12. Que comecem os jogos

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Flora

Eu batucava os dedos no tablet em um ritmo constante. A matéria que eu deveria estudar brilhava na tela, mas não conseguia me concentrar de forma alguma. Aspen já tinha abaixado o som da televisão porque minha mãe gritou com ele sobre estar me atrapalhando. Não estava conseguindo ler no quarto porque meu olhar ficava sendo atraído para a janela da frente, mas na cozinha não estava muito melhor.

Tinha deixado o celular lá em cima para não cair na tentação de mandar mensagem para Olivia. Ela tirou duas semanas de folga para visitar a família, eu não queria ser egoísta e achar que ela tinha feito isso pra se afastar um pouco de mim, mas tinha minhas desconfianças, afinal, ela nunca vai para Londres, nem mesmo nas férias da temporada.

O tempo se movia lentamente, os dias se passavam como um borrão e minha rotina se resumia em ir para a faculdade, treinar e olhar Aspen. Ainda não tinha tido coragem de falar com Jeniffer de novo, e sabia que eu ficar sumindo e voltando o tempo todo a deixava louca, mas não podia evitar. Uma hora eu tinha tanta raiva dela que era difícil respirar, me fazendo pensar que ir para frente com isso era a única opção. E no momento seguinte eu era pega em um estado de indiferença total, porque ela não estava fazendo exatamente nada no momento para nutrir um ódio repentino.

Então eu desmarquei o encontro no café dando qualquer desculpa e desapareci.

Semana passada nós jogamos fora novamente e a USC também. Ambas ganhamos as respectivas partidas, mas não mandei mensagem dessa vez. Eu poderia dizer que estava em um momento de introspecção pelo que Karen falou na outra semana, mas meu subconsciente sabia que tinha a ver com o surto no boliche. Falei sobre isso com Karen na consulta dessa semana e ela disse que era completamente normal.

– Saindo! – Minha mãe gritou catando suas coisas pela casa – Aspen! – Ela transpassou a bolsa pelo ombro, pegou a garrafa térmica de cima do balcão e me deu um beijo na testa – Certeza que não vai precisar do carro?

– Aham – Apoiei o queixo na mão e sorri. O micro-ondas apitou e eu fui feliz pegar a minha pipoca. Aspen está tão fissurado na televisão que minha mãe tem que ir até ele se despedir.

– Cuida dele – Ela sempre diz isso – Tchau, amo vocês – Ela sempre diz isso também.

– Te amo – Respondo a acompanhando até a porta, com sua bolsa enorme, a garrafa térmica, a chave na mão e o jaleco nos braços. Minha mãe é um misto de confusão que me deixa estranhamente tranquila só de observá-la.

Ouço um grunhido vindo da sala e me jogo no sofá com meu balde de pipoca. Aspen está quase jogando o controle do videogame na parede.

– O que foi?  

– Essa merda pifou.

– Ei, olha a boca – Eu jogo mais uma pipoca na boca.

– Você fala caralho o tempo todo.

– Eu posso.

– Dá um jeito de consertar isso, Flora, eu não posso perder o meu progresso.

– Perder o quê? – Eu rio, mas ele me olha se cara feia, e seus olhos cinzentos ficam escuros – Ai, tá, espera aí que eu vejo o que posso fazer.

Me levanto do sofá, e como sei que não sei nem como começar a procurar no Google, vou até a casa da frente, torcendo para que Jeniffer esteja em casa. Ela é a única pessoa que eu conheço que entende de videogames, mesmo não tendo falado com ela por quase duas semanas.

– Boa noite, senhora Nakamura – Sorrio cordialmente. É estranho chamá-la assim quando ela não é nem um pouco asiática, como o marido e a filha – A Jeniffer está?

Tudo ou nada (Romance Sáfico)Where stories live. Discover now