Tudo se foi: 32

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O dia se seguia monótono por aquele hospital. Viam pessoas chegarem e saírem e permaneciam no mesmo lugar, com o coração apertado em uma mão. Alessandro continuava lá, parecia não pretender ir embora. Seu olhar por vezes cruzava com o de Simone, a mulher gritava algo em seus olhos e a mão sempre estava acariciando o ventre, logo ela fugiria de seus olhos e tentava fingir que ele não estava no mesmo ambiente. Fernanda e Eduardo insistiam que ela fosse para casa dormir algumas horas, por si e pela bebê, mas a morena era relutante e irredutível. Eduardo saiu junto a Fernanda para buscar algo para comerem e Simone quis ficar no banco de espera.

A morena lutava para permanecer alerta e acordada, queria ser a primeira a saber de seus filhos. Com mãos protetoras em seu ventre, os dedos levemente apertando o tecido da roupa quando uma fisgada eletrizante percorria o pé de sua barriga, ela mantinha-se ereta na cadeira. Aos poucos a escuridão tomava seus olhos, as pálpebras pesavam fechando e abrindo devagar. Alessandro aos poucos sumia de sua visão e não percebeu que ele se sentou ao seu lado e repousou sua cabeça no ombro, para que não pendesse para os lados como estava fazendo. Ela quis relutar contra a ajuda, mas não conseguiu. Sentir seu perfume e seu calor acalmaram os chutes inquietos de Catarina ao mesmo tempo que tranquilizou seu coração perturbado. Odiava admitir o quanto ainda o amava e o queria perto.

- Posso me virar sozinha. - Afirmou, rouca, quando ele passou um braço por seus ombros, a mantendo perto.

- Eu sei que pode, mas queria te ajudar... Já, já ou caia da cadeira ou batia a cabeça na parede - Justificou, a mão quente fazia um suave carinho no braço da Tebet.

- E você não precisa se preocupar com isso, não é?! - Se afastou, sentindo-se confusa com o contato, queria continuar firme.

- Eu sempre vou me preocupar com você... - Suspirou e olhou para sua barriga - E com ela!

- Agora se preocupa? Você não se preocupou quando me traiu, não o fez quando trocou socos com o meu filho, pouco se importou ao me falar tantas besteiras... - Vomitou seu rancor ardente no peito.

- Me perdoa, Simone... Eu não deveria ter brigado com o Fábio, ele tinha razão em estar indignado comigo. Tudo que te disse foi puro ressentimento e eu sou um imbecil por isso - Pegou nas mãos dela que se recolheram para longe de seu toque - E te trair... eu jamais teria feito isso sóbrio, jamais! Errei e te perdi e isso é meu pior castigo, é um pesadelo do qual nunca acordo... Só dói todo dia não te ter - Segurou as lágrimas.

- E não... Mmmm - Se agarrou ao braço dele e se curvou sutilmente.

- O que foi? - Segurou os braços dela e seu corpo ficou tenso.

- Nada... só... só é Catarina agitada - Omitiu sobre a dor crescente.

- Vou chamar um médico! - Quis se levantar, mas ela colocou uma mão em sua perna o detendo.

- Não precisa... já vai passar - Soltou uma longa respiração.

O Molon respeitou o que ela queria e se manteve ao lado. Fazia movimentos circulares em suas costas e lhe ofereceu a mão para que ela pudesse transferir a pressão ali. A mulher respirou fundo e se recostou na parede. A dor suavizou e Catarina pareceu mexer menos quando a mão tímida de Alessandro passeou por sua barriga elevada. Seu coração mexia com o olhar cheio de ternura que ele dedicava a ela. Seu orgulho não a deixou se render e quando Fernanda e Eduardo retornaram voltou a se distanciar do reitor que pareceu um pássaro ferido jogado ao canto da sala. Aquilo doeu em seu peito, mas não se dobrou, jamais voltaria a fazê-lo... Ao menos era o que pensava.

O reflexo em seus olhosWhere stories live. Discover now