Quarenta e sete

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Este capítulo dedico à todas as leitoras(leitores), que torceram pelo Heitor, o bad boy do sertão❤️

Heitor 

Era começo de verão.

Havia rostos novos entre as turistas, uma safra renovada, como se a roda da economia tivesse mudado de direção e o dinheiro, mudado de mãos. Mas no final de algum tempo, era sempre a mesma coisa. Eu ainda saía com o Princesa, ainda recebia inúmeros convites, acompanhados com o número do quarto em que estavam hospedadas ou o telefone. Eu ignorava, jogava fora.

Ainda pensava nela, todos os dias. A última vez que a vi, foi em frente ao seu prédio, quando ela chegou com Vinícius, os sinais claros do que tinham feito. Fiquei puto da vida, a minha vontade era matar os dois, só não fiz, porque eu ainda a amava.

Fui atrás de outras, para tentar esquecê-la. Na primeira, broxei, pela primeira vez. Foi a coisa mais humilhante que aconteceu, não tive coragem de tentar outras vezes, com medo de broxar novamente. Se a notícia se espalhasse, acabaria com a minha reputação. Maldita Ariana! Ela estava acabando comigo. Só tinha um jeito de eu resolver a situação: Ir atrás dela.

Eu sabia que Vinícius e ela não estavam bem. Desde que meu pai sofreu o AVC, Vinícius assumiu a vinícola e estava seguindo os mesmos passos de meu pai, passando muitas horas na fábrica, tendo que lidar com todos os perrengues. Ele sempre foi muito responsável. Mas estava deixando Ariana de lado. Por causa do horário de trabalho dela, eles mal se viam.

Uma noite, fui até a pousada. O carro dela estava estacionado na rua. Com os turistas lotando a pousada no verão, não sobrava vaga no estacionamento para a sua lata-velha. Me aproximei, certificando-me de que não havia ninguém olhando e me abaixei junto à roda dianteira, do lado do motorista, esvaziando o pneu. Voltei para junto do SUV e deixei a pousada.

Mais tarde, no horário que Ariana costumava sair, fui novamente até lá. Comecei a descer a rua, vendo ela parada ao lado do Corcel. Parei do lado.

—  Sabia que não é seguro ficar na rua até essa hora? 

Ela se voltou para mim desalentada.

—  Está fazendo o quê, até essa hora na rua, Heitor? — revidou. Gata arisca.

—  Procurando encrenca. Acho que encontrei.

Estacionei na frente do Corcel e desci. Me abaixei ao lado do pneu vazio, fingindo examiná-lo.

—  Deve ser algum defeito na câmara de ar.

Lembrei-me do dia em que a encontrei parada no atalho, depois que ela voltou da capital. Dela me dizendo que fumar demais broxava. Se ela soubesse o que é que andava me broxando...

Endireitei o corpo e fui até a bagageira, à procura do estepe. Como imaginei, não tinha estepe.

—  Não tem como trocar. Amanhã peço para o seu Alberto encher o pneu. Aproveito e peço para ele trocar o óleo da lata-velha.

Ela se lembrava daquele dia no atalho, assim como eu, vi nos olhos a expressão nostálgica. Aqueles olhos que vinham roubando a minha paz nas noites solitárias, aparecendo nos meus sonhos.

—  Acho que você não tem escolha, a não ser deixar que eu lhe leve para casa.

Ajudei ela a fechar o Corcel e a escoltei até o SUV.

Quando tomei a estrada para o Vale, ela não protestou. Nós dois sabíamos que eu não a levaria para casa. Estacionei ao lado do Armazém, de onde podíamos ver o Princesa, assentado na margem do rio.

—  Eu amo você, Ariana. Se me der outra chance, eu mando o Princesa para o fundo do rio. Sem excursões, sem turistas, sem números de telefone. É você que eu quero.

Senti ela reagir, desarmar completamente.

Puxei-a para os meus braços, apertando contra o peito, aspirando o perfume de rosas dos seus cabelos. Aqueles últimos meses, sem ela, tinham sido um inferno. Contei-lhe como estava a minha vida, de como eu achava que tinham jogado uma mandinga contra mim, para que eu não conseguisse ter relação com mulher alguma.

—  Eu disse que...

—  Cigarro em excesso broxa — completamos juntos.

Ficamos em silêncio alguns minutos, relembrando aquele dia.

—  Se eu lhe der outra chance, Heitor, não quero que afunde o Princesa. Mas tem uma coisa, que eu queria que você fizesse.

—  É só pedir, Ariana.

—  Que você não volte a fumar.

Olhei para ela surpreendido. Eu seria capaz de afundar um barco por sua causa, e ela me pedia para parar de fumar.

—  Prometo.

—  Só mais uma coisa.

Lá vem, pensei, à espera. 

—  Que pare de chamar o meu carro de lata-velha.

Segredo de FamíliaWhere stories live. Discover now