Equívocos:10

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O dia na universidade iniciava com certa comoção. Alessandro chegara mais cedo, recebendo uma ligação de Paulo sobre uma frase que fora escrita no quadro branco da sala que daria suas aulas naquele dia, seu tom quase sombrio preocupou o reitor. Quando encontrou com seu amigo na sala, o mesmo estava de braços cruzados e uma carranca ao rosto normalmente simpático, seus olhos seguiram para onde o mesmo estava olhando e seu coração pareceu parar por frações de segundo. Seus olhos se espantaram e seu corpo estremeceu.

- Quando cheguei isso já estava aqui - Buscou um apagador - Quem escreveu isso o fez no finalzinho da noite de ontem ou entrou aqui quando ninguém estava - Refletiu preocupado.

- Eu vou achar o responsável por isso - Uma mão passou pelo cabelo nervosamente - É inadmissível uma postura indisciplinar dessas. Essas palavras são um completo desrespeito, um ataque - Parecia perder-se em preocupação e raiva.

- Vamos procurar nas câmeras, deve ter algo... Um fantasma não foi, alguém precisou entrar e sair daqui - Paulo começara a apagar a frase quando Laura adentrou batendo palmas desdenhosas.

- Se a ministra procurava perder o pouco de respeito que tinha conseguiu com excelência - Leu a frase que Paulo apagava - "De palestrante a puta: Simone Tebet".

- Pare de repetir essa porcaria - Apontou para a frase - Laura... Não me diga que isso foi você - Alessandro desconfiou.

- Olha aqui, eu posso até desgostar dessa mulher, mas nunca faria uma palhaçada dessas - Se defendeu indignada - O que eu quiser falar a procuro para isso, garanto - Cruzou seus braços.

- Espero que esteja dizendo a verdade mesmo - Sentiu um superficial alívio quando a frase sumiu.

- Com licença, mas não sou eu que estou enganando meu marido estando com você. A mentirosa aqui é ela - Se ofendeu com a desconfiança do homem - Cuidado para ela não fazer o mesmo com você.

- Laura, por favor, não é o momento - Paulo tentou intervir.

- Depois veja o que está sendo dito nas redes, Alê. Sua amante está com a dignidade no lixo - Laura destilou seu veneno e saiu da sala.

- Ótimo! Por que não estão me ofendendo também? Só ela está "errada" aqui? - O homem sentiu-se furioso com o que estava acontecendo - Se eu descubro quem fez isso.

- Alessandro, vá com calma. Precisamos usar a razão aqui - Paulo advertiu.

- Razão?! Estão atacando a Simone e eu tenho que ficar parado? - Bateu no quadro.

- Vocês estão tendo um caso, ela é uma pessoa pública, seria difícil que isso não repercutisse... E infelizmente, mesmo injusto, no mundo que vivemos a mulher sempre é a mais julgada em uma situação dessas - Lamentou - Olha, vamos descobrir a pessoa ridícula que fez isso.

- E o que faço com os que estão escondidos pelas redes? - Pareceu angustiado com a situação.

- Processar, não tem mais o que fazer - Deu de ombros penalizado - Vamos conversar mais tarde, você tem suas atividades e eu tenho aulas.

- Obrigado por ter avisado, Paulo - Abraçou seu amigo - Mais tarde conversamos mais sobre isso.

O homem caminhou até sua sala absorto em ansiedade e aflição pela repercussão que o caso dele com a Tebet estava tomando. Queria a proteger daqueles ataques, evitar as ofensas, mas estava imponente. As mãos atadas pelas circunstâncias que se encontravam. Simone não queria um relacionamento que pudessem assumir, não se divorciaria, e isso era um soco em seu estômago. Seus sentimentos por ela eram fortes e verdadeiros, abriu seu coração e ela o descartou sem se importar. Agora tinha de ver a mulher ser bombardeada de todos os lados e não poderia sequer a defender como gostaria. Tinha de baixar sua cabeça e aceitar o que era dito, ou vociferar para apenas ser ignorado, sua mente estava bagunçada e pesava. Desejava resolver aquilo e a única forma de o fazer seria abrir mão da mulher que o tinha nas mãos, que pegara seu coração sem pedir, a própria o deixava nessa escolha. Ele logo sufocaria com tal pensamento e sua alma deixaria seu corpo ao cogitar isso.

O reflexo em seus olhosWhere stories live. Discover now