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Na hora em que ouvi e assimilei o que ele havia dito, minha cabeça rodou, vi tudo escurecer e a única coisa que me lembrava, era do semblante de Lucas assustado, correndo em minha direção. Após isso, minhas vistas escureceram e a voz dele entrou em meus ouvidos, bem baixa.

— Gabriela!? Gabriela!!!

[....]

Barulho de mar, mais uma vez. Pude ouvir as ondas se quebrarem e fui abrindo os olhos, com dificuldade. Parecia que haviam se passado trezentos dias e esse barulho, que era para ser algo que acalma, insistia em entrar nos meus ouvidos como arranha-céus. Meu coração palpitava, minhas mãos soavam, esse barulho havia se tornado um marco ruim em meu corpo. Um marco de que eu ainda estava longe da minha vida, de Gustavo, da minha liberdade.

— Você contou para ela? Meu Deus! Como você é burro!

Ouvi uma voz feminina berrar porta fora. Eu estava novamente deitada naquela cama, naquele quarto.

Suspirei, prestando atenção e fui me levantando devagar. Era dia, ainda?

— Foi um impulso.

Lucas respondeu, com a voz baixa.

— Um impulso burro! Por isso que você não consegue o que quer, atropela as coisas, burro!

Mais uma vez, aquela voz feminina, que não me era estranha, berrou.

— Não precisa falar assim também, ela precisava saber, ela vai ser mãe.

Lembrei-me do que foi dito e arregalei meus olhos. Me levantei da cama, rápido e fui até a porta semi-encostada. Olhei pela fresta, era Júlia. Lucas e ela, estavam em uma discussão calorosa.

— Oras, Lucas! Mãe? Que sentimentalismo barato. Está com pena dessa vagabunda?

— Não estou com pena, Júlia. É só que eu senti...

— Porra, sentiu o que? Burrice?

— Ela vai ser mãe, Júlia, não sei, porra! Senti que deveria contar a ela. Nisso tudo, ela é a única que não tem culpa.

— Não tem culpa? Você tá ficando maluco? Era só o que me faltava! Ela é uma vagabunda, igual a mãe do Gustavo! Ou você esqueceu a história da sua mãe? Ou será que...

— Júlia...

— Ela tá fazendo o mesmo com você, né?

— Ah, não entra nessa, Júlia, pelo amor de Deus.

— É, você tá sendo homem, como todos os outros, burro, tá sendo seduzido por essa piranha. Olha... uma coisa em comum que os irmãoszinhos tem.

— Chega! Cala a porra da sua boca. Chega!

— Acho que você esqueceu com quem você tá falando.

— Não, eu acho que você esqueceu, Júlia. Se parasse de falar tanta merda, se lembraria.

— Eu vou embora e digo mais, quando você se lembrar do nosso propósito, me liga. Enquanto for esse fracassado que você vem fazendo questão de ser, não me procura.

— Júlia, temos que conversar ainda, fica aqui.

— Eu só vou te dar um último aviso, que foi o que vim fazer, Gustavo já quebrou a barreira da Costa e da Viana, perdemos quatorze dos nossos, continua tendo dó, que o próximo é você. Tchau!

Dito isso, Júlia falou e saiu, batendo a porta. Sorri ao ouvir e encarei minha barriga. Um sentimento de emoção me invadiu e eu respirei fundo.

Ele não me abandonou.... ou melhor, nos abandonou.

Subi o olhar novamente e continuei observando, Lucas andava, de um lado para o outro, inquieto e pensativo. Ele pegou o celular e começou a mexer nele. Parecia ler algo, atentamente. Alguns segundos e ele soltou, encarando a porta, me escondi e fui andando rapidamente de volta para a cama.

Me posicionei, deitada, como estava e fechei os olhos. Senti quando ele entrou e veio até a cama, sentando ao meu lado. Fui abrindo os olhos devagar, fingindo estar sonolenta.

— Eu já ia te chamar.

Lucas sussurrou, me encarando.

— O que aconteceu?

— Você teve um mau-súbito. Acho que te dei uma notícia grande demais em um momento inoportuno, me desculpa.

— Fica tranquilo, eu te agradeço por ter me contado, mesmo que eu não esteja onde queria estar.

Falei, sem pensar. Lucas respirou fundo, enrijecendo o corpo.

— Como você tá desacordada desde ontem, eu mandei fazer um café reforçado para você. Eu não vou estar aqui hoje, mas tem uma enfermeira que vem aí, para cuidar de você. Se sente bem?

Perguntou ele, seriamente.

— Desde ontem?

— Sim.

— Meu Deus.

— Você também teve um sangramento e...

— Um sangramento? E meu bebê?

Gritei, me levantando.

— Calma, Gabriela. Tá tudo bem com o bebê, tá tudo bem com você. O sangramento foi controlado. Eu preciso parar de te dar notícias.

Ele brincou, segurando em minhas mãos. Sorri, balançando a cabeça e apertando suas mãos de volta.

— Eu concordo.

Falei, ô encarando. Senti o clima ficar estranho, talvez, íntimo demais. Me senti desconfortável quando percebi nossas mãos entrelaçadas. Puxei minhas mãos e ele, que ainda me encarava, levantou, me dando as costas.

— Eu... preciso ir. Qualquer coisa peça para me ligarem.

Disse, saindo porta a fora, como um foguete. Arqueei a sobrancelha, tentando entender tudo aquilo e encarei minha barriga, pela primeira vez, levei minhas mãos até ela e a toquei devagar.

— Ei... Você tá bem, aí, sementinha?

Sussurrei, engolindo em seco. Em seguida, pisquei os olhos e me deitei novamente, pensativa.

La puta llWhere stories live. Discover now