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A Rosa de Sangue rodeava completamente a capital de Jaya. Quem diria que um grupo de pessoas que tinha acabado de perder seu lar conseguiria unir tantos outros em uma mesma causa com tanta coragem e determinação?

Todos esperavam atentos pelo sinal. Se caso Dapher não aceitasse a troca de Levann pelo encerramento da guerra nós atacaríamos. A ansiedade e o nervosismo cresciam conforme os minutos passavam.

No começo de tudo eu disse que essa história não era sobre mim, mas ter feito parte disso me deixa muito orgulhoso. Principalmente por ter estado do lado deles três.

— Sabe que a chance de ele negar é alta, não sabe? — Perguntou Mary, sem tirar os olhos das pontes de mármore que levavam até a parte nobre da cidade de Jaya.

— Todos sabemos, é por isso que estamos aqui. — Respondi, olhando para os guardas das torres de vigia do castelo, prontos para o ataque. Assim como nós, eles também esperavam algum sinal para agir.

— Não quero morrer, Derek. — Ela disse bem baixo, na intenção de que apenas eu - o único que estava bem ao seu lado - ouvisse. — Eu tenho uma família me esperando voltar para casa.

— É... Eu também tenho. — Disse, olhando para os cabelos castanhos dela que esvoaçavam com a brisa gélida que nos atingiu de repente.

Os portões do outro lado das pontes se abriram lentamente em um rangido estrondoso revelando dezenas, não... centenas de soldados armados e protegidos por vestes reluzentes. Eles marcharam de todos os portões ao redor da cidade até nós, fazendo com que nos afastássemos aos poucos e ficássemos frente a frente com alguns metros de distância entre ambos os exércitos.

Pessoas de todos os tamanhos e com tipos de armas variados tomavam posição. Na frente haviam Berserkers com quase dois metros de altura e corpos notavelmente rígidos e ferozes. Mais atrás Elementais e afastados ao fundo haviam arqueiros a postos.

Mas o que tirou meu fôlego foi o fato de que não só de pessoas era formado o exército de Dapher. Além das águias que nos sobrevoavam com soldados em suas costas haviam também... demônios. Foram os últimos a sair de dentro dos portões, com coleiras de diamante e os membros algemados aqueles dois gritavam e urravam enquanto se debatiam violentamente para fugir das amarras, sedentos por sangue. Os dentes afiados como agulhas; o corpo cinzento esguio e esquelético com garras feitas de ossos amarelados e podres; mas a pior parte... era que ele não tinham olhos. Conforme suas cabeças lisas se movimentavam para todos os lados buscando presas e gritando eu percebi que eles não enxergavam, se localizavam apenas pelos sons e por isso estavam tão loucos. A marcha dos soldados estava fritando seus miolos.

Então Dapher estava fazendo visitinhas a Tempus enquanto íamos atrás de seu filho. Interessante.

Quando os soldados de Jaya terminaram de trazer os demônios até o centro de seu exército os membros da Rosa de Sangue, assustados, deram alguns passos vacilantes para trás. Até mesmo Mary tremia. Ela engoliu e seco e, antes que ela pudesse dar um passo para trás, eu segurei seu ombro.

Ela me olhou, apavorada. O rosto pálido e os olhos úmidos.

— N-não dá... Olha pra aquilo.

Eu respirei fundo, pus uma mecha rebelde de seus cabelos castanhos atrás de sua orelha e da haste preta de seu óculos e dei um passo à frente, encarando diretamente os dois demônios à beira da loucura.

Soube, naquele momento, que com um dos demônios eu conseguiria lidar como um sombrio, mas dois...

Eu então olhei de volta para Mary, que ainda parecia assustada, mas menos do que antes. Eu estendi a mão para ela, o que a deixou confusa.

— Preciso de você, capitã Maryenne.

Todos da Ordem mantiveram os olhos em nós, esperando o próximo passo. Se Mary desistisse, eles também desistiriam. Estava claro isso.

Então ela segurou minha mão relutantemente, deu um passo à frente e tirou a katana embainhada de seu cinto, segurando-a na mão esquerda.

— Se eu sair viva dessa vou escrever um livro.

Pode deixar que eu escrevo por você.

A Rosa de SangueWhere stories live. Discover now