Capítulo| 12

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Garzón

No escritório de registros do condado, aguardo, impaciente, enquanto a mulher da recepção faz uma cópia do atestado de óbito de Margot Rossi

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No escritório de registros do condado, aguardo, impaciente, enquanto a mulher da recepção faz uma cópia do atestado de óbito de Margot Rossi. A mulher transmite confusão: os cabelos grisalhos são um caos de cachinhos curtos e frisados; o vestido é de fazenda verde enrugada com nesgas largas, rodadas; um dos lados da gola está torto. Ela olha para a cópia recém-saída da máquina e, então, balança a cabeça.

— Estamos tendo problemas com a fotocopiadora — me diz. A corrente de ouro que prende seus óculos bamboleiam formando duas imensas argolas brilhosas abaixo das orelhas.

— Não precisa ficar perfeita — aviso. Só preciso ver como a esposa de Atticus morreu, o que me parece estar demorando uma eternidade. Primeiro tive de esperar a tal mulher ajudar um senhor idoso com seus assuntos, então, quando finalmente chegou a minha vez, ela teve dificuldade em localizar o atestado de óbito de Margot e agora que o encontrou, a máquina não está funcionando de maneira apropriada. — Contanto que eu consiga ler, está tudo bem.  —

Relutante, mulher se aproxima de mim com a cópia. Eu já preenchi um formulário, assinei e agora ela pega o dinheiro e o conta, lentamente. Finalmente, me oferece a cópia.

— Obrigada — digo, agarrando a cópia de suas mãos. Me dirijo à porta, passando os olhos pelo atestado. Morte acidental. Traumatismo craniano devido a queda de uma altura de seis metros. Um bando de termos médicos e legais que desconheço. Data da morte.

Piscando, verifico a data outra vez, o coração disparando. Olho fixadamente para o documento, para a data da morte. As palmas de minhas mãos ficam molhadas, a boca, seca. A veia de minha têmpora lateja numa pulsação anormal, rápido, resultando de pânico ou de medo, ou quem sabe dos dois: Margot, esposa de Atticus, morreu uma semana antes de eu ser surrada e abandonada. Saio e sento-me nas escadas à frente do edifício, tento me acalmar, observo alguns carros passarem, uma mulher empurrar um carrinho de bebê pela calçada. As coisas estão calmas por aqui esta manhã, pacíficas, o prédio fresco debaixo da sombra das árvores altas. Dois pássaros, com agradáveis e alvoroçados gorjeios, começam a cantar uma para a outra, cada qual, ao que parece, tentando superar o outro. Olho para o atestado de óbito, o papel treme leventemente em minhas mãos. Ele não me diz tanto quanto quero saber. Ainda preciso de mais.

De repente, tenho uma idéia. Grito para a mulher que empurra o carrinho de bebê. Ela vira a cabeça, olha em volta para ver quem a chama, então pousa os olhos sobre mim.

— Sabe onde fica a biblioteca? — pergunto.

A mulher, metida num vestido disforme, é jovem e pálida. Tem cabelos louros sem volume, que ela agora prende atrás das orelhas. Assente com a cabeça e, ávida, afirma que a biblioteca fica próxima, aponta rua acima enquanto me orienta, movendo o carrinho para a frente. Está querendo bater papo, chega a se oferecer para me mostrar o caminho, mas eu lhe agradeço rapidamente, digo-lhe que não terei dificuldades em encontrá-la e subo a rua. Já na biblioteca, verifico o principal jornal desta região. Margot morreu há mais de quinze anos e a biblioteca guarda os jornais desse período em microfilme. Cada rolo contém um mês. Corro o rolo pertinente pela máquina, passando rapidamente até encontrar o dia em que ela morreu. Tenho um computador em casa e, em comparação, a máquina de microfilme é lenta e desajeitada, um volumoso equipamento de baixa tecnologia. Adianto o rolo, para o dia seguinte, e lá está, na primeira página, a história de sua morte. Leio o artigo: "Margot Rossi, 25 anos, nora do proeminente vinicultor Antinori Sr., morreu ontem devido a uma queda acidental de uma passarela localizada dentro da Vinícola Antinori. Ao que parece, escorregou na plataforma e passou por debaixo do corrimão. Morreu instantaneamente, batendo com a cabeça no concreto... Testemunhando o acidente, também presente na passarela, seu marido Atticus Antinori Jr..." Passo os olhos pelo artigo. Margot, diz ele, também vinha de uma proeminente família de Florença que cultivava e vendia uvas para vinícolas locais. Há uma foto da vinícola, uma das passarelas como era àquela época. Imprimo uma cópia do artigo, retorno o microfilme e saio.

Falsa SuttomissioneWhere stories live. Discover now