Para Onde Vão As Estrelas (3.Continuação)

18 4 0
                                    

    À noite, eu fiquei pensando no Josh, no quão ele ficou triste quando aqueles idiotas quebraram a sua luneta caseira. Eu fiquei com tanta pena dele. Sei do trabalhão que ele teve para construí-la. Eu pensei muito também quando ele me perguntou se eu gostava mesmo dele. Não sei o que ele queria dizer com aquilo. Ou eu sabia. Ah, não sei ao certo. Naquela noite, eu desenhei eu e o Johs sentados no banco da praça, com vários coraçãozinhos sobrevoando sob nossas cabeças. Guardei a foto embaixo do colchão e fui dormir.

No dia seguinte, enquanto eu tomava o café, eu pensei: e se eu ajudasse o Josh a fazer outra luneta igual a que ele fez para a gente olhar as estrelas na colina? Eu fiquei ali, pensando naquilo, olhando para o nada com uma bolacha na mão.

— Menina, acorda!

— Oi? — era a minha mãe me perguntando se eu iria ter aula de educação física naquele dia.

— Não, mãe. Hoje eu não vou ter não.

Assim que cheguei no colégio, fui direto para a sala de Josh contar a minha ideia, mas aconteceu que eu não o encontrei na escola naquele dia. O que será que tinha acontecido? Josh não era de faltar às aulas. Aliás, por quantas vezes eu o vi até doente dizendo que não perderia aula por causa de um resfriado ou uma febrezinha. Havia acontecido alguma coisa com ele. Então, assim que terminou as aulas, eu fui até à sua casa. Bati e fui recepcionado pelo próprio Josh que não estava com uma cara muito boa.

— Oi, Josh. Tudo bem? Vim saber por que você não foi hoje para o colégio.

— Eu estava de castigo.

— De castigo? Mas por quê?

— Nada não, por besteira.

— Me conta logo, perna de pau.

Josh não sorriu. Ele não era de ficar de mau humor.

— Foi por causa da luneta. Por incrível que pareça, ontem uma amiga da minha mãe veio em casa então minha disse a ela que eu tinha feito a tal luneta e pediu para que eu mostrasse para ela. Eu fiquei com receio de contar pra mamãe que aqueles caras haviam quebrado ela. Eu sei que o meu pai iria até eles e a coisa ia ficar feia, então eu menti dizendo que a tinha quebrado.

— Que você o quê?

— Sim, que a tinha quebrado.

— Puxa, por que você não disse outra coisa, que a tinha perdido ou sei lá, sentado em cima?

— Não me veio isso na hora. Eu simplesmente disse que havia quebrado. Então, como qualquer castigo é pouco pra mim, e sabe que eu odeio faltar as aulas, esta foi a minha punição.

— Quer dizer que o seu castigo é ficar sem ir para à escola?

— Isso mesmo.

— Nossa! Você é muito nerd, Josh.

— E você é muito chata.

— É, eu sei disso. Quer uma maçã? Acabei de apanhar.

— Aceito sim, sua ladrãozinha de maçãs.

— É assim? Da próxima vez não trago nada pra você.

— Eu sei que traz.

— Seu convencido.

Ficamos ali na porta, comendo a maçã e um olhando para a cara do outro.

— Ei, você não quer entrar? — perguntou Josh.

— Não, obrigada. Eu não posso demorar.

— Ah, já sei. É a sua vez de lavar a louça do almoço.

— Nem é. — respondi sorrindo. — Sabe, Josh; eu estive pensando: o que acha da gente criar outra luneta? Desta vez eu ajudo você a criar. Quero muito aprender também.

— Você quer me ajudar a fazer uma luneta?

— Sim. O que acha?

— Eu não sei, Pietra. É difícil encontrar os materiais. A que fiz tive sorte porque meu pai comprou na cidade. Agora, sabendo que eu quebrei a última, nunca que ele irá comprar de novo.

— Puxa, Josh. Eu gostava tanto da luneta. E agora, como vamos fazer para ver as estrelas de perto?

— Eu não sei, Pietra. Eu não sei.

Então ficamos cabisbaixos, olhando para o chão.

— A não ser que consigamos montar um com tralhas. — ele disse logo depois, quebrando o silencio.

— Com tralhas?

— Sim. Materiais inutilizados como de oficinas, serraria, encanação... Eu vou fazer uma lista do que precisamos para montar e amanhã na aula eu levo pra você. Fechado?

— Oba!!! Fechado. Então amanhã eu espero você. Não vai faltar a aula. Tchau, arranha céu.

— Eu não vou faltar a aula. Tchau, pingo de gente.

Continua...

ESPECTROFOBIA (Contos de Terror)  Onde as histórias ganham vida. Descobre agora