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Ele desviou assim que chegou bem perto de mim e seguiu a rua em disparada, indo embora.

Dei graças a Deus umas quinhentas vezes, meu corpo se arrepiou mais ainda. Olhei para trás e vi a moto se afastando, algo de muito ruim invadiu meu coração, uma sensação de aperto.

Me lembrei da prova do vestido.

Santo Pai!

Decidi ignorar aqueles pensamentos, era só um dia ruim. Em seguida, saí correndo dali.

[.....]

Alguns passos a frente, consegui chegar no ateliê. Fui adentrando assim que cheguei na porta e avistei, já lá dentro, Paloma fazendo alguns ajustes no vestido.

— Esse verde limão ficou tão lindo em você. Minhas madrinhas vão estar impecáveis.

Comentei, fechando a porta atrás de mim e tentando amenizar o assunto: esqueci da minha própria prova.

— Meu Deus! Até que enfim, minha filha! Como você esquece de algo assim, Gabriela? Sua prova de vestido! Algo importante!

Aos berros, minha mãe veio caminhando até mim, com algumas agulhas e linhas na mão. Olhei para ela, beijando seu rosto.

— Oi, mamãe.

Cumprimentei, sem ânimo.

— Tivemos que escolher muitas coisas as pressas. Estamos deixando a Lourdes louca sem você e suas medidas. Até a Paloma serviu de cobaia mas nenhum corpo aqui era o seu. Como você me apronta isso, assim? E nossa, minha filha, como está vermelha. O que houve?

Ela não parava de falar, analisar e julgar absolutamente tudo. Mamãe estava trabalhando nesse ateliê a uns bons meses como auxiliar. Isso tinha a ajudado a espairecer a cabeça e também, dado uma trégua nos pitacos sobre a minha vida. Tinha ocupado a mente e poupado a minha paciência, o problema era que, sempre que eu errava em algo, lá estava ela, com a língua solta.

— Aconteceu um acidente horrível agora, um cara quase me pegou com a moto enquanto eu atravessava a rua, vindo pra cá. Muita coisa pra resolver, estou a beira da loucura.

Tentei desviar o assunto. Todas me olharam assustadas quando terminei de falar.

— Nossa, amiga. Que perigo.

Paloma falou, preocupada.

— Jesus! Que isso, não se tem mais segurança nem atravessando as ruas. Não respeitam nada.

Minha mãe esbravejou. Agora parecia que eu tinha lhe dado uma resposta convincente.

Amém, igreja?!

Eu assenti, mesmo não contando o que de fato tinha acontecido. Ela ia me xingar em dez línguas diferentes se eu contasse como a história realmente foi, então, deixei daquela maneira, preferindo ser a vítima da situação.

Dona Lourdes, a dona do ateliê, surgiu de trás da cortina, e veio em minha direção, totalmente inquieta.

— Olá, minha querida. Venha comigo, precisamos dessas medidas certas ainda hoje. Vamos, venha, rápido.

La puta llWhere stories live. Discover now