Vamos conversar: 13

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A manhã iniciava amena, o sol lá fora voltando a iluminar onde já não se enxergava pela noite e o céu claro, e amplo, acima dos que iam e vinham seguindo suas próprias e monótonas rotinas como um sistema pré programado, uma roda a girar infinitamente em seu mesmo eixo.

Alessandro despertou com um sorriso já abrilhantando as feições, buscou Simone tateando a cama com a mão, querendo a trazer para perto de si e abraçá-la para confirmar que a noite passada não fora um sonho. E quando sentiu o lugar frio, vazio, outra vez restando apenas seu aroma inebriante para o matar de saudades. O homem se sentou na cama, o lençol cobrindo-o até a cintura, abriu os olhos mais rápidos e esfregou querendo afastar o sono para buscar a morena. A encontrou, não sabia se para sua alegria ou decepção, ensacando a blusa em sua saia lápis de maneira tão silenciosa e sutil que parecia querer deixar aquele quarto furtivamente. Não era sua intenção se despedir, parecia agora buscar os saltos e quase saiu do quarto sem sequer olhar para trás não fosse o próprio saltando da cama em sua calça moletom cinza, sem camisa, a parando em seu caminho e lhe puxando para si. As mãos dela pararam em seu peito, os saltos caíram ao chão em um baque surdo, e seus olhos se encontraram em uma confusão de sensações.

- Você acordou? - Tentou sorrir, disfarçando sua ansiedade, e limpou a garganta quando sentiu um braço dele abraçando sua cintura.

- Simone... Você iria sair sem se despedir, não é? - Passou a língua pelo lábio ressecado, o coração já partindo com o olhar dela culposo.

- Não me entenda mal - Começou, não esperando ter aquela conversa.

- Já o fiz - Sua mão livre acariciou o rosto dela, sentindo-se magoado, querendo gravar a sensação de sua pele antes de se despedir - Se quer ir a porta está aí, não precisava sair escondida - A largou, e indicou a porta do quarto.

- Alessandro, ontem eu deixei que a emoção falasse - Seu corpo parecia estremecer por dentro com o olhar ferido dedicado a ela - Isso foi...

- Um erro? É isso que vai dizer, claro - Passou as mãos pelos cabelos desgrenhados e sorriu com incredulidade - O que eu sou para você? Um brinquedo pra te satisfazer quando sente tesão e seu marido não comparece?

- Tenha cuidado com suas palavras - Apontou um dedo para ele, os olhos profundamente amargos - Eu jamais te usaria dessa forma, jamais.

- Não é o que está fazendo parecer. E eu devo ter cuidado com minhas palavras, mas com meu coração você não parece se esforçar nada para ter cuidado - Engoliu sua vontade de chorar, sentia-se sem dignidade - Vai, volta para o lapidar de sua preciosa imagem - As veias saltavam em seu pescoço enquanto tentava manter seu tom baixo.

- Eu não quero te magoar - Tentava se aproximar enquanto ele recuava - Eu não mereço seus sentimentos, não sou quem procura... Como você mesmo disse não sou a pessoa certa - Seus olhos já brilhavam em lágrimas.

- Meu Deus! Eu te amo, Simone, e quero tentar o que for com você - Sua voz se elevou, a puxou outra vez para si, ambos quase arfaram com o contato brusco - É você quem quero, são seus sentimentos o que me importa aqui e só preciso que seja recíproca. Diz o que sente por mim, por favor - Seus olhos afogaram nos dela que parecia tremer entre seus braços.

- Eu não posso... - A voz era falha, as pernas quase a derrubava, ouvir todas as palavras que ele lhe dissera a tirou do eixo.

- Se não vai lutar por nós, então me deixe em paz. Volte para o seu marido e sua vida perfeita e deixe que eu me cure do que sinto - A soltou outra vez, o coração se rasgando - Se passar por aquela porta eu vou entender que não sente nada mais que uma atração, que realmente não quer nada e nunca mais voltarei a te procurar... Assim como peço que também não me procure.

O reflexo em seus olhosWhere stories live. Discover now