela sempre fazia o possível por mim, mas... parecia incapaz de se distanciar dele," ele prosseguiu. "Nossas condições financeiras eram limitadas, embora meu pai tivesse recursos para nos proporcionar uma vida melhor. Contudo, ele resistia a gastar mais do que o mínimo conosco."

 Emma percebia a profundidade das palavras dele e como ele estava se abrindo de maneira significativa.

 "Minha infância foi marcada por negligência. Muitas vezes, eu ia dormir com fome, ou em lágrimas..." Ele engoliu em seco, lutando contra as lágrimas. "Não culpo minha mãe por nada disso. Ela não tinha muitas opções. Nunca compreendi completamente o que estava acontecendo, mas parecia que ela estava aprisionada por ele."

 Ela assentiu com compreensão. "Parece ser uma experiência terrível, Severus... Sinto muito que você tenha enfrentado tudo isso."

 Ele esboçou um sorriso suave, apertando levemente a mão dela. "Obrigado, Emma. Bem, eu era uma criança solitária. Minha mãe raramente conversava comigo, então eu passava a maior parte do tempo na rua, sozinho. Até que um dia... eu conheci a Lily. Ela foi minha primeira amiga, a primeira pessoa que demonstrou se importar comigo."

 Emma sorriu, imaginando um jovem Snape animado por ter feito uma amiga. "E isso te deixou feliz?"

 "Sim, fiquei extremamente feliz. Passava o dia inteiro fora com a Lily, só retornava para casa à noite. Foi uma experiência ótima, considerando que em minha casa predominavam brigas e momentos difíceis..." Havia um tom de nostalgia em sua voz.

 "Mas as coisas mudaram quando eu entrei em Hogwarts," ele falou, sua voz assumindo um tom mais sombrio. "Fui selecionado para a Sonserina, enquanto Lily foi para a Grifinória. Nossas amizades se distanciaram e... bem, cometi erros. Coisas das quais me arrependo profundamente até hoje."

 Ele fez uma breve pausa, contendo suas emoções. "Acabei me envolvendo com um grupo de bruxos das trevas, o que me levou por um caminho perigoso. Machuquei as pessoas que eram importantes para mim, incluindo a Lily."

 Emma colocou a mão no ombro dele, transmitindo empatia e apoio.

 "Quando finalmente percebi o que estava acontecendo, já era tarde demais," ele continuou, sua voz tingida de tristeza. "Perdi a amizade da Lily e afundei ainda mais nas trevas. Me perdi completamente e, para piorar as coisas, no mesmo ano em que perdi a Lily, também perdi minha mãe..."

 Seus olhos se arregalaram levemente, e ela sentiu uma umidade nas próprias pálpebras. "O que... o que aconteceu?"

 Ele suspirou pesadamente e, gentilmente, puxou uma mecha do cabelo dela entre os dedos. "Ela faleceu... meu pai acabou tirando a vida dela. Naquele ano, tudo o que eu tinha foi tirado de mim. Perdi minha única amiga, perdi minha mãe, meu pai foi preso. A única coisa que restou foi a casa. Como era meu último ano em Hogwarts e eu já tinha 18 anos, pude viver sozinho."

 "Você viveu sozinho naquela casa? Não foi difícil? Por causa das memórias..." Ela perguntou com preocupação, olhando para ele.

 "No início, foi incrivelmente difícil. Eu mal conseguia suportar estar lá. Mas, com o passar do tempo, acabei me acostumando. Ainda vivo lá até hoje, e não consigo me desfazer da casa. Acho que é por causa das memórias que tenho da minha mãe," ele explicou, com um toque de nostalgia em sua voz.

 Ela assentiu compreensivamente. "Deve ter sido incrivelmente difícil. Eu mal consigo imaginar. Eu... eu não sei se conseguiria lidar com tudo isso."

 "Eu acabei encontrando maneiras de me distrair daquilo tudo. Infelizmente, segui um caminho do qual me arrependo profundamente. Tornei-me alguém... ruim," ele explicou, desviando o olhar para a lareira.

 Ela colocou a mão suavemente no rosto dele, direcionando o olhar dele de volta para ela. "Severus, é compreensível. Poucos seriam capazes de manter uma visão positiva do mundo após passar por tudo isso, mas... ainda há tempo para mudar."

 Ele olhou para Emma com sincera gratidão. "Eu mudei, Emma. Foi uma jornada longa e difícil, mas encontrei um novo propósito, uma nova orientação. Conhecer você, compartilhar esses momentos, me trouxe esperança e a oportunidade de me tornar uma pessoa melhor."

 Emma apertou delicadamente o ombro de Severus, seus olhos transbordando compreensão e afeto. "Severus, você transcende o seu passado. Eu enxergo a pessoa incrível que você é agora, e sou grata por ter compartilhado seu passado comigo. Deve ter sido uma experiência terrível, e quero ser alguém com quem você possa conversar sempre que precisar."

 Ele a olhou, uma mistura de gratidão e alívio refletida em seu olhar. "Obrigado, Emma. Por me ouvir e por estar ao meu lado."

 Os dois se abraçaram, Emma o confortou profundamente, e ele se sentiu em casa nos braços dela. Naquela noite, eles permaneceram juntos, compartilhando suas histórias e fortalecendo os laços que os uniam. Severus sentiu um peso sendo retirado de seus ombros ao revelar uma parte tão profunda de si mesmo para Emma. Por sua vez, ela valorizava ainda mais a pessoa que ele era, enxergando além das adversidades que ele havia enfrentado.

Para Sempre Nós - Severus SnapeWhere stories live. Discover now