Incredulidade: 15

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Alessandro seguia para a delegacia, estava petrificado durante todo aquele caminho, a cabeça baixa e os olhos fitando os pés. Seu coração quase não batia, a mente apenas repassava, como uma tortura, o carro danificado de Simone ao meio da pista. Ainda conseguia ver os estilhaços ensanguentados ao chão. Era um tiro ao seu peito, um dano irreparável a sua alma, não poder correr até onde quer que tenham levado ela. Tentara, em um tom mais calmo, descobrir o que aconteceu e se ela estava bem, mas recebera apenas a ordem fria de se manter em silêncio. Não entendia o motivo de ser detido, mas não teria seus questionamentos respondidos. Quando chegou à delegacia, levado como um criminoso, reivindicou o direito à ligação e conseguiu contatar Paulo. Suplicou internamente que ele chegasse logo, que o tirasse daquela situação, para que enfim buscasse sua amada e descobrisse como ela estava. Sentia-se morrer a cada segundo passado longe dela e sem saber de seu estado.

- Sabe por que está aqui, senhor? - O delegado fechou a porta de sua sala, um escrivão digitando a cada frase, e sentou-se ao outro lado da mesa.

- Só fizeram me algemar e trazer aqui... Então, delegado, respondendo sua pergunta: Não, não sei - Respirava fundo, tentando manter seu tom, e postura, neutros.

- Você parecia conhecer a vítima do acidente e meus agentes disseram que antes de ser levada por uma ambulância a vítima relatou ter um homem ali - Começou - Pode ter sido confusão pela batida, mas acreditamos que de fato não foi um simples acidente... E o senhor pareceu familiarizado com a vítima.

- Quem não conhece Simone Tebet?! Agora por saber quem ela é sou culpado de alguma coisa? - Seus músculos ficaram tensos e os pulsos forçaram as algemas.

- Meus agentes acharam suspeita sua postura e palavras - Deu de ombros, indiferente.

- Você sabe quem sou por acaso?! - Sentia a indignação subir-lhe a cabeça.

- Um possível suspeito - Ironizou, relaxando em sua cadeira.

- Olha aqui, exijo ser liberado! Não tenho nada a ver com esse acidente - Sentia todo o corpo estremecer em preocupação pela mulher que não lhe saia da mente.

- Veremos quando seu advogado chegar - Inclinou à mesa, descansando os cotovelos ali - Por hora, preciso saber onde estava e o que estava fazendo no momento do acidente.

- Em minha casa. Deixei a universidade e fui direto para minha casa - Sua perna balançava irriquieta.

- Alguém que possa comprovar sua informação?

Alessandro prosseguia respondendo as perguntas com a mente o levando todo o tempo a dúvida angustiante, desesperadora, sobre o estado de sua amada. Sentiria que logo não suportaria esperar, que seria preso por desacato ou levado a urgência por um ataque cardíaco. Seu coração estava quase por rasgar o peito com a força e velocidade na qual batia. O suor descia-lhe a testa, o nervosismo, ansiedade, aflição estavam consumindo cada pedaço de sua alma, cada centímetro de sua pele. Precisava ir embora dali. Seu único objetivo, a única coisa que lhe importava no momento, era ir até Simone, confirmar que estava bem e segurar sua mão para jamais soltar.

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Edgar chegou a delegacia esbravejando fúria, sua voz soando como um rugir feroz. O rosto do homem estava vermelho, fazendo sua barba branca destacar mais acentuada, os braços balançavam para cima euforicamente. Exigia que soltassem seu filho, vociferou sua inocência, reclamou a ação de o prender sem as mínimas provas. Paulo o segurou e tentou acalmar, antes que o prisioneiro fosse ele, enquanto o advogado pedia para ver o cliente e conversar com o delegado civilizadamente. Edgar queria ir junto, retirar seu filho do que ele via como uma injustiça, mas o advogado pediu que ficasse calado e esperando. Paulo precisou puxar o homem mais velho para fora da delegacia, sob protestos e resistência do mesmo.

O reflexo em seus olhosWhere stories live. Discover now