Convite Tentador

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Minha expressão de nojo se formava lentamente conforme eu percebia quem era o sujeito.
Aqueles ombros largos, tatuagens e cabelos bagunçados entregavam tudo. Que ódio Trafalgar!! Isso definitivamente não tem graça, estou tremendo de frio devido a água gelada da chuva.

Sequei desesperadamente meus sapatos em um tapete áspero da recepção e retirei meu casaco completamente ensopado. Uma das secretárias me deu uma sacola para colocar as roupas e os pertences que estavam encharcados, assim eu poderia ir ao meu apartamento sem muita sujeira.

Novamente dividi o elevador com Trafalgar, dessa vez entrava sem papelada ou mal humor. Enquanto tento disfarçar o fato de estar ensopada eu acabo espirrando.
—Não fique atoa na chuva, pode se resfriar— Ele diz com um sorriso malicioso enquanto mexe no celular

Quando não é uma patada recebo um comentário completamente desnecessário.

—S-será que você poderia ao menos uma vez ser mais conveniente?—Digo entre a minha tremedeira.

—Ah sim, eu poderia se você também tentasse— Do que diabos ele estava falando??

—O quer dizer? Quer que eu aceite cada desfeita que você faz calada?

—Pode ser também— Sua voz calma e sarcástica por algum motivo me irrita, que ódio desse homem!

—Desembucha e fale de uma vez, como assim EU preciso ser conveniente?

Seu sorriso se desfaz e ele me encara com um olhar entediado.

—Você acha que não notei você me bisbilhotando no restaurante? Ficou com ciuminho da sua colega?

Não é possível, ele se acha o cara mais irresistível do mundo? Pode sonhar Trafalgar, é de graça mesmo.

—Só fiquei chocada de alguém como você ser educado com alguém, todas as vezes que te vi você está de mal humor.

Ele respira fundo e não diz mais nada. Quem cala consente, não?
O elevador finalmente abre e ambos nos dirigimos aos nossos respectivos apartamentos.

—Atchim!— Eu espirro novamente.
—Vê se procura um médico, a friagem provavelmente não te fez bem— diz o tatuado enquanto fecha a porta.
Eu sei me cuidar Trafalgar... Não sou mais uma criança mas ele não estava errado, os espirros e tosses agora eram um pouco mais frequentes do que alguns minutos atrás.
. . .
[17:00]
Assim que entrei em casa já fui direto para o banheiro tomar um banho quente, eu estava congelando! Eu juro que eu tive vontade de tacar uma pedra naquele carro maldito!
. . .
[17:15]
Como parei meus estudos pela metade resolvi reler tudo o que anotei e rever as vídeo aulas mas parei um tempo depois, eu estava com uma crise de tosse terrível e com dores de cabeça. Mesmo tomando remédios, não foi o suficiente para aliviar a dor. Só de olhar para o celular doía meus olhos. Resolvi tirar um cochilo para ver se passava ou se pelo menos melhorava.
. . .
[21:00]
AI MEU DEUS!! NÃO POSSO ACREDITAR QUE MEU CELULAR NÃO DESPERTOU!! Eu simplesmente ODEIO quando cochilo por tanto tempo, acho que não vou regular meu sono tão cedo pra variar e adivinhe? Minhas dores não passaram!
Não jantei de novo, apenas belisquei algumas tranqueiras enquanto assistia séries com a esperança do sono voltar.
. . .
[06:30]
Com MUITO custo eu consegui dormir mesmo que bem tarde da noite, tipo umas 00:30. Foi horrível, tanto pelas dores quanto pela falta de sono. Acordei capenga, com a garganta arranhando, parecia um zumbi de tão podre e eu ainda estava tossindo muito.
Decidi que não era um dia muito bom para trabalhar, não seria nada agradável tossir enquanto cozinhava e máscara estava fora de questão, eu ia morrer de calor. É... o melhor a se fazer era faltar, não tinha jeito.

Sem muita enrolação mandei uma mensagem para Vivi avisar a nossa chefe que eu não apareceria por lá hoje.
Tomei um café da manhã mais reforçado para compensar a janta de ontem,
[07:30]
Antes de ir ao médico eu tomei um banho rápido e tentei cobrir minha cara de morta com um pouco de maquiagem. Para minha sorte não está tão cheio, afinal ainda é bem cedo, espero poucos minutos na recepção até ser chamada por uma voz rouca.
—Akari Muffine!

Me dirijo até a sala em que uma porta foi aberta e tenho uma surpresa...
—Hmph—ele produz um som com a garganta—você por aqui?

Ok por essa eu não esperava Trafalgar Law era MÉDICO? E de TODAS as salas eu tinha que vir para essa? Eu definitivamente não tenho sorte... Quais serão as patadas de hoje?

—BOM DIA para você também Trafalgar.
Ele olha para mim e logo após volta sua atenção á alguns papeis.

—Sente-se, o que te trás aqui?—ele diz

—Bom, tomei uma chuva pesada no caminho de casa ontem, fora que um mal amado passou em alta velocidade em cima de uma poça d'água que me molhou mais ainda, passei o caminho todo tomando friagem e- Sou interrompida antes de terminar a explicação

—É eu sei do resto, você chegou encharcada e demorou para se secar, fora a friagem.
Ele gosta de bancar o inocente, agindo como se eu não lembrasse que ele riu da minha cara.

—Acho que preciso me desculpar, o "mal amado" era eu— Ele engole seco e retira seu olhar do meu rosto.
O QUE? TRALFAGAR FOI QUEM FEZ ISSO? Cara, qual o problema desse homem?? Eu sou uma piada pra ele ou algo do tipo?

—Você ficou MALUCO? POR QUÊ fez isso??— Dessa vez EU é quem o fuzilava com os olhos
Ele respira fundo e franze o cenho

—Não foi minha intensão e eu nem vi aquela poça. Só me dei conta do que aconteceu por que escutei você xingar.
—Trafalgar, você literalmente riu da minha cara depois.
Ele apenas ignora o que eu disse e começa a separar alguns instrumentos, inclusive um estetoscópio.

—Vamos acabar logo com isso— ele diz enquanto sinaliza para me sentar em uma espécie de assento.
Resolvi apenas me sentar e não retrucar no momento ,eu só queria sair dali o mais cedo possível.
. . .
ele primeiro ouve meus batimentos cardíacos, que pelo seu julgar parecem um pouco mais agitados, mas nada fora do normal.
Algumas avaliações foram feitas, como examinar minha garganta e pedir para inspirar e expirar.
Por fim ele mede a minha temperatura, o aparelho nos mostra um 37,5 graus, ou seja, eu estava em estado febril.

—Nada de grave por enquanto, você tomou remédio antes de vir aqui?— ele pergunta voltando a sua mesa enquanto anota algo.

—Tomei no dia anterior umas 17:00 para a dor de cabeça, mas não fez efeito, era dipirona eu acho.
Trafalgar não diz nada, apenas continua escrevendo.

Depois de algum tempo ele me entrega um papel, havia uma receita escrito.

—Receitei um remédio um pouco mais forte do que dipirona para a dor de cabeça, o outro é referente a dor de garganta e a tosse. Como os seus sintomas aparentemente não vão evoluir para mais que isso, é apenas esses que posso recomendar por agora. E fique de olho da temperatura.

—O-obrigada—Digo guardando a receita em minha bolsa enquanto vou ao rumo da saída.
Eu paro por um instante ao escutar sua voz rouca de novo.

—Não vai pegar o Atestado?
Nossa claro, como sou burra, como vou embora daqui sem um atestado?—Ah sim, eu esqueci—Pego a folha de sua mão mas antes de me virar novamente ele interrompe o silêncio que se formou.

—Eu não mordo sabia? Não precisa ter medo de olhar pra mim.
Eu respiro fundo e engulo seco enquanto pego a folha de sua mão.
—Não quero bancar a grossa, mas quanto menos eu te vejo, melhor eu fico.

—Hm—Ele emite um som pela garganta—Engraçado, seus batimentos cardíacos não demonstram isso.

Assim que ouvi essa última frase meu coração pareceu parar por segundos e depois quase explodir de tão rápido.
Não respondi Trafalgar, apenas saí da sua sala e fui embora.
Meu rosto queimava enquanto eu repensava naquela frase, não posso negar, ele é um tanto atraente e vê-lo tão próximo de mim realmente me deixou bem tensa, mas é lógico que conhecendo o pouco que sei de Trafalgar esse sentimento logo se esvai.
. . .
[09:30]
Antes de ir para casa eu passei na farmácia para comprar os remédios receitados e passei no restaurante para deixar o atestado com a minha chefe.
Avistei Vivi já em seu expediente, assim que ela me vê um sorriso aparece em seu rosto enquanto acena para mim.
—Akari!! Eu tive um treco quando você me mandou mensagem, eu te respondi de volta, mas você nem visualizou, ta tudo bem?

—Está tudo sim, só acordei com a cabeça bem pesada e um pouco de dores, mas está passando. Sobre as mensagens... Me desculpe eu esqueci de responder.

—Imaginei, você sempre esquece de visualizar hahaha!
Realmente, é um hábito muito comum da minha parte, por mais que seja horrível, porém não faço por mal.

—Apenas perguntei se você estava bem e se você estava a fim de sair conosco, marquei de sair com o Koza as 19:00 em uma boate aqui perto, mas acho que nesse estado é melhor você descansar— diz Vivi um pouco cabisbaixa.

—Seria legal Vi, faz tempo que eu não saio, mas vai ser bom vocês passarem um tempo a sós também, não quero atrapalhar.


—Imagine boba! foi ideia de nós dois te convidar, relembrar os nossos passeios da escola, Sabo e Koala viriam também mas ambos já estavam com planos. Então creio que será só nós mesmo— Ela diz com as bochechas rosadas.

—Aproveite bem o passeio amiga!—dou uma piscadinha com os olhos enquanto lhe dou um abraço.

—Melhore viu? Me liga se precisar de algo.
Sorrio e agradeço pela preocupação, mas não vou incomodar a Vivi em plena sexta, infelizmente eu quem não estou muito bem, por mais que eu queira sair eu não poderia, a temperatura despencou depois da tarde chuvosa de ontem, a friagem só pioraria tudo.
. . .
[17:00]

A manhã e a tarde passaram, aproveitei para fazer uma faxina em casa e relaxar um pouco. As horas passaram EXTREMAMENTE devagar, eu estava morrendo de tédio, tipo, quase literalmente.

Eu olhei para o relógio e vi os números mostrarem "17:00", era cedo ainda, eu talvez poderia considerar o convite de Vivi.
Fiquei minutos pensando se deveria ou não sair de casa sem uma hora para voltar, o resfriado era por conta de uma friagem então eu não transmitiria nada pra ninguém, mas eu corria o risco de piorar por conta do horário e do clima.

Era tentador escolher!

Meu Vizinho é um Médico TediosoWhere stories live. Discover now