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Freya acorda sentindo sua cabeça latejar com uma dor aguda no fundo de seus olhos e com os pensamentos confusos.


- O que aconteceu? - indaga ela para si mesma tentando concatenar suas ideias.


Ela senta-se no colchão franzindo o cenho devido a dor na cabeça. Aos poucos, suas lembranças vão se organizando em sua mente. Seus olhos percorrem o quarto e pousam na caneca, que ficara em cima da mesa de leitura.


- Adrian - balbucia ela recordando-se que desmaiara logo depois de tomar o chá que o cavaleiro lhe oferecera.


Freya levanta-se e encaminha-se até a mesa pegando a caneca na mão e cheirando o seu interior.


- Ele me dopou - constata ela aborrecida -, mas por que ele faria isso? A não ser que... - uma ideia passa por sua mente.


Freya ao perceber o que poderia ter acontecido, corre até a porta abrindo-a com força, mas ao tentar sair do quarto, seu corpo esbarra de encontro a barreira invisível fazendo-a recuar alguns passos.


- Mas o que é isso? - vocifera ela espantada.


Ela tenta passar pela barreira mais uma vez, porém sem sucesso.


- Maldição - pragueja a bruxa jogando a caneca, que ainda estava em sua mão, contra a barreira, fazendo-a espatifar em vários pedaços ao atingir o chão.


Diana, que escutara o barulho de algo se quebrando, vai até o quarto da sobrinha, parando em frente à porta aberta. Freya encara a tia enraivecida.


- Você sabia disso? - pergunta Freya entre dentes.


- Sim - responde Diana encarando a outra de volta.


- Como pôde concordar com isso? - questiona Freya indo em direção a tia, mas esbarrando na barreira novamente.


- É para o seu bem, Freya.


- Quero falar com o Rei - exige a outra berrando.


- Não precisa gritar - diz Henrique aproximando-se e postando-se ao lado de Diana -, eu já estou aqui.


- Desfaça a magia que usou para me prender aqui.


- Eu não vou desfazer, você vai ficar presa aqui até a próxima fase da lua.


- Eu te odeio - murmura Freya fitando o Rei com os olhos faiscando de fúria.


- Pelo menos você está viva para me odiar.


Henrique afasta-se do quarto em silêncio e Diana o acompanha. Freya esmurra a barreira invisível.


- Maldição - pragueja ela novamente, olhando para a sua mão, que ficara com marcas avermelhadas devido ao contato com a barreira.


Ela agacha-se no chão e começa a recolher os pedaços da caneca enquanto resmungava baixinho palavras inaudíveis, até que um dos cacos faz um corte na ponta de seu polegar saindo um filete de sangue. Freya, imediatamente, larga os cacos da caneca espalhando-os pelo chão de novo e levanta-se andando de um lado para o outro do quarto.


- Eu preciso dar um jeito de sair daqui.


Ela aproxima-se do limiar da porta espalmando suas mãos, vagarosamente, pela barreira empurrando-a na tentativa de transpassá-la. No entanto, sua pele começa a arder e queimar ao tocar a magia, repelindo suas mãos. Teimosamente, Freya tenta mais uma vez, mantendo as mãos na barreira apesar de sentir a ardência da queimadura em sua pele.


Ao encostar seu polegar ferido e o sangue entrar em contato com a magia, Freya percebe que uma pequena fenda se abre na barreira. Ela retira suas mãos fitando o corte em seu dedo, então pega um dos cacos da caneca no chão fazendo um corte na palma de cada mão e as espalmando novamente na barreira deixando o sangue escorrer pelos seus braços e pingar no assoalho de madeira.


Aos poucos, Freya vai afundando as mãos sentindo a fenda abrir-se cada vez mais, até que a barreira invisível se rompe por completo. Ela pega seus pertences guardados em sacos de pano junto com seu arco e flecha, que ficaram a um canto do cômodo, e corre para o pátio montando no primeiro cavalo que vê na trincheira, depois sai galopando a toda velocidade rumo a Floresta da Lua.



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No momento em que a barreira é quebrada, Henrique, que havia ido para o seu quarto dormir, sente seu corpo estremecer e acorda assustado sentando-se na cama de um salto. Ele levanta-se saindo do cômodo e indo, apressadamente, até o aposento de Freya. Ao chegar perto da porta, que estava escancarada, o Rei vê os cacos da caneca espalhados pelo chão e poças de sangue ao redor dos mesmos. Ao entrar no local, percebe que este estava vazio.


- Ela conseguiu quebrar a barreira - diz ele para si mesmo incrédulo -, o sangue dela é mais forte do que eu pensava.


Henrique dirige-se até o quarto onde Diana encontrava-se e bate à porta com força.


- O que está acontecendo? - indaga ela ao abrir a porta e se deparar com Henrique parado a sua frente.


- Freya conseguiu fugir.


- Como?


- Ela usou o próprio sangue para romper a barreira.


- Pensei que sua magia fosse forte.


- Minha magia está enfraquecendo com o tempo - explica ele -, também pensei que fosse forte o suficiente para segurar Freya no quarto, mas, pelo visto, eu me enganei.


- Então, agora não há mais nada que possamos fazer.


- Eu vou atrás dela para trazê-la de volta.


- Não adianta mais, Henrique - discorda Diana -, agora a vida dela está nas mãos do destino.


- Essa determinação dela de fazer apenas o que quer veio da Isabel, me lembro de ela ser tão teimosa quanto Freya.


- Eu sei, tentei, várias vezes, persuadir minha irmã a não se envolver com você, mas minhas tentativas foram todas em vão.


Henrique abre a boca para responder, mas desiste e a fecha novamente. Diana, aproveitando o silêncio do Rei, fecha a porta do quarto diante do rosto dele.

Caça às Bruxas (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now