25. Atestado para coração partido

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"Uma fonte próxima de uma delas contou pra revista essa manhã que Florence e Jeniffer não estão mais juntas. Ainda não sabemos o motivo, mas vale lembrar que as duas vão se enfrentar pela semifinal da NCAA neste sábado, 30 de junho. Eu assistiria a esse jogo se fosse você, porque com certeza vai ser uma caixinha de surpresas."

Flora

Essa história de que as coisas são mais luminosas de manhã é um mito. Cada vez que eu cochilava e acordava, o pesadelo era ainda mais desolador.

As músicas e os filmes dizem que, quando você encontra o amor da sua vida, é como se todo o planeta parasse de girar, as nuvens se abrissem e seu coração começasse a cantar. Então por que tudo parece tão cinza? Por que parece que o mundo gira tanto ao ponto de me deixar tonta? E por que parece que, de repente, meu coração havia parado de bater?

A realidade, no entanto, é mais confusa que isso. Na verdade, conhecemos pessoas novas o tempo todo, mas não sabemos com certeza qual vai ser a importância delas na nossa vida. A gente nunca sabe de quem vai esquecer ou de quem vai precisar para sempre. Não foi assim com a Jenn, é claro, porque tudo o que envolva a gente foi meio que acontecendo ao contrário do que geralmente acontece. Eu precisei de vinte anos para descobrir o que sentia, talvez tenha sido tarde demais. Mas eu não quero que seja tarde demais.

Eu deveria estar sofrendo mais pelo rompimento com Jeniffer do que estou de fato. Porque é como se eu estivesse em choque, ainda anestesiada. Dizem que quando uma pessoa tem um braço ou uma perna amputado continuam sentindo esses membros, as vezes meses ou anos depois, porque o nervo continua enviando sinais de coceiras, dormências e outras sensações que não existem mais. Um membro fantasma, é como eles chamam. Talvez seja isso o que estou sentindo agora, essa sensação de que nós não terminamos, de que Jenn ainda está comigo.

A vontade que eu tenho é de apagar os últimos meses, de apagar tudo o que eu disse, mas e se eu estiver mexendo em um enxame de abelhas?

– Florence Parker! – Minha mãe grita do corredor – Nem pense em faltar mais um dia de aula!

– Eu estou de coração partido! – Grito de volta, apertando o travesseiro sobre meu rosto.

– Você fez a sua cama, Flora – Ela abre minha porta – É hora de viver com suas escolhas. Vamos lá. Tem que deixar Aspen na escola e eu já estou quase atrasada para o plantão.

Eu não consegui levantar para ir à aula ontem, e foi o dia da nossa folga dos treinos, então não faz muito sentido eu fingir que estou prestando atenção sobre luz e sombra quando na verdade estou pensando na Jeniffer.

– Anda logo!

– Ai, tá legal – Jogo os cobertores para o lado e pulo da cama antes que me arrependa.

A minha bolsa, outrora organizada e imaculada, havia se tornado um refúgio caótico para tudo o que pudesse ser acomodado. Livros empilhados desafiavam a gravidade, equilibrados como se desafiassem a queda iminente. Papéis dobrados e anotações embaraçadas pareciam ganhar vida própria, expandindo-se para preencher todos os espaços disponíveis.

Isso sem mencionar que eu ainda tinha que arrumar a minha bolsa de treino. Tinha trago alguns dos meus equipamentos para lavar, como joelheiras e tênis, que estavam no meu armário do vestiário há um tempo devido à rotina caótica desse mês.

No ritmo frenético de uma manhã comum, onde o tempo parecia escorregar entre os meus dedos, eu finalmente fiquei pronta. Entrei no carro como se minha vida dependesse disso. Não que não dependesse, de fato, pois se minha mãe chegasse atrasada no hospital, ela com certeza me mataria.

Tudo ou nada (Romance Sáfico)Where stories live. Discover now