Capitulo 5

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Lady Anastasia desceu agilmente da carruagem com a ajuda de um lacaio. Ao olhá-la, Christian notou uma peculiar sensação no peito, uma profunda palpitação de prazer. Finalmente tinha chegado. Olhou-a com deleite. Estava impecável. Levava as mãos enluvadas e o sedoso cabelo castanho escuro lhe resplandecia sob uma sombrinha provida de um vaporoso véu que lhe cobria o rosto. Christian teve o impulso de desarrumar seu recatado aspecto, de lhe afundar as mãos no cabelo e lhe desabotoar a fileira de botões que levava no pescoço de seu vestido cor chocolate.

«Outro vestido marrom», pensou Christian franzindo o cenho. Comprovava que ainda não tinha deixado o luto, que se vestia com aquelas roupas tão austeros, o indigno. Jamais tinha conhecido a nenhuma mulher que tivesse levado voluntariamente luto durante tanto tempo. Sua própria mãe, que sem dúvida tinha amado a seu pai, não tinha vacilado em tirar as sufocantes roupas de luto ao cabo de um ano, e Christian não a tinha culpado nem por um instante. Uma mulher não enterrava todas suas necessidades e instintos junto com seu marido, por muito que a sociedade pretendesse o contrário.

As viúvas excessivamente devotas eram muito admiradas e as punham em um pedestal para dar exemplo às demais mulheres. Não obstante, Christian suspeitava que lady Anastasia não seguia levando luto porque fosse bem visto ou porque desejasse que a admirassem. Lamentava sinceramente a morte de seu marido. Christian se perguntou que classe de homem tinha inspirado um vínculo tão apaixonado. Lorde George Hyde tinha sido um aristocrata, disso não havia dúvida. Como Anastasia, alguém bem educado e honorável.
«Alguém completamente distinto a ele», pensou Christian com tristeza.

Uma faxineira e uma menina desceram pelas escadas móveis que tinham colocado ante a porta da carruagem, e Christian se fixou na menina. Ao olhá-la, não pôde evitar sorrir. Lisa era uma miniatura idêntica a sua mãe, com as mesmas feições formosas e compridos cabelos castanhos, adornados por um laço azul. Lisa parecia um pouco nervosa e espremia entre suas mãozinhas algo que resplandecia como jóias, enquanto contemplava o esplendor da casa e os jardins.

Christian pensou que talvez deveria ficar na casa e receber lady Anastasia no salão, ou inclusive no saguão, em lugar de sair a seu encontro. «Que diabos!», pensou, carrancudo, e desceu as escadas a grandes pernadas, decidindo que se desse um passo em falso, lady Anastasia não demoraria em indicar-lhe. Ele se inclinou e a estudou. Estava tensa e pálida, como se tivesse ficado varias noites sem dormir, e Christian supôs de imediato que Os Hyde deviam-na ter feito passar um inferno.

Aproximou-se enquanto ela estava dando instruções aos lacaios que descarregavam os baús e as malas. Levantou a asa do chapéu para olhar Christian e esboçou um sorriso.

—Bom dia, senhor Grey.

—Foi muito ruim? - Perguntou amavelmente. —Não conseguiram convencê-la que sou a encarnação do diabo?

—Teriam preferido que trabalhasse mesmo para o diabo - disse ela, e se pôs a rir.

—Tentarei não corrompê-la até o ponto de deixá-la irreconhecível, minha senhora.

Anastasia pôs as mãos no diminuto ombro de sua filha e a empurrou com suavidade. Seu orgulho de mãe foi patente quando falou.

—Esta é minha filha Lisa.

Christian se inclinou e a menina lhe fez uma reverência perfeita. Logo Lisa falou sem deixar
de olhá-lo aos olhos.

—E o senhor Grey? Viemos-lhe ensinar maneiras.

Christian sorriu a Anastasia.

—Quando fechamos o trato, não sabia que seriam duas em lugar de uma.

Com cautela, Lisa tomou a mão de sua mãe.

—É aqui onde vamos viver, mamãe? Há um quarto para mim?

Onde começa os sonhos Where stories live. Discover now