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Quando o caos reina e a guerra se instaura, é por ele quem eles chamam.

Mesmo sem saber seu nome, preces são elevadas aos céus buscando respostas, salvação e paz. Quando a esperança não é mais uma opção, quando nem mesmo os deuses forem um porto seguro... ele estará lá para salvá-los.

Cabe aos mortais aceita-lo. 



Mais uma caneca cheia de cerveja. Quantas já havia tomado? Havia perdido a conta quando chegou a uma dúzia. O gosto da bebida era amargo e envelhecido com um aroma suave de laranjas do jeito que só seu bom e velho amigo Pedro sabia fazer.

Mas Pedro estava morto. O bar que frequentava a tantos anos? Abandonado. Algumas bebidas haviam ficado no estoque dos fundos debaixo de um alçapão de madeira escurecida e desgastada pelo tempo assim como o resto do local. O balcão estava tão sujo e empoeirado que era incômodo até mesmo respirar ali perto; as mesas tinham cadeiras viradas sobre elas, como se o bar estivesse simplesmente fechado, mas as teias de aranha e ninhos de baratas que se acumulavam pelo local deixavam evidente que aquele bar não via uma vassoura há um bom tempo.

Ele pôs a caneca em cima do balcão novamente e arrotou em alto e bom som

— Obrigado, Pedro. Desculpe acabar com o estoque. — Ele se levantou da cadeira alta, pôs o capuz de couro escuro sobre os cabelos castanhos ondulados, pegou seu machado de duas lâminas que estava encostado no balcão, colocou-o no suporte em suas costas e saiu do local, deixando para trás mais uma vez aquele lugar esquecido pelo tempo.

As vielas da periferia de RedFang eram estreitas, sujas e tão abandonadas quanto o próprio bar de Pedro. Casas e comércios de dois andares ou mais se amontoavam por todo o seguimento sinuoso da rua de tijolinhos cinzas. A neve caía pálida sobre o chão e as construções, sem uma única alma além daquele viajante para presenciar a paisagem singular dos becos do que um dia foi o maior centro comercial de Bloodstate.

Quanto tempo havia se passado? Em que ano estávamos? Esses pensamentos rodeavam a mente do viajante por todo o caminho que percorreu até o final de RedFang. Um arco de pedra mal acabado com uma placa em madeira com escritas em tinta preta agressivamente apagadas se erguia acima de sua cabeça, agradecendo a visita da possível última alma daquele local.

— Hora de ir para casa e entender o que aconteceu por aqui. — Ele se espreguiçou e bocejou como um urso prestes a hibernar. Olhou em volta e... — Mas como vou chegar lá?

O viajante coçou a cabeça por cima do capuz de couro e olhou em volta. Não havia nenhum cavalo por perto, muito menos alguém a quem pudesse pedir informações sobre como chegar em Jaya dali onde estava. Então ele decidiu ir andando até onde seus pés aguentassem. Debaixo da neve ele atravessou todo o vale montanhoso que protegia a cidade de RedFang até a cidade de ScarletBreath, no centro do território de Bloodstate. A cidade era cercada por pinheiros altos. Muralhas de pedra se erguiam por todo o perímetro da cidade, protegendo tanto a elite vermelha quando os roxos que ali viviam.

Após exaustos dez segundos procurando alguma entrada, o viajante encapuzado por fim desistiu de procurar e estendeu a mão em direção à muralha de pedra em sua frente, que se distorceu, moveu e se abriu em um caminho para que ele passasse. Quando ele adentrou os muros foi surpreendido por uma dezena de soldados que apontavam armas para ele enquanto um Elemental de terra o aprisionava em vinhas grossas e resistentes, imobilizando seus braços e pernas e lançando-o ao chão.

— Quem é você e o que você quer? — Um dos soldados apontava uma lança prateada desconfortavelmente perto de seu rosto.

O viajante suspirou com o rosto no chão de pedra.

A Rosa de SangueWhere stories live. Discover now