Para Onde Vão As Estrelas (2.Continuação)

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  Foi tudo muito estranho. Eu já não conseguia ver mais o Josh como um simples amigo. Josh agora era uma das pessoas mais importantes da minha vida, e eu morria de saudades quando passava um dia sem o ver. Eu ficava rabugenta, respondona, muito azeda mesmo. A única pessoa que sabia do meu segredo, da minha paixão pelo Josh, era minha avó Lalá.

Minha vovó Lalá tinha noventa e três anos de idade, mas era tão sábia e lúcida. Eu vivia grudada nela ouvindo suas histórias ou leituras. Foi quando, certa tarde, disse a ela do meu amor pelo Josh. Vovó Lalá sorriu; não um sorriso debochado, como que desdenhando um amor de jovem, mas sim um sorriso brilhoso, tal qual as estrelas que eu via no céu.

— Que sorte tem este garotinho. — a vovó respondeu.

— Sorte? Por quê, vovó?

— Por ser o primeiro amor da minha netinha querida. Sabe que você nunca irá esquecê-lo, não é?

— Por quê, vovó? — continuei perguntando.

— Ora, pois você nunca ouviu falar que do primeiro amor a gente nunca esquece?

Eu sorri, abraçando a minha vovó. Eu não sabia se ela tinha razão ou não, eu só sei que pensava no Josh, a cada minuto, a cada gole de café, a cada palavra lida nos meus livros. Ele estava nos meus contos, nos planos de vida que eu fazia com as minhas bonecas. Se o Josh soubesse disto ele me mataria. Ele odiava brincadeiras de bonecas, assim como eu odiava vídeogames. A verdade é que a gente vivia brigando. Josh sempre puxava minha xuxinha soltando meus cabelos crespos, e eu apertava o seu nariz, coisa que ele odiava pois tinha alergia, e ficava espirrando quase o dia inteiro. Eu sei, eu sei, eu pegava pesado com ele, mas eu sabia que depois ele perdoava, como sempre perdoou.

Depois que Josh criou o telescópio, nossas visitas na colina aumentaram ainda mais. Estávamos apaixonados por cada uma daquelas estrelas lá no céu, e eu mais ainda por Josh. Eu não sei se ele sabia, e também não sei se ele sentia algo por mim, só sei que o seu sorriso quase batia nas orelhas quando me via.

Certa tarde, quando saímos do colégio, uns dois quarteirões mais à frente, nos deparamos com três garotos arrogantes do oitavo ano.

— Olha quem vem aí, se não é o nerd e sua namoradinha gruda no pé.

Não demos a mínima para eles, e continuamos a caminhar.

— Ei, eu tô falando com você, rapaz! — continuou o garoto batendo com as duas mãos no peito de Josh que recuou agonizante.

— O que vocês querem com a gente? — eu inquiri.

— Olha a namoradinha defendendo o pobre coitado. Você não tem vergonha, rapaz? Sua namorada é mais corajosa que você.

— Ela não é a minha namorada. — disse Josh.

— Não é sua namorada? Então o que diabos vocês fazem todo final de tarde no alto da colina, hein? Toda a cidade sabe que vocês são namoradinhos, ai que fofinho.

— Nós vemos as estrelas. — eu respondi. — Agora deixem-nos em paz.

— Ah, então é por isso que andam com essa mochila de um lado para o outro? O que tem nela? Anda, me dá! — mas Josh não cedeu, e o garoto ficou muito zangado puxando a mochila das mãos dele. Foi quando ele puxou um canivete e Josh se rendeu entregando a mochila. — Quando eu pedir alguma coisa, me dá. Não se faça de espertinho.

Dizendo isso, o garoto tirou da mochila de Josh o seu telescópio e começou a pisar, junto dos outros amigos. Vi Josh lagrimando e não consegui evitar minhas lágrimas também.

— Pronto! Agora não tem mais lupa nem nada. Se quiserem ver estrelas é só me pedir que bato a cabeça de vocês na parede até conseguirem ver. Agora dão o fora daqui! A colina não é lugar de brincadeira. Crianças já se machucaram ali, enquanto corriam. Andam! Dêem o fora.

E fomos embora, antes que o grandalhão nos fizesse ver estrelas como o próprio disse.

Como ficou abalado o Josh. Eu disse a ele para que falasse com o seu tio para que ele desse uma bronca no garoto valentão, mas Josh disse para que eu deixasse para lá.

— Eu devia ter enfrentado ele. — disse Josh.

— Você não podia com ele, Josh. Além do mais, eles estavam em três. Seria muita covardia.

— Covardia foi eu não ter reagido. Você tem razão, Pietra, eu só sou tamanho mesmo.

— Não, você não é só tamanho, Josh. Você é uma pessoa muito especial. Não ligue para o que outros falam ou pensam de você, quando te criticam ou falam mal. Você é um gênio, criou um telescópio. O que aqueles cabeças de vento já criaram na vida além de discórdia e inveja? Não ligue para eles, ligue para as pessoas que gostam e pensam em você, pois estas pessoas sim, valem a pena escutar.

Josh tirou a carinha emburrada e deu um sorriso.

— Você parece minha mãe falando.

Agora sorríamos, esquecendo o que antes nos havia acontecido.

— É sério, Josh. Eu gosto de você.

Agora não sorríamos mais. Ficamos sérios, disfarçando. Estávamos sentados no banco da praça, então olhei para o relógio da igreja. Já iria dá oito horas da noite. Já era hora de ir pra casa e estudar.

— Você gosta mesmo de mim? — Josh me perguntou. Eu fiquei vermelha.

— Claro que eu gosto, né! Senão não estaria aqui com você como boa amiga lhe dando forças. — eu respondi me esguiando da sua pergunta.

— Não é isso. — Josh sorriu, meio que sem jeito.

— Então o que é, arranha céu?

— Nada não.

Ufa! Eu disse comigo, suando frio.

— Ei, eu tenho mesmo que ir pra casa. Hoje é meu dia de lavar a louça da janta. Espero que você supere isto que aconteceu hoje. — eu disse me despedindo.

— Está tudo bem. Eu já tinha até esquecido.

— Até parece. — sorri. — Bom, então até amanhã, Josh.

— Até amanhã, Pietra.
E fui correndo para a minha casa.

Continua...

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