Continuação (HARUM)

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E o final do expediente não demorou a vir. Logo os amigos já se encontravam no bar, rindo como se fossem velhos conhecidos com suas canecas nas mãos.

— Conte-me, George, que trabalhão é este de trabalhar na parte de publicidade, hein? — galhofou Frédéric provocando amigavelmente o amigo.

— Na verdade não é tão simples assim, Frédéric. Eu tenho que criar o slogan da loja daqui a duas semanas. Tem que ser algo criativo, original. Sem contar com os nossos sites, que também tenho como função gerenciá-los com nossas propagandas. É mentalmente cansativo.

— Eu imagino o quanto, George. Tenho uma irmã formada em publicidade. — disse Samuel, compreendendo a situação do amigo.

— Ela deve me entender melhor. — sorriu George, um sorriso preocupado. — Mas o que me deixa mais aflito é saber que eu tenho um concorrente fortíssimo, com outras graduações, bem como cursos especializados para reforçar ainda mais seu gabarito. O filho da mãe até os fixou na cabine que trabalha, o que achei escusado e arrogante.

Samuel M, percebendo a aflição e insegurança do rapaz, tentou confortá-lo com conselhos que tanto George quanto Frédéric acharam indulgentes demais.

— Na minha opinião — disse o astuto Frédéric —, você tem que ser mais audacioso. Certo que a dignidade é um dever nosso, é uma característica que nos empurram goela abaixo, e, vamos ser sinceros: será que os nossos adversários se apropriam disto também? Fica o questionamento.

— Sim, acho que me entende, Frédéric. Como o meu antagonista está com um ou dois degraus acima de mim — continuou George, num tom de voz insidioso. —, eu achei que devia me prevenir com trapaça.

— Trapaça? — arguiu Frédéric, ajeitando-se na cadeira.

— Sim, trapaça. Vejam bem, devido a este imbróglio, bem como o bloqueio criativo que vem me prejudicando, comecei a acompanhar o meu rival, analisando os seus passos, bisbilhotando o seu trabalho, os materiais em sua mesa. Até mesmo o seu lixo eu revirei, para vocês terem uma noção do meu desespero. Oh, e não me olhem estupefatos, por favor, pois foi justamente do seu lixo que me apropriei de algo que para mim será bastante relevante.

— O que você achou no lixo do cara? — perguntou Frédéric.

— Rabiscos de slogan. Achei muitas frases boas que posso usá-las como posses minha.

—Mas isto não é plágio? — questionou Samuel M.

— De forma alguma, pois às achei no lixo.

— Alvim tem razão. O cara jogou fora suas ideias. E, quando alguém se desfaz de algo, logo não a pertence mais. Está errado? — argumentou Frédéric.

— Errado não está. Mas e se o próprio reaproveitá-la e houver semelhanças? — continuou Samuel M.

—Ora, Samuel, deixe de pessimismo, vai. — sorriu George Alvim.

— Pode ser. — sorriu Samuel M. — Acho que estou sendo pessimista demais. Mas só tenha cuidado com isto.

— E terei. — disse George. — Agora vamos virar nossos copos sincronicamente e acabar com esta garrafa de rum.

— É assim que se fala, meu amigo. — disse Frédéric.

Logo, a garrafa de rum jazia na mesa dos amigos que dispersaram, cada um para o seu canto na rua íngreme e úmida.

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