O grupo continua repassando os planos para o ataque ao Tribunal, até que todos os detalhes sejam esclarecidos. Depois do discurso encerrado, os bruxos se dispersam pelo pátio, mas Freya, discretamente, retira-se indo para fora do mosteiro, rumando para o mesmo lugar na floresta que veio nos últimos dias treinando o seu controle de magia.


Ela para em pé em meio as árvores e apenas aspira o cheiro da mata cerrando os olhos para sentir a natureza ao seu redor. Fechando os punhos, a bruxa evoca a magia negra de dentro de si sentindo seus pelos eriçarem ao toque do vento se formando a sua volta.


Mesmo com os olhos fechados, Freya consegue perceber a brisa se expandindo por entre as árvores fazendo as folhas caírem dos galhos e se espalharem pelo chão. As folhagens começam a levitar e rodopiar em espirais enquanto ela tenta mantê-las sob controle.


Freya aguça sua audição ao escutar ao longe o estalar de gravetos no chão sob os passos de alguém que se aproximava, mas ela continua com os olhos fechados tentando se concentrar em sua magia. De repente, o vento que rodopiava por entre as árvores começa a ficar mais intenso e a se desgovernar soprando para todos os lados.


A bruxa estava começando a sentir seus olhos arderem e lacrimejarem quando uma mão toca, levemente, seu ombro. Ela permanece impassível, na mesma posição, ainda apertando seus punhos até sentir suas unhas marcarem sua pele.


- Eu percebi você se aproximando - sussurra ela.


- Continue se concentrando em sua magia - diz Adrian ao pé do ouvido de Freya e apoiando a outra mão no ombro dela - não deixe que eu te distraia.


- Na verdade, você é meu ponto de equilíbrio - desabafa ela sentindo um arrepio percorrer todo o seu corpo fazendo seus pelos se eriçarem ainda mais.


- Você consegue - incentiva o cavaleiro massageando os ombros dela.


Freya suaviza seus punhos abrindo seus dedos e levantando seus antebraços com as mãos espalmadas para frente. Ela movimenta suas mãos em círculos para reorganizar o vento em espirais novamente fazendo-o, aos poucos, esmorecer e se dissipar. Com isso as folhas que levitavam, caem vagarosamente até pousarem, suavemente, na terra.


A bruxa abre os olhos respirando fundo e desaba os braços na lateral do corpo. Adrian a faz virar-se para ele.


- Você está bem? - indaga ele encarando-a preocupado.


- Sim, com sua ajuda consegui controlar a minha magia mais rápido do que nas tentativas que fiz anteriormente.


- Você acha que está preparada para enfrentar o Tribunal outra vez?


- Não podemos mais perder tempo, enquanto ficamos aqui esperando o momento mais apropriado, eles continuam matando pessoas inocentes.


- Eu não quero que você se machuque - diz Adrian colocando uma mão no rosto dela -, eu não quero te perder de novo.


- Você não vai - assegura Freya espalmando as mãos no peito dele enquanto o fitava nos olhos.


- Eu sei que a forma como nos conhecemos não foi nada adequada, na verdade foi bem complicada - desabafa ele encarando-a de volta -, mas você foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida. - Ele aproxima-se mais dela. - Você me salvou de mim mesmo.


- Você que, literalmente, me salvou da morte, apesar de antes ter me levado até ela - Freya dá um meio sorriso -, mas se não fosse assim, talvez nunca teríamos nos conhecido.


- Você se arrepende de ter me conhecido? - pergunta ele encostando seu nariz no dela.


Freya roça seus lábios nos dele olhando-o nos olhos em resposta. Adrian a enlaça pela cintura puxando-a mais para perto colando seu corpo ao dela. Ele desliza a mão que estava no rosto de Freya até a nuca entrelaçando seus dedos por entre os cabelos dela.


Eles se beijam com sofreguidão, ao qual o cavaleiro aperta seus lábios contra os dela deixando escapar um gemido de sua garganta enquanto Freya solta um suspiro profundo ao sentir a língua dele invadir sua boca.



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Castelo Forte dos Espinhos



A comitiva do Rei chega ao Castelo Forte dos Espinhos ao entardecer com o pôr-do-sol os recepcionando de volta ao lar.


Henrique sem falar com ninguém vai direto para o seu quarto descansar.


Dimitri, após deixar seu cavalo no estábulo, vai para o seu quarto encontrando Charlotte dormindo placidamente na cama de barriga para cima e com um livro aberto repousando em seu colo. Ele aproxima-se e agacha-se perto do colchão ao lado do rosto dela. Suavemente, o cavaleiro acaricia os cabelos loiros escuros da esposa, que lentamente abre os olhos e sorri ao vê-lo à sua frente.


- Você voltou - diz ela levantando o tronco e sentando-se na cama.


- Sim. - Ele senta-se ao lado dela no colchão de pena.


Charlote deixa o livro que segurava de lado e joga-se nos braços de Dimitri enlaçando-o pelo pescoço.


- Fiquei com medo de você não voltar.


- Mas agora estou aqui - surpreende-se ele, que meio sem jeito a abraça com um braço enquanto usa o outro como apoio na cama para não cair para trás.


- Você não está ferido, não é? - indaga ela afastando-se um pouco e examinando-o da cabeça aos pés.


- Não - diz ele rindo -, mas aconteceram muitas coisas que preciso te contar.


- O que?


- Uma delas é que Adrian me contou que é seu irmão e que foi você quem descobriu isso por causa do anel que ele usa.


- Sim, aquele anel era do meu pai e fora roubado por uma serva de nossa casa. Serva essa que era mãe de Adrian e que meu pai a expulsara quando ficou sabendo que ela estava esperando um filho dele.


- Por que não me contou essa história?


- Porque essa história pertence ao Adrian e também por que saber de tudo me faz perceber o quanto, realmente, o meu pai é um ser desprezível.


- Entendo.


- O que mais tem para me contar?


Dimitri conta a ela todos os acontecimentos que sucederam na viagem ao mosteiro. Eles continuam conversando noite adentro, até ambos serem tomados pelo sono e dormirem abraçados.

Caça às Bruxas (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now