𝐀𝐙𝐑𝐈𝐄𝐋, acotar

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𝐏𝐄𝐃𝐈𝐃𝐎 𝐏𝐎𝐑 @Isabelaa_Lunaa

O momento mais odiado por mim infelizmente tinha chegado, mas era a última vez no ano e agradeci mentalmente por isso. Havia uma linha tênue de amor e ódio nessa situação, porque, sendo uma feérica, só passava por isso duas vezes no ano e me sentia grata e azarada ao mesmo tempo. Nesses dias, a solidão era minha melhor amiga, porque o meu pai se recusava a permanecer ao meu lado e enfrentar meus momentos de raiva, preferindo manter uma distância segura.

Meu parceiro decidiu me fazer companhia, já que, nas palavras dele, eu aparentava estar calma e triste demais para ter qualquer atitude perigosa. Meu instinto assassino, como o meu pai gostava de nomear, estava dormente. Então, Azriel pediu um dia de folga para passar o dia ao meu lado e cuidar de mim.

Meu pai o recebeu assim que ele chegou, desejando sorte ao illyriano antes de finalmente sair de casa. Azriel riu das palavras dele e subiu até o meu quarto, onde me encontrou enrolada em vários cobertores.

— Eu trouxe algumas coisas — as palavras dele me fizeram virar o rosto para espiar a sacola cheia que ele segurava, vendo de longe, pareciam ser doces.

— Não era para você estar fazendo "coisas de espião''? — Faço aspas com as mãos, minha voz soando baixa e melancólica. — Pensei que a folga tinha sido negada.

— Rhysand acabou autorizando, eu não seria útil em uma missão se estivesse com o pensamento em outro lugar — respondeu, sorrindo. — Vou te fazer companhia.

As sombras dele correm até mim, envolvendo meu corpo protetoramente e confortavelmente como um casulo. Assim que se aproxima, Azriel me entrega os diversos doces da sacola e alguns remédios também. Mesmo após me medicar, as dores continuaram, me deixando profundamente irritada.

A cada cinco minutos, o encantador de sombras saía do meu lado para realizar meus pedidos e vontades. Ele me fez uma xícara enorme e fumegante de chá, massageou meus pés e até penteou meu cabelo. Apesar de tudo, minha irritação só aumentou, porque a dor também aumentava a cada hora.

— O que mais eu preciso fazer? — Pergunta, quase impaciente, pressionando a mão sobre minha barriga.

Assim que ele me tocou, a dor piorou. Em um momento de irritação, levanto a perna esquerda minimamente e Azriel mal teve tempo para raciocinar, quando ele se deu conta do que estava acontecendo, já se encontrava caído no chão, com as asas dobradas de mal jeito atrás das costas. Vários resmungos escaparam dele enquanto se levantava.

— Para quem está com dor, seu chute continua bem poderoso. — Alfineta, passando as mãos pela calça para tirar o pó.

Começo a rir da expressão dele, enquanto suas sombras dançam ao meu redor, como se estivessem debochando da situação, assim como eu. Ele acaba se rendendo, rindo junto comigo e se sentando ao meu lado na cama.

— Canta uma música para mim — peço, manhosa.

Um brilho, já conhecido por mim, toma os olhos dele. Azriel sempre gostou de cantar e, na minha opinião, ele fazia isso muito bem. Ele vai até o canto do meu quarto e pega o violão preto da parede, respirando fundo antes de começar a cantar uma das minhas músicas favoritas.

Torn down, full of aching
Somehow our youth would take the blame
Worn out, the way we let it stay

Despedaçado, cheio de dor
De algum modo, nossa juventude levaria a culpa
Esgotado, do jeito que deixamos que ficasse

Assim que a voz dele alcança meus ouvidos, meu coração aquece. Eu amava ouvi-lo cantar, porque sabia que isso fazia ele feliz, então sempre pedia para que ele o fizesse, e me sentia privilegiada por isso.

Taught how to celebrate it
All out, I'd replicate your pain
Climb down, if only for a taste

Ensinados a celebrá-lo
Por completo, eu replicaria sua dor
Desça, ainda que por um gosto

Minha dor diminuiu aos poucos e meu corpo ficou mais confortável. Busco pela xícara com chá, bebendo um pouco e apreciando o sabor das amêndoas pinicando minha língua. Sempre fiquei sozinha nesses dias ruins, meu pai odiava me fazer companhia e isso me fazia sentir falta da minha mãe. Porém, apesar de tudo, amava muito o meu pai.

Hallowed, but hesitated
Shallow, but full in all your veins
Shadowed by every other weight

Venerado, mas indeciso
Superficial, mas completo em todas as suas veias
Obscurecido por qualquer outro peso

Me surpreendi quando vi Azriel parado na frente da minha cama, já que ele tinha dito que não conseguiria me fazer companhia como tinha prometido. A atitude dele me deixou ainda mais chorosa, mas também feliz, principalmente por saber que poderia contar com meu parceiro para qualquer coisa e qualquer momento ruim.

Hollow, a doubt can make it
Borrowed a love that never came
Followed in every other shade

Vazio, uma dúvida poderia torná-lo emprestado
Um amor que nunca veio
Eu segui qualquer outra sombra

Os dedos dele se moviam delicadamente pelas cordas do violão e observei cada pequeno detalhe dele. A aparência de Azriel sempre foi surreal e de tirar o fôlego de qualquer uma, mas o que mais me encantava eram os olhos dele. A cor me fazia lembrar de um campo de aveleiras, um lugar que minha mãe costumava me levar quando era apenas uma criança. O último lugar que nós visitamos antes dela adoecer.

Let it lead your love away
I never strayed
Let it bury you away
In all your blame, in all your pain
I will carry you always

Deixe isso levar seu amor embora
Eu nunca me afastei
Deixe enterrá-la
Em toda sua culpa, toda sua dor
Eu te carregarei sempre

As sombras acariciavam meus braços a cada nota do violão, flutuando como fumaça ao vento. Senti que a exaustão estava tomando conta do meu corpo aos poucos, toda aquela atmosfera acolhedora me aquecendo e liberando minha serotonina. Pelo laço de parceria, senti que Azriel se encontrava da mesma forma.

Let it lead your love away
I never strayed
Let it bury you away

Deixe isso levar seu amor embora
Eu nunca me afastei
Deixe enterrá-la

Um vento repentino atravessou a janela, adentrando o quarto e espalhando o cheiro de lavanda por todo o ambiente. Senti meus olhos se fecharem lentamente, mas apesar de lutar para me manter acordada, acabei dormindo, apreciando a voz melodiosa de Azriel até o último segundo.

Fade me away, I won't ever be the same
Fade me away, I won't ever be the same
Fade me away, I won't ever be the same

Me desfaça, eu nunca serei o mesmo
Me desfaça, eu nunca serei o mesmo
Me desfaça, eu nunca serei o mesmo

Depois que a música acabou, ainda não tinha dormido completamente, então vi quando ele deixou o violão de lado e se aproximou de mim, jogando os cobertores sobre nossos corpos e deixando um beijo rápido em minha testa, finalmente adormecendo ao meu lado.

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒, universo literário [EM REVISÃO]Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu