Queria não te amar: 24

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Em um quarto distante das luzes do dia, passando dias corridos como se não fossem nada, cortinas afugentavam o iluminado da manhã, um pôr do sol quente ao entardecer e uma majestosa lua pela noite. O reitor estava largado em sua cama como um corpo oco sem vida, a alma lhe saia ferida dos olhos vermelhos por um choro incessante, os cabelos bagunçados nos lençóis amarrotados e mãos apertando o local onde outrora uma bela ministra adormecia serena entre seus braços agora vazios.

Passou uma mão fria no rosto quando lágrimas ainda saíram de seus olhos ao recordar o luminoso sorriso que o recebia ao acordar e a respiração quente em seu pescoço quando essa se mexia em seu peito que um dia fora o refúgio para a mulher que amava e hoje não passava de um alvo para flechas embebidas em uma culpa dilacerante e uma mágoa venenosa. Se levantou com esforço, e quase sem vontade, completamente cabisbaixo em sua postura corcunda e seguiu até a porta ao ouvir a campainha.

- Quem será?! – Resmungou entre olheiras fundas em torno dos olhos e desânimo em sua voz.

Quando abriu a porta, soltando uma lufada exausta de ar, fechou os olhos por alguns segundos e no âmago de sua alma sentiu o amargor profuso daquela mulher ser o lembrete de um erro grotesco que poderia ter sido evitado se tão somente ele não tivesse bebido mais do que suportava. Por um momento pensou em fechar a porta na cara de sua ex-esposa e voltar ao abrigo tortuoso e escuro de seu quarto, porém a mesma pareceu ler isso em seus olhos distantes e adentrou sem um convite a casa. Ela observou o lugar que parecia não saber o que é uma faxina há muito tempo e balançou a cabeça desapontada.

- Que bagunça é essa?! Sua mãe surtaria vendo isso.

- Ótimo. Ela não está aqui e você poderia também não estar.

- Quanto mau humor!

- E imagina pelo quê...

Logo ele fechou a porta com desleixo e a viu o fitar de cima a baixo julgando sua vestimenta pouco apresentável. Estava em uma camisa básica branca e uma calça moletom cinza, aquela virara sua farda praticamente aos longos dos tristes dias que passava. A casa estava escura pelas cortinas em torno das janelas fechadas e quando Laura as abriu o homem protegeu os olhos da luz e caminhou até o sofá para se jogar derrotado lá.

- O que faz aqui, Laura?! – Alessandro questionou com um braço cobrindo os olhos e a cabeça descansada nas costas do sofá.

- Esqueceu que é reitor de uma universidade e precisa trabalhar?! O recesso está há um fio de terminar e você não pisou um dia lá antes que as aulas retornem – Colocou as mãos na cintura e ficou em frente ao mesmo.

- Do que isso importa? Podem me substituir se quiserem – Deu de ombros e recebeu um riso sarcástico.

- Vai agir como um adolescente desiludido do amor?! Um término não é o fim do mundo, Alessandro – Ela se afastou parecendo ir até a cozinha – Se porte como um adulto e faça suas obrigações como se deve.

- Agir como a noite que dormimos juntos? – Desprezou a si mesmo e curvou-se um pouco trazendo os cotovelos ao joelho – Estou sendo um inconsequente desde esse dia, não faz diferença – Passou uma mão pelo cabelo e sentiu um nó em sua garganta.

- Quanto drama! Pare de se afundar em autopiedade e vá trabalhar, talvez isso te distraia – Trouxe uma caneca fumegante até ele e ofereceu – Beba isso, acorde pra vida e faça seu trabalho... O mundo não vai parar porque você está sofrendo por aquela mulher tão...

- Laura, se disser uma só palavra contra Simone eu te expulso daqui – Advertiu pegando a caneca e se levantando.

- Ok – Revirou os olhos e levantou as mãos para o ar.

O reflexo em seus olhosWhere stories live. Discover now