A Rosa de Sangue

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O vazio que sempre me consumiu pareceu sumir naquele momento na floresta, em frente à mansão em chamas.

O nada que me atormentava, a sensação de que algo estava faltando, ou de que alguma coisa havia sido tirada de mim, aquilo que me acompanhava desde o momento em que Hakar me deu a vida, desde que colocaram o meu nome como Alycia...

Não estava mais lá.

Tudo mudou quando aquela casa pegou fogo. Pensando bem, na minha história acho que as coisas sempre acabam em fogo. Acredito que um dia, quando tudo isso acabar, o meu inferno não será frio como o submundo de Niford, ele queimará até meus ossos.

Por falar em fogo, uma das mudanças mais importantes foi que Vidya passou a morar no chalé da família Blake. Ela disse que não tinha mais para onde ir desde que a família a vendeu para o homem mascarado, então oferecemos a ela o quarto do segundo andar. Era pequeno, mas ela pareceu gostar do lugar.

Vidya foi como uma mãe para mim desde então, por algum motivo ela sempre foi muito atenciosa comigo e por vezes fez o papel de Lukas em me defender dos arruaceiros de Roseville. Acho que seus olhos vermelhos deixavam a intimidação mais fácil.

Lukas parou de trabalhar para os vermelhos, acho que o trauma de quase ter perdido a irmã mais nova mexeu bastante com ele. Ele passou a ajudar Cahan na forja. De vez em quando ele burlava o processo e desenhava algumas armas no Createnomicon para vender para alguns homens mal encarados que se recusavam a pagar o valor correto das criações de Cahan, mas, por conta disso, a qualquer momento elas poderiam se tornar papéis queimados assim como o resto das criações de Lukas.

A partir daquele dia eu voltei para a minha família. Diferente, mas voltei.

Por mais que eu tentasse, não consegui descobrir qual era o meu dom. Não controlava o sangue, nem sombras ou qualquer outro elemento. Não era forte como um Berserker e nós até mesmo tentamos descobrir se eu tinha algum dos dons de Jaya como música, cura ou controle de mentes. Nada funcionava.

Então eu apenas desisti de tentar, aceitei que talvez eu descobriria no momento certo, como da última vez. Aquele grito que saiu de dentro da minha alma não era comum, mas não havia registros daquilo em nenhum outro lugar a não ser...

Lembro-me de ter acordado naquele dia como o habitual. Vidya e Lukas conversavam de pé à porta do chalé sobre algo que não consigo me lembrar, mas não era importante. Cahan havia acabado de chegar de uma de suas visitas à capital CrimsonScale e trazia consigo diversas folhas de exemplares de pedidos de armas que deveriam ser forjadas por ele e por Lukas, mas era dia de treino.

Aquele dia eu pus meu casaco violeta, que tenho até hoje, e tomei café junto a todo mundo. Nós sorríamos despreocupados, sem temer qualquer coisa. Lukas não corria mais risco de vida, Cahan não servia mais o exército e agora tínhamos a luz própria de Vidya. Tudo era perfeito e, se eu pudesse, teria congelado o tempo naqueles dias.

Dias que nunca mais voltarão.

Após o café nós adentramos a floresta como fazíamos a cada dois dias, para o corpo poder descansar do treino, e chegamos a uma pequena clareira que Cahan tinha encontrado alguns anos atrás. Haviam bonecos de treino esculpidos com diamante para treinos de magia e outros em madeira para treino corpo a corpo. À esquerda, próximo as árvores, haviam cavaletes repletos de armas de diferentes portes como machados, espadas, arco e flecha, uma lança que era o favorito de Lukas e adagas.

Vidya não se adaptava muito bem com armas físicas, então Cahan sempre a treinava com os bonecos de diamante, que absorviam as chamas da Elemental sem problema algum. Lukas sempre variava as armas, mas acabava sempre tomando bronca de Cahan por voltar a usar a lança sempre que nosso mestre desviasse o olhar. Já eu... Eu gostava de assistir, observá-los lutar e aprender junto com eles, mesmo que não fosse usar algum dia. Ficava sentada em um tronco de árvore anotando alguns pontos que eu achasse importante como posturas, pensamentos que devia ter na hora de evocar magias e coisas do tipo.