Sinceramente, não sei o que fiz para merecer essa punição.

Quase quero voltar a treinar na sede, quase.

Enquanto corro, observo Lisa Ferraz tirar a saia que já não cobria muita coisa e quando revelou a parte de baixo do biquíni, tive que tirar a garrafa do suporte na esteira e beber alguns goles.

E como qualquer pessoa esperta e prevenida, a bendita precisa protetor solar. Seus lábios se movem, a princípio pensei que estaria conversando com alguém, mas ao olhar bem reparo nos fones de ouvidos.

Como se só estivesse aproveitando sozinha, como se ela não tivesse me visto aqui. Talvez eu queria um reconhecimento da minha presença. Um rubor em suas bochechas. Um olhar envergonhado.

Mas Ferraz segue inabalável, pegando o protetor solar, despejando uma boa quantidade nas suas mãos. Ela estar de costas para mim, não melhora a minha tortura e abaixar-se para espalhar o líquido em suas pernas não ajuda em nada.

Confiro se o ar condicionado da sala está ligado.

É quando percebo um pequeno sorrisinho da perversão em pessoa.

Ela está fazendo de propósito.

Seguindo seu show, começa a esfregar o próprio abdômen com o creme, sobe para o vale entre seus seios, pescoço e desce para os braços. Tudo bem devagar, bem torturante.

Olho para as informações na esteira, já estou correndo por 2,5 km.

É então que eu penso; que tipo horrível de pessoa eu seria se deixasse Lisa jogar esse jogo sozinha?

Que tipo horrível de vizinho eu seria se eu não fosse ajudá-la?

As costas da coitada vai ficar toda queimada.

Quer saber?

Natação dá uma cardio muito boa.

Apressadamente, pego minha garrafinha, desligo a máquina, o ar condicionado, pego as chaves e saio em direção ao deck o mais silencioso possível.

Minha camiseta virou coisa do passado, me apropriando mais para realizar meu plano. E como se tivéssemos um imã, ela vira olhando para a minha direção.

Observo através das lentes dos óculos que seus olhos arregalam-se um pouquinho, imersa nas músicas que estava escutando deve não ter percebido que não estava mais apreciando o espetáculo ainda na academia.

— Bom dia, vizinha. — Cumprimento-a quando ela tira os fones.

Lisa balança a cabeça.

— Byrne. — Só diz isso, antes de virar de costas para mim novamente. Ignorando completamente a minha presença, a única coisa que delata é a postura mais rígida.

Aproximando mais, pego o protetor solar que ela tinha deixado na espreguiçadeira.

— Acho que você esqueceu de passar nas suas costas. — Aviso e ela suspira.

— O que você veio fazer aqui, Byrne? — Fala me olhando sobre o ombro.

— Vim exercer as regras da boa vizinhança. — Declaro balançando o protetor como uma oferta e completo dizendo baixinho. — A menos que você se sinta desconfortável.

Ferraz bufa e aposto que se ela estivesse virada para mim, estaria revirando os olhos.

— Por favor, irlandês. — Como se fosse um insulto ela ficar desse jeito e retira o cabelo de suas costas.

Antes de começar, olho para os lados procurando algo que reflete nossa imagem e a viro para ficar de frente a janela da academia. Não é o ideal, porque o vidro não é espelhado, mas serve para que eu veja cada reação dela e que ela me observe.

Príncipe dos CircuitosWhere stories live. Discover now