O Animalesco Caso dos Irmãos Disformes (Continuação)

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       Ulisses ficou petrificado com a cena. Da porta do quarto, surgiu outra aberração. Era um gigantesco porco que teve que se inclinar para entrar naquele nauseabundo quarto. Ao contrário do ser feição de sapo, este andava bípede, assim como um homem qualquer, e vestia uma camisa quadriculada, cosida pelo o próprio Armélio Costa.

- Suponho que esteja muito admirado, né delegado! - disse Armélio Costa.

Ulisses havia cambaleado e caído em cima da mortalha. Não aceitava acreditar no que estava vendo. Pelos os diabos! Mas estava vendo, e era horrendo. Sinistro.

- Sim, com certeza está admirado. - continuou. - Veja! Não são lindos os meus meninos? Que belezura, hein! São sadios, fortes. Comem de tudo. Eu disse que COMEM de tudo, policial! Por isso que são fofos e imensos. Já tentei de tudo para acabar com estes carrapatos que dão neles, veja. Tadinhos! Eles estão por toda a casa e infestando toda o bairro. Por isso o tal vizinho me viu os catando. Maldita vizinhança, não se pode nem mais cuidar de nossos bichinhos.

"Ah, pelo diabo! Éramos para ser uma linda família. Pena que não foi como eu planejei. Aquela vadia. Não era para ter terminado daquele jeito. Ela rejeitou todo o rito sagrado da família, nunca ninguém fizera isso. Juro pra você que não. Uma mãe jamais deve negar o seu filho, independente de como seja, concorda comigo, policial? - Ulisses meneou a cabeça. Os dois monstros o encaravam severamente. - O primeiro a sair foi o Jumbo, que os insensatos chamam de feição de porco. Depois veio o Rango, o Sapo. Eu mesmo quem fiz o parto. Confesso que me admirei de emoção quando os vi. 'Quê isso! Gêmeos diferentes?' Exclamei. Ora, Jacó e Esaú também não eram diferentes?! Quando ela os viu, a desgraçada gritou como uma louca: 'MONSTROS! MONSTROS! SÃO TODOS MONSTROS, MEU DEUS'. As crianças, indefesas, choravam querendo colo. Como pode uma mãe odiar um filho do modo como ela odiou?!

"Com a mesma navalha que usei para tirar meus meninos daquela estúpida, enfiei no seu pescoço fazendo espirrar sangue sujo nos meus meninos. Aquilo serviu de alimento para eles. Em vez de leite, ela lhes deu seu sangue. Muito sangue. Coloquei as crianças no chão e elas engatinhavam, lambendo aquele sangue imundo do pescoço e da sua boceta. Chupavam avidamente a mãe, satisfeitos. E, a partir de então, até hoje eles adoram o sangue. É o prato principal deles".

- De que garota você está falando? Quem é mãe desses meninos? - perguntou Ulisses, atônito.

- Ora, minha progênita, policial de merda.

Ulisses petrificou.

- Você bem se lembra dela. Ah, lembra sim. Era uma garotinha que tinha pelos de antenas de barata por todo o seu corpo, sobrancelhas, nariz, inclusive da sua bocetinha. Eu mesmo aparava com tesourinha.

- Você é um doente, Armélio! Como pôde abusar da sua própria filha? E matá-la?

- Por que ela foi uma estúpida! Impugnou uma tradição de séculos de nossa família. O sexo, seja com animais, com parentes, nosso deus SHEBU nos concede lindos descendentes, e a vagabunda quebrou toda a nossa corrente. Agora estou sendo sacrificado por aquela estúpida. Mas, deixei herdeiros. Herdeiros que amo e que continuarão, em nome de SHEBU, o nosso ritual sagrado.

Ulisses, estupefato, sacou sua pistola pela primeira vez na vida, mas foi interceptado por feição de Sapo, o Rango, que num bote ligeiro, tirou a arma das mãos do policial.

- O que pensavas em fazer, seu energúmeno? Perdeu a sobriedade?

Feição de porco tinha em suas mãos um imenso machado e a toda hora ameaçava Ulisses.

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