Capitulo 9

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Em Londres havia clubes para todos os gostos... Clubes para cavalheiros que eram esportistas incondicionais, para políticos, filósofos, bebedores, jogadores ou mulherengos. Havia clubes para os ricos, os arrivistas, os inteligentes ou os de alto berço. Christian tinha recebido ofertas para ser sócio de inúmeros clubes que acolhiam de bom grado a cavalheiros profissionais, incluindo comerciantes, advogados e empresários prósperos. Não obstante, Christian não desejava pertencer a nenhum deles. Queria pertencer a um clube que não tinha nenhum desejo de aceitá-lo, um clube tão exclusivo e aristocrático que só admitia sócios cujos avós já tinham pertencido a ele. O Marlow era a meta que finalmente se fixou.

No Marlow bastava com que um homem estalasse os dedos pedindo algo, uma bebida, um prato de caviar, uma mulher, para que o trouxessem com prontidão e discrição. Sempre os artigos de melhor qualidade, no entorno mais elegante, sem que o mundo exterior se inteirasse jamais das preferências de seus sócios. Por fora, o edifício não tinha nada de especial. Estava localizado perto do final da James Street, formando parte de uma larga fileira de clubes similares. A fachada clássica, era simétrica e nada imponente. Embora, o interior fosse sóbrio e luxuoso. Todas as paredes e tetos eram revestidos de mogno abrilhantado e o chão tinha faustuosos tapetes decorados com sianinhas octogonais, vermelhas e marrons. Os móveis de pele eram sólidos e robustos, e havia abajures e candelabros de ferro forjado que iluminavam o recinto com luz muito tênue. Foi pensado para que um homem se sentisse a gosto, sem flores nem frisos decorativos.

O Marlow era o Olimpo dos clubes, onde muitas famílias solicitavam em vão ingressar geração após geração. Christian esperou durante três anos para que o aceitassem. Com sua estratégia habitual, uma mescla de extorsão econômica, subornos e manipulações entre bastidores, havia conseguido que o admitissem, não como sócio, mas sim como «convidado» permanente que podia ir e vir a seu gosto.

Havia muitos aristocratas cujos negócios estavam vinculados aos seus, homens que perderiam sua fortuna se ele começasse a jogar com as forças do mercado. Também tinha comprado as dívidas de alguns lordes esbanjadores, e não tinha vacilado em utilizá-las como um látego contra eles.

Christian conseguiu expondo aos membros chave do Marlow a alternativa entre perder tudo ou permitir que um arrivista como ele freqüentasse o clube. A maioria havia votado a contra gosto a favor de sua condição de convidado, mas era indubitável que desejavam livrar-se dele. Christian não se importava. Obtinha um prazer perverso sentado-se em algumas das amaciadas poltronas de pele e folheando o periódico junto a outros sócios, e esquentando-os pés na grande chaminé de pedra.

Aquela noite, impor sua presença ao clube lhe estava resultando especialmente prazerosa. «Nem sequer George Hyde teria sido bem-vindo aqui», pensou perversamente. De fato, era provável que os Hyde jamais se expuseram em solicitar seu ingresso no Marlow. Seu sangue, embora azul, não era o bastante, e Deus sabia que não tinham dinheiro. Mas Christian o havia conseguido, embora só fora um «convidado permanente» e não um sócio propriamente dito.E haver-se feito um lugar nos estratos mais altos da sociedade, o tinha deixado um pouco mais fácil para os que viriam atrás dele. Aquilo era o que mais temiam os aristocratas, que suas filas se vissem invadidas por arrivistas, que sua linhagem deixasse algum dia de bastar para distingui-los dos outros.

Enquanto Christian estava sentado ante a chaminé, contemplando melancolicamente as chamas, aproximaram-se dele três jovens; dois se sentaram em poltronas próximas e o outro ficou de pé em uma postura insolente, com uma mão apoiada no quadril. Christian o olhou com sarcasmo.

Lorde Booth, conde de Warrington, um asno presunçoso sem apenas nada do que presumir além de sua distinta linhagem. Depois da recente morte de seu pai, Warrington tinha herdado um título nobiliário, duas propriedades impressionantes e uma montanha de dívidas, a maioria devido a suas correrias de juventude. Era evidente que o ancião conde tinha tido dificuldades para controlar os esbanjamentos de seu filho, que em sua maioria haviam sido realizados para impressionar a companheiros que apenas não mereciam tal esforço. O jovem Warrington se rodeou de amigos que o adulavam e lisonjeavam constantemente, aumentando daquela forma sua presunção inata.

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