Continuação (HARUM)

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Numa certa quinta-feira, Frédéric e George combinaram de tomar uns drinks na taverna próxima convidando mais uma vez Samuel M para usufruírem de uma breve abstração. Samuel aceitou cortesmente, apesar do dia atípico. A conversação fluía, nada relevante entre os boêmios, Frédéric escondia sua frustração pela Harum e desprezo por Samuel M, até que, após um drink, Frédéric Carlton declara o seu interesse pela senhorita Dulce, o que empalideceu visivelmente Samuel M. O mentecapto e falastrão Frédéric Carlton afirmava com vis palavras a reciprocidade da jovem à sua pessoa e isto insultara de certa forma Samuel M a quem tinha um respeito pela jovem. Frédéric Carlton era casado, assim como Samuel M, mas não era do tipo devoto e, quem bem o conhecia, sabia de suas andanças com outras mulheres.

— Ela de fato me olha com olhares devassos, provocando os meus instintos profanos, a minha libertinagem, meus caros amigos.

— Tenha cuidado, Carlton. Vai que a manceba seja um engodo da loja para conhecer o caráter dos funcionários e suas más condutas. — disse George Alvim. — A propósito, não sei se chegou ao conhecimento de vocês — continuou Alvim. — que, uns dias atrás, um dos veteranos da loja, o jovem Jonatan Moses, fora dispensado pela Harum por ter pedido um aumento exacerbado no salário.

— Despedido? — exclamou Frédéric.

— Sim. Despedido.

— Imprudência da sua parte, não! O salario aqui é bastante justo. — disse Samuel M.

— Sim, com certeza. Alegou que o dinheiro não dava para o sustento da família, e que na outra loja a quem trabalhou anos atrás lhe pagavam mais fazendo o mesmo serviço. Bom, até aí tudo bem. Vamos dizer assim.

— Por quê? A história não termina? — inquiriu Frédéric.

— De fato devia. Mas aconteceu que assim que o homem fora demitido, o mesmo sumiu do mapa.

— Sumiu? — interpelou Samuel M.

— Sim. Desapareceu como se tivesse dissolvido.

— Que estranho. E a família, o que diz? — disse Frédéric.

— Que seu paradeiro é uma incógnita, nem a polícia resolvera o caso até agora.

— É realmente muito estranho tudo isso. Samuel, você quase não está bebendo. Beba, vamos! Vire toda esta taça, solte-se. — dizia Frédéric levantando a autoestima do tímido Samuel M.

— Não posso passar dos limites. Hoje não. Amanhã temos trabalho, esqueceram?

— Você é todo certinho, Samuel. Calma! Não esquecemos. Amanhã será outro dia. Estaremos novinho em folha, não é mesmo, George.

— Com certeza.

E os jovens puseram-se a beber, sem qualquer limites. Pela ebriez, Samuel M mal pudera contar as garrafas que jaziam sob a mesa, só sabia que tinha bebido demais. Frédéric e George comentavam o estado do rapaz, se divertindo com a sua fraqueza com as bebidas.

O relógio da igreja marcava as duas e trinta da manhã quando Samuel M descia às ruas íngremes rumo à sua casa. A umidade do tempo e o excesso de líquido consumido fez com que o rapaz fizesse algo que o próprio repudiava: fazer do poste público um mictório. Porém, antes mesmo de cometer tal imprudência fora advertido por alguns guardas que policiavam o lugar. Samuel M, envergonhado, acelerou os passos quando novamente teve a impressão de estar sendo vigiado e, desta vez, seguido por sabe-se lá quem e o quê. Mesmo cambaleante, acelerou os passos com receio deixando o seu inoportuno para trás. Logo estava em sua cama, a cabeça explodindo e o alarme tocando persistentemente. Já era de manhã. Se não fosse a esposa Joana, teria perdido a hora, muito embora uma parcela dela já teria sido decorrida. Levantou-se num salto, tomou um café quente e saiu, sem ao menos se assear.

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