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𝙰𝚈𝙰𝙽𝙽𝙰 𝙼𝙰𝙶𝙰𝙻𝙷𝙰̃𝙴𝚂
𝟶𝟸/𝟶𝟼/𝟸𝟶𝟸𝟸

Eu vou sair com o camisa 9 e como eu sou de palavra vou ir. Depois daquele dia no jogo, ele me mandou mensagem combinando tudo pra essa saída e não me deu informação de nada, só do horário pra mim estar pronta.

Tomei banho, fiz minha skincare, hidratei meu cabelo e a pele, pra pelo menos causar uma boa impressão no jogador, porque aquele dia depois do jogo eu estava encharcada de suor. Certeza que naquela hora Rexona já tinha me abandonado fazia tempo.

Agora eu tô parada na frente do espelho com a toalha enrolada no corpo e só tava com uma dúvida, qual roupa eu iria colocar?

Não sei pra onde Gabriel vai me levar, mas deve ser chique, eu acho, o cara tem mó dinheiro. Não quero ir muito arrumada e nem muito desarrumada.

Homenzinho filho da mãe. Nem pra dizer onde nós vai.

Peguei meu celular e liguei para as meninas que moram juntas no condomínio na frente do meu.

LIGAÇÃO ON

-Ei suas kengas, preciso que venham aqui - faço biquinho - Não sei qual roupa colocar pra sair com o camisa 9.

-Mas já é hoje? - confirmo com a cabeça - Vai pelada é uma boa opção - Madu fala rindo. Sério, essa mulher é maluca.

-Ok, eu e a Madu vamos ir aí agora, nos dá uns 5 minutos - desligo a ligação e vou fazendo uma maquiagem.

LIGAÇÃO OFF

Meu apartamento fica em Ipanema de frente pra praia e já fazem 3 anos que eu moro aqui. Nasci na maior favela do Brasil, a favela da Rocinha, morei lá por muito tempo e tive uma infância bastante feliz, apesar de certas situações que quase todo morador de favela passa.

Meu pai, o torcedor mais flamenguista que eu já conheci até hoje, era árbitro de futebol de alguns pequenos campeonatos da época e minha mãe depois de um tempo se tornou professora de história. Meus pais tiveram o primeiro filho, meu irmão Matheus, quando minha mãe tinha 16 anos e meu pai 21, os dois só queriam se divertir mas a diversão deles se transformou em um amor incondicional. E eu digo isso com todas as letras porque eles foram o casal mais apaixonado que eu já vi nessa vida.

Eles namoravam escondido e quando minha mãe apareceu grávida foi expulsa de casa, o meu pai levou ela pra casa e os meus avós paternos foram os que apoiaram os dois 100% naquele momento. Quatro anos depois a princesa aqui, vulgo eu, nasci, logo após a comemoração de umas das diversas vitórias do Flamengo em 1996.

A Rocinha e a minha família tinham o meu coração todinho, só que depois de um certo episódio que eu vivi lá, não via a hora de tirar meus familiares dali.

Tive muitos aprendizados e experiências lá. Sempre falei que lá é um bom lugar para se crescer, mas tudo depende da criação de cada um. A educação, a maturidade, o respeito, a responsabilidade e honestidade sempre foram os princípios dos meus pais, mas nem toda criança tem essa base familiar.

Meu pai me deixou obcecada em futebol e principalmente no Flamengo, quando ele morreu três anos depois do meu irmão caçula nascer decidi seguir a carreira dele pra depois fazer minha faculdade. Assim que comecei a ganhar uma grana boa trabalhando como árbitra, tirei minha família da Rocinha. A violência, a drogadição, os confrontos entre traficantes e policiais sempre foram presentes, por causa disso perdi pessoas especiais e esse era o meu medo constante, não queria perder mais ninguém importante por causa do crime.

𝐃𝐑𝐈𝐁𝐋𝐀𝐍𝐃𝐎 𝐎 𝐃𝐄𝐒𝐓𝐈𝐍𝐎 • 𝐆𝐀𝐁𝐈𝐆𝐎𝐋Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu