Capítulo| 13

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Garzón

— Onde guarda os registros antigos?— pergunto a Patsy Wilson

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— Onde guarda os registros antigos?— pergunto a Patsy Wilson.

Ela é gerente administrativa da Antinori, uma mulher na casa dos cinqüenta anos, e está vestindo uma blusa azul quadriculada que se estica apertada por cima do peito, as casas dos botões repuxadas. Roliça e curvilínea, sempre dá a impressão, como uma stripper envelhecida, de estar prestes a explodir de dentro das roupas.

Está sozinha hoje e borboleteia pela sala, do computador para o fax, para o arquivo localizado no canto. Acabo de lhe entregar um prato de barrinhas de tâmaras e ela come mais uma antes de voltar para a mesa. De vez em quando eu trago um lanche para o pessoal da vinícola — pãezinhos de canela, madeleines com especiarias, bolo amanteigado com sementes de papoula, kuchen de pêra fresca. Gosto de surpreendê-los com comida, mas na verdade trata-se de uma desculpa para vaguear por aqui.

— Registros? — repete Patsy, levantando a vista do computador. Há açúcar de confeiteiro, das barrinhas de tâmaras, polvilhando seu lábio superior. Ela aperta um botão no computador e a impressora que fica ao lado começa a cuspir um documento. — Que tipo de registros?

— Formulários de solicitação de emprego, esse tipo de coisa. Onde é que você guarda os registros de todas as pessoas que trabalharam aqui há, digamos, quinze ou vinte anos? — Ela sorri. O batom vermelho mancha um de seus dentes da frente.

— Meu bem — começa —, foram jogados fora há anos. — Dou de ombros tentando não demonstrar meu desapontamento.

— Tem certeza? — pergunto-lhe. Lendo uma das páginas que saem da impressora, Patsy assente:

— Nós os guardamos durante sete anos, mas depois disso todos são jogados no lixo. — Ela olha para mim. — Por que o interesse súbito?

— Interesse algum —  respondo, dando de ombros outra vez. — Eu só estava me perguntando onde você guardava tanta coisa. Isto daqui parece tão entulhado.

— Quanto a isso, você tem toda a razão. — afirma. Ela volta à página que estava lendo.

Estou prestes a lhe fazer mais uma pergunta mas o telefone toca. Ela ergue os olhos e diz:

— Se você quiser saber mais sobre os registros dos funcionários, pergunte a Astoria ou a Atticus. Eles poderiam lhe informar. — Então, estende o braço para apanhar o telefone.

— Me perguntar o quê? — ouço Atticus dizer e me viro para encontrá-lo de pé, na porta, o ombro encostado no batente. Com o barulho da impressora e o telefone tocando, nem eu nem Patsy o ouvimos entrar. Ele veste calças cor-de-carvão com uma camisa de botão azul-escura, aberta no colarinho, mas o que eu realmente estou vendo é a sua imagem me fodendo por trás, lembrando do quanto gostei e, olhando-o agora, sinto aquele desejo ardente se apossar de mim quando o que realmente desejo fazer é aparentar tanta indiferença e distância quanto ele. Às minhas costas, ouço Patsy falando ao telefone, respondendo a perguntas, nos ignorando.

Falsa SuttomissioneWhere stories live. Discover now