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— Significa o que você está vendo.

Falei, tentando ser firme. Minha voz saiu mais tremula do que eu esperava.

Eu não podia continuar encarando-o, sabia que isso iria interferir no que eu estava fazendo, sempre interferia.

— Quer que eu vá embora?

Ele perguntou, sussurrando novamente. Meu coração gelou e doeu quando ele terminou de falar.

Não era isso.

Olhei para as últimas peças dele no armário e estendi a mão, pegando com calma. Minhas mãos pareciam ter travado ali. O perfume de Gustavo foi chegando perto demais, assim como seu corpo. Ele deslizou suas mãos pelos meus braços e parou no cabide. Minhas pernas ficaram mais tremulas do que já estavam.

Gustavo puxou o cabide, tirando-o do armário e pegou a roupa. Ele colocou sobre a mala e à bateu, fechando.

— O que você tá fazendo?

Perguntei, me virando. Ele me encarou, apoiando a mão sobre a mala.

— To terminando o que você estava fazendo. Não é isso que você quer?

Gustavo respondeu, em tom irônico. Em seguida, ele colocou a mala no chão, com cuidado.

— O que eu queria mesmo era que você, uma vez na sua vida, fosse claro comigo.

— Clareza?

Ele insistiu no tom irônico, e agora, havia gritado.

— É, Gustavo, clareza!

Gritei de volta, gesticulando com as mãos.

— Você quer clareza ou você quer me obrigar a falar de um assunto que é difícil pra mim? Porque, se eu não fizer o que você quer, não está bom pra você?

Gustavo gritou tão forte que senti meus tímpanos doerem. Em seguida, ele soltou a mala no chão. Me encarava tão intensamente e de forma tão raivosa, que meu corpo estremeceu com a lembrança do "carrasco". Aquilo havia sido um pouco cirúrgico demais.

— Não me venha fazer esse jogo de que..

— Jogo, jogo e jogo... Você só sabe falar essa merda! Desde que desisti de tudo por você, eu não to fazendo porra de jogo nenhum, Gabriela, supera. Você tá presa no passado e porra, eu sei que tive culpa mas você tá estragando tudo, sempre trazendo o passado para o nosso presente. Eu não sou o de antes mas não vou fazer tudo o que você quer, sem respeitar o meu momento porque falhei com você no passado, não vou corrigir as coisas assim, dessa forma.

Ele esbravejou, desabafando. Tudo aquilo me acertou em cheio.

Droga! O senhor razão estava certo. Que merda! Santo Deus, preciso estar certa uma vez!

Respirei fundo, desarmando meu corpo. Eu odiava discutir, era sempre um caos, minha dicção sempre ia com Deus e eu não conseguia formular uma frase inteira, nem me expressar da forma como eu queria, para argumentar a meu favor.

Caminhei até a cama e sentei nela, virada de costas para ele e calada. Tentava achar algum argumento mas nenhum era tão explicativo o suficiente.

Eu só queria... te acessar.

Gritei, cruzando os braços.

O argumento mais tosco que eu já tinha usado, era melhor dizer a verdade: "Bofe! Quero saber dessa fofoca da sua vida, desembucha logo!"

Senti a respiração funda de Gustavo nas minhas costas. Há tempos eu não tirava tanto a paciência dele e, pelo visto, ele não estava com saudades da minha versão irritante. Nem eu.

— Você quer me arrancar coisas difíceis para mim. Não é que eu não vá te contar, só preciso entender e resolver o que tá acontecendo.

Ele explicou, abaixando o tom de voz.

— Mas é injusto eu ficar sem saber, se eu já sei que tem um problema, você fala tanto sobre dividir uma vida e não divide a sua comigo.

— Gabriela, não é sobre não dividir, eu só não vou fazer no seu tempo. Porra! Você é difícil demais de entender as coisas quando não quer.

— Eu não quero mesmo, Gustavo. Eu quero saber o que tá acontecendo na vida do meu parceiro de vida. É tão ruim assim?

Perguntei, me virando. Ele alisou o rosto, esticando a cabeça para cima e bufando.

— Já chega. Vou dormir na agência hoje.

Gustavo desistiu, caminhando até a mala e pegando-a.

— Tem certeza disso?

Me levantei, encarando-o. Ele não me olhou de volta.

— Não faz a menor diferença, até porque, não foi eu quem estava arrumando sua mala quando cheguei. Boa noite, Gabriela.

Ele falou, batendo a porta.

— Vai mesmo, dramático! Foge! Isso aí!

Gritei, enquanto um sentimento horrível de tristeza invadia meu coração.

Hoje, eu poderia ter cedido aos pedidos de Gustavo, o famoso "tempo para explicar" poderia ter sido respeitado por mim, eu sabia bem disso. Como também sabia que tinha sido irritante e evasiva com ele. Mas hoje, escolhi a mim mesma, escolhi não ignorar a intuição que tinha tomado meu corpo desde que vi aquele homem em cima da moto, vindo em minha direção. Que havia gritado desesperadamente quando ele falou no nome daquela mulher que quase levou Gustavo de mim. Algo estava acontecendo, eu não podia ficar parada, esperando tudo acontecer, sem lutar. Isso nunca havia sido o meu forte e não seria agora que iria ser.

La puta llWhere stories live. Discover now