Capítulo 22

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Tem uma lojinha bem peculiar nessa esquina que me lembra a minha vizinha desatenta.
Por isso, achei que era somente uma alucinação quando a vi sair daquele lugar.
Um motorista inconsequente decide acelerar enquanto ela estava atravessando a faixa de pedestres.

Por pouco Lisa não foi atropelada.

Segurei sua mão trêmula para irmos em direção a minha moto, ela ainda hesitou.

— Vamos, confie em mim. — Encaro os olhos dela e aperto um pouquinho sua mão. — Eu costumo pilotar carros que correm mais de 250 quilômetros por hora.

— Mas eram carros.

— Eu juro que não passo de 20 se você estiver com medo. — Digo e ela concorda com a cabeça lentamente.

Sendo assim, coloco meu capacete, dou um a ela e subo na moto. Depois de ouvir uma respiração funda, sinto-a atrás de mim. Procuro pelas suas mãos e prendo-as em volta da minha cintura.

— Sabe de uma coisa, Ferraz? — Falo com um sorriso no rosto.

— Fala, Byrne.

— Quanto mais devagar eu andar, mais tempo você vai ficar agarradinha em mim. — Essa foi minha ótima tentativa de mudar o clima e eu quase conseguia sentir ela revirando os olhos.

— Então é bom acelerar.

Comecei a andar, na velocidade que eu tinha prometido, senti seus braços mais firmes em minha cintura e suas coxas me apertando.

— Byrne? — Ela fala gritando, provavelmente achando que eu não iria escutá-la.

— Sim?

— Se essa é minha primeira vez, é melhor fazer valer a pena, não? — Ela diz e eu assinto. — Bom, me mostre o quanto você gosta da velocidade, Byrne, acelera.

Eu acelerei.

Enquanto seus braços me apertavam, senti as mãos de Lisa agarrando minha jaqueta.

Apesar de estarmos indo rápido, mantive minha moto a menos de 100 por hora, muito distante da velocidade que eu costumo sentir quando estou nos circuitos, porque estamos andando pelas ruas de Londres em uma moto e ela quase sofreu um acidente. Embora, espero que goste do nosso curto passeio.

Por um breve momento pensei em escolher o caminho mais longo. Para Ferraz apreciar mais, claro.

Mas o trânsito nesse horário de almoço na capital inglesa faria com que perdêssemos a entrega do lanche dela.

Logo após alguns minutos, subo a rampa do nosso edifício e estaciono em uma das minhas vagas.

— Dois carros e uma moto, achei que teria mais. — Lisa zomba claramente.

— Esses são somente os que comprei aqui em Londres.

— Há quanto tempo você está aqui mesmo?

— Um mês e algumas semanas. — Respondo com um sorriso no rosto.

Saímos da moto e andamos juntos para o elevador.

Assim que as portas fecham fica nítido o nosso desconforto, o que é incrivelmente irônico se pensar o quão próximo estávamos na minha Harley.

— Caramba, já pegaram todos os panfletos. — Ela exclama e eu dou um sorriso de boca fechada. — Pelo menos o quase acidente valeu para alguma coisa.

E é essa frase que me faz soltar um suspiro.

Se ao menos ela imaginasse.

Até chegar no trigésimo segundo andar, digito um recado rápido aos funcionários da portaria.

Príncipe dos CircuitosOnde histórias criam vida. Descubra agora