𝐀𝐙𝐑𝐈𝐄𝐋, acotar

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𝐏𝐄𝐃𝐈𝐃𝐎 𝐏𝐎𝐑 @opsGabyy @Lyly_Schreave

Voar é algo que sempre me traz conforto em qualquer situação. Estar no céu ao lado de diversos pássaros e observar as montanhas de perto sempre me acalma. De dia o céu é lindo, decorado por diversos arco-íris e nuvens brancas, mas quando a noite cai e tudo escurece, quando as estrelas aparecem deixando o céu de Velaris brilhante, é ainda melhor. Sentir o vento bater no rosto a cada curva trazia uma emoção como nenhuma outra e, por esses e outros motivos, sempre amei ser illyriana.

Mesmo que voar me deixasse feliz, as coisas estavam tão conturbadas nos últimos tempos que nem isso me animava. Depois da queda de Amarantha, o rei de Hybern resolveu agir, deixando todos em estado de alerta máximo e preparados para qualquer ação a qualquer momento, por isso, os treinamentos estavam mais puxados e longos e a segurança mais reforçada. Ainda assim, alguma coisa me dizia que algo ruim estava prestes a acontecer, porém não sabia dizer o que era. Por alguns dias pensei que era apenas uma loucura da minha cabeça, mas o sentimento ruim não ia embora.

— No que está pensando? — Perguntou Azriel enquanto tirava uma mecha de cabelo do meu rosto, estávamos em silêncio há algum tempo.

— Nada demais — sorri, sincera. Tinha comentado com o meu parceiro sobre essa sensação que me seguia sem descanso, mas ele apenas disse para eu não me preocupar, que a ideia de uma guerra estava plantando pensamentos intrusivos na minha cabeça. — Você não deveria estar com o Rhys ou algo assim?

— Deveria, mas prefiro ficar com você — ele sorriu e se inclinou para me dar um beijo rápido. — Sei bem sobre o que está pensando. — As sombras de Azriel se enrolaram em meus dedos, também se espalhando pelo meu cabelo e pescoço.

— Como assim? — Pergunto, confusa.

— Sabe que não precisa fingir comigo, não é? — Fico em silêncio. — Nunca te contei isso — fez uma pausa — mas mesmo que tente privar seus sentimentos e pensamentos, às vezes você não consegue bloquear completamente e eu acabo sentindo algumas coisas pelo laço.

— Desculpe, mas a situação realmente me preocupa.

— Já te disse que isso são apenas pensamentos intrusivos, estamos seguros aqui — Azriel pega meu rosto com uma das mãos e me faz encará-lo. — Ninguém vai tocar em você, eu prometo. Sabe que é impossível alguém invadir Velaris, não sabe? Existem milhares de proteções para impedir qualquer intruso.

— Eu sei — lanço um pequeno sorriso em sua direção — é melhor você ir, Rhysand está te esperando.

— Me prometa que vai esquecer esse assunto — pediu.

— Tudo bem — ele me puxa para um abraço demorado e sinto quando um beijo é deixado em minha testa e uma carícia das sombras é deixada em meu pescoço.

— Nos vemos depois — confirmo com a cabeça e o observo voar para longe.

Decido continuar ali por mais um tempo antes de ir para os treinamentos e me deito na grama para observar o céu azul, meu corpo relaxa tanto que quase durmo sobre as flores, mas uma onda de gritos me acaba me assustando e meu corpo levanta completamente alerta. Do topo da colina eu tinha uma visão perfeita do Rio Sidra, de onde surgiu um borrão escuro com incontáveis criaturas aladas. Muitos feéricos corriam de um lado para o outro, mas de longe consegui avistar Cassian, luzes vermelhas dispararam de seus sifões formando um escudo no céu. As criaturas cinzas estavam espalhadas por todos os lugares, muitas delas bastante próximas de onde eu estava.

Um círculo de katanas turquesa surge ao meu redor quando o poder dos meus sifões são liberados, disparo algumas em direção ao céu e consigo derrubar dois deles. Quando uma das criaturas percebe a minha presença já é tarde demais, pois uma lâmina turquesa crava rapidamente em sua testa. Sinto a preocupação de Azriel pelo laço, mas continuo disparando katanas e tentando derrubar o máximo de inimigos.

Se não me responder vou ignorar as ordens que recebi e irei até você, a voz de Azriel surge em minha mente.

Estou bem, fique onde está, daqui tenho uma boa visão de cima e posso acertar os alvos com facilidade, respondo.

Me distraio nesse diálogo por um segundo e então sinto garras arranhando de leve uma de minhas asas, não é tão forte ao ponto de me causar dor, mas sinto a ardência do arranhão. Me movo rapidamente para desviar das garras e acabo batendo as costas em um tronco de árvore, a criatura pula em mim, me fazendo cair de costas no chão, minha outra asa acaba batendo em uma pequena rocha e solto um gemido de dor. Outra katana turquesa surge na minha mão e em um gesto rápido corto a cabeça do monstro cinza. Mais dois inimigos surgem ao mesmo tempo e consigo fazer um bom trabalho com a espada, arrancando braços, pernas e asas cinzas. Quanto mais eu luto, mais deles surgem.

Sinto a força dos meus sifões diminuindo rapidamente, mas continuo atacando e desviando. Não percebo quando um deles sai das sombras de uma árvore e me chuta para a beira da colina. Tento me equilibrar e levantar, mas a terra desliza e eu caio de cima, indo rapidamente em direção ao chão. Enquanto tento fazer minhas asas machucadas funcionarem, elas colidem com alguns galhos e rochas e acabam sangrando ainda mais, o desespero de Azriel me atinge quando chego ao chão e minhas costas batem novamente, mas dessa vez contra uma rocha. Vários borrões cinzas surgem em minha visão, muitos voando na minha direção para me ferir ainda mais. Queria ter forças para ficar de pé e lutar, mas sinto que minha energia e meu poder estão esgotados e meu corpo se recusa a reagir por culpa das dores que a queda causou.

O cheiro de sangue atinge meu nariz e levo uma das mãos até um dos ferimentos, lágrimas brotam em meus olhos quando percebo o dano causado. Quando as bestas tentam me alcançar e me ferir, uma explosão de azul escuro tinge minha visão e sinto as sombras de Azriel deslizarem e cobrirem todo o meu corpo como um escudo. Azriel parecia estar fora de si naquele momento, não restaram muitas criaturas ali, mas as que sobraram com certeza estavam sofrendo muito, porque o illyriano não parava de atacar nem por um segundo e ouvir o grito delas se tornava cada vez mais ensurdecedor. Podia sentir a raiva emanando do corpo dele enquanto se defendia e revidava brutalmente, nenhuma criatura poderia pará-lo.

Gostaria de ter forças naquele momento e levantar para ajudar, mas os ferimentos da queda doíam mais a cada minuto e, juntamente com o medo crescente que fazia meu coração bater cada vez mais rápido, senti dificuldades para seguir acordada. Tudo se tornou um borrão ao meu redor e um zumbido insistente me fez desejar arrancar minhas orelhas ali mesmo, até respirar tinha se tornado algo doloroso.

— Ei — Azriel virou minha cabeça em sua direção, ele estava coberto de sangue e o cheiro metálico me fez sentir vontade de vomitar. — Sei que você vai apagar a qualquer momento, mas me prometa que vai abrir os olhos novamente, por favor. — Deixou um beijo em minha testa e então me pegou no colo, provavelmente para me levar até uma curandeira. Não consegui responder porque perdi a consciência, mas Azriel sabia que eu jamais o deixaria sozinho.

Agonia, desespero, dor, tensão... Todos esses sentimentos me alcançaram assim que fiquei consciente, Azriel estava passando todos aqueles sentimentos para mim através do laço, sabia que não era intencional, mas mesmo assim era horrível e eu não gostaria de sentir aquilo nunca mais. Abri os olhos lentamente e rapidamente avistei meu parceiro sentado em uma cadeira ao lado da cama, ele encarava o teto e parecia mais quieto que o normal. As sombras se agitaram assim que perceberam que eu estava acordada e não demorou muito até o encantador perceber também. Azriel correu em minha direção e me puxou para um abraço esmagador e, nesse momento, acabei sentindo uma leve ardência em minhas asas.

— Elas estão curadas, não se preocupe, só vai arder por uns dias — disse Azriel, assim que percebeu o meu olhar em direção as asas. Sorri ao ouvir aquilo, sabia que seria difícil de lidar se eu as perdesse, então saber que ainda poderia me aventurar nos céus me deixou mais calma.

— Como você está, meu amor? — Deixei um beijo em sua bochecha.

— Bem... — ele riu. — Foi uma boa tentativa, sabe? Mas não vai conseguir se livrar de mim tão facilmente — me abraçou ainda mais forte e acariciou minha bochecha.

— Não se preocupe — rebati. — Vou me esforçar mais da próxima vez, encantador de sombras.

Apreciei o conforto e o calor ao ser abraçada, as sombras circularam ao nosso redor como um casulo protetor e Azriel aproximou o rosto do meu. Sabia que depois de tudo Azriel se tornaria ainda mais protetor, mas não me importava muito, aceitaria toda a proteção do mundo se isso garantisse que, no final da noite, Azriel e eu estaríamos juntos trocando carícias e nos amando.

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒, universo literário [EM REVISÃO]Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora