Cinco

1.6K 172 100
                                    

Vinícius Castro Oliveira - 24 anos

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Vinícius Castro Oliveira - 24 anos

Não sou o que pensam sobre mim. Isso me foi tirado anos atrás, quando eu tinha 16 anos.

Passei os últimos oito anos vivendo no Rio, onde estudei, me formei em administração e me especializei em tudo o que se relacionava com a vinícola. Viajei, aprendi outras línguas, conheci outras culturas e há seis meses estava de volta a Paraisópolis.

Sempre amei as terras extensas do sertão, com a vinícola florescendo no meio delas como um oásis; os campos verdejantes dos vinhedos que se estendiam sobre o solo raso até perdermos de vista. Meu avô foi um dos pioneiros que chegaram na região há cerca de cinquenta anos, um visionário que viu além das terras áridas, do abandono e melancolia que tomava conta do sertão e dos corações das pessoas.

Meu pai, Dr. Otávio, vinha expandindo a vinícola e adquirindo mais terras ao longo dos anos, dando continuidade ao legado deixado por meu avô, disseminando o nome Castro Oliveira pelo sertão com a força dos antigos coronéis. Dr. Otávio praticamente vivia dentro da empresa, raramente aparecendo no casarão, exceto para cumprir a imposição feita por Dona Laura: que ele se reunisse com a família na hora do jantar e no café da manhã.

Eu era quem mais desfrutava da companhia de meu pai, pois passava grande parte do meu tempo com ele na empresa, mas ao contrário dele, eu sempre encontrava tempo para andar pelos vinhedos, sentir o cheiro da terra, o calor do sol implacável, que queimava a pele e o coração, forjando-o, como o ferro era forjado no fogo.

Ariana... Eu já tinha ouvido falar sobre ela, no tempo em que trabalhava no casarão. Dona Laura dizia que ela fazia a melhor carne de sol de Paraisópolis. Talvez eu a tivesse visto antes de me mudar para o Rio, quando ia à cidade, mas não tinha certeza. Aquele tinha sido um período da minha vida em que eu não costumava pensar com frequência, ficando guardado em uma parte remota da mente, raramente vindo à tona.

Quando encontrei Ariana na estrada de terra, no meio da noite, ela era uma completa estranha para mim, e pelo modo como me olhou, eu era o mesmo para ela. Não fiquei surpreso quando recusou a carona, mas era evidente que estava com problemas. Deixei-a na estrada, fui até o casarão e telefonei para Heitor. Quando soube que uma garota estava sozinha parada com o carro no atalho, ele se prontificou a ajudar. Esse era o Heitor.

No dia seguinte, ao voltar da empresa para o casarão no meio da tarde, encontrei a mesma garota tomando café com Dona Laura no jardim. Foi quando descobri que aquela era Ariana.

Agora, enquanto caminhávamos entre as videiras, provando as uvas, eu me perguntava se ela tinha ouvido alguma coisa a respeito do que aconteceu anos atrás. Isso seria sempre uma dúvida que eu carregaria, estando de volta. Se vó Ana estivesse viva, eu ainda estaria no Rio, mas sempre soube que cedo ou tarde, eu acabaria tendo que voltar para o sertão. E que nunca mais seria como antes.

—  Vamos para a degustação? — Convidei Ariana. — Podemos ir na caminhonete, depois eu lhe trago de volta.

Caminhamos de volta ao estacionamento, de onde partiam as excursões. Ela seguia ao meu lado, as faces coradas devido ao sol, os cabelos castanhos esvoaçando com a brisa. Um sorriso despreocupado nos lábios rosados, que pareciam uma flor; os olhos cor de avelã, que exprimiam confiança. Ela era a típica garota do interior, com as raízes fincadas na terra, família e trabalho. Embora ultimamente eu confiasse bem pouco nas mulheres.

Foi com uma delas que aprendi a mentir.

❦❦❦

O deque atrás do setor de engarrafamento havia sido preparado. Eu havia esperado Dr. Ernesto, quando fui informado sobre a degustação; encontrar Ariana tinha sido uma completa surpresa. Não que eu estivesse reclamando, a visão de Ariana era muito melhor que a de Dr. Ernesto.

A filha dele de 17 anos e eu tivemos um breve affaire, logo que voltei a Paraisópolis, para desgosto do homem. Desde então Dr. Ernesto mantinha uma certa reserva em relação a mim. Eu não sabia na época que ela era filha dele, nem que era de menor, do contrário não teria chegado perto. Heitor bem que poderia ter me avisado, mas ele fez foi se divertir com a confusão, quando Dr. Otávio teve que intervir, a fim de aplacar a ira de um pai desrespeitado. O que Dr. Ernesto disse no momento da raiva não me tinha passado despercebido: Não basta envergonhar a família, tem que se meter a corromper uma menor de idade!

O que significava que ele conhecia o segredo de família.

Segredo de FamíliaWhere stories live. Discover now