Vinte e cinco

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Heitor

As luzes estavam todas acesas, iluminando a entrada e o jardim em volta, quando cheguei ao casarão. Não entrei pela porta da frente, dei a volta por trás e entrei na cozinha, encontrando quem eu queria. 

Ela estava ocupada ajeitando os pratos. Fiquei na porta observando-a, lembrando daquela manhã, com ela nua em minha cama. Descobrir que era virgem havia feito com que eu a quisesse ainda mais.

Não menti quando disse que a desejei desde que a vi, aqui nessa cozinha, mas não sabia o quanto, até vê-la na caminhonete com Vinícius. Durante o período em que ela trabalhou aqui teve momentos em que tive que me segurar para não agarrá-la, embora naquela época teria sido por pura diversão. Agradeço à minha mãe por não ter permitido que acontecesse. Com certeza eu não teria uma segunda chance.

Ariana levantou a cabeça e me viu, a surpresa estampando em seu rosto.

—  Heitor,  que deu em você para aparecer aqui?

Me aproximei, acariciando sua face rosada.

—  Essa casa também é minha. 

Ela continuou me olhando. Não o mesmo olhar de antes, nunca mais seria, depois daquela manhã.

—  Por que não disse que viria? 

—  Queria fazer uma surpresa.

Minha vontade era atirar os pratos no chão e possuí-la em cima da mesa, um fetiche desde os tempos em que eu a encontrava aqui pela manhã, antes de ir para a fábrica, mas a cozinha nunca esteve mais cheia e movimentada do que esta noite.  

—  Vou levá-la para dar uma volta depois. 

Dizendo isso a deixei, me encaminhando para a sala de jantar, onde todos estavam reunidos. A mesa grande, arrumada com a melhor prataria, porcelanas e cristais de Dona Laura, com Dr. Otávio sentado na cabeceira. Meu pai me viu, percebi que não ficou satisfeito com a minha presença.

—  Heitor, atrasado como sempre, meu filho.

Eu não havia sido convidado, mas Dr. Otávio não deixaria os convidados perceberem. Os olhos de todos se voltaram para mim. Olhei-os de volta, encontrando o olhar atento de minha mãe, tentando adivinhar o que eu pretendia aparecendo sem avisar. Tia Lívia torceu ligeiramente os lábios, me fitando com seu olhar de lince. Ana Beatriz, coitada, embora alheia ao que acontecia na família, parecia sentir a tensão que se instalou com a minha chegada. 

Olhei por último para meu irmão Vinícius, encontrando seu olhar treinado para não revelar os sentimentos. Uma hora teríamos que falar sobre Ariana. Com tantas mulheres em Paraisópolis, tínhamos que nos interessar pela mesma.

Enfim, a família estava novamente reunida. 

—  Sente-se aqui, Heitor — ofereceu minha tia, levantando.

Imediatamente o homem ao seu lado levantou-se da cadeira, cedendo seu lugar à tia Lívia, que sorriu em gratidão. Tenho que admitir, ela sabia se fazer notar. Além do mais, era uma mulher com atrativos para cabra nenhum botar defeito. Sentei-me, ficando entre minha tia e um convidado à esquerda, para desgosto do homem.

Olhei ao longo da mesa, impressionado com a capacidade que tínhamos de parecer a família perfeita. Todos os elementos estavam presentes, para tornar a experiência agradável para os convidados: A confiança na figura de meu pai, acolhimento de minha mãe, encanto de tia Lívia, autenticidade de Ana Beatriz e conhecimento de Vinícius. Eu era o único que não me encaixava, até porque não estava ali com a mesma finalidade.

Há muito tempo eu tinha deixado de me importar com os interesses de meu pai e com a vinícola, mas sabia exatamente o que se passava naquela casa naquela noite. Meu pai queria, e muito, conquistar uma posição de destaque na sociedade paulista. Depois de conquistar o sertão e o Nordeste, a ambição de Dr. Otávio se estendia para outras regiões.

Eu me perguntava nos momentos de reflexão, se meu pai teria me afastado da vinícola, se eu não tivesse saído, caso descobrisse o que acontecia entre os vinhedos, nas tardes tórridas. Talvez soubesse, um dos funcionários X9 podia ter dado com a língua nos dentes, esperando conseguir uma promoção, mas isso com certeza eu não iria perguntar a meu pai. 

Agora que tinha o meu próprio empreendimento, ficava mais fácil manter os velhos hábitos, porém não tinha a mesma emoção.  

Olhei na direção de Vinícius, meu irmão, meu rival. Eu levaria Ariana embora ao final da noite, a faria minha novamente, de um jeito que ela nunca me esqueceria, mesmo que eu saísse de sua vida.

Segredo de FamíliaWhere stories live. Discover now