EPÍLOGO: 1 de Setembro de 2019

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        O outono pareceu chegar de repente naquele ano. Ainda assim, o primeiro dia de setembro estava revigorante e dourado como uma maçã, e, por mais que estivesse atrasada para o almoço, Crystal caminhava tranquilamente pelas ruas de Londres com sacolas nas mãos. Sua respiração cintilava como teias de aranha no ar frio e sentia as pontas dos dedos e do nariz levemente gelados. Lesath caminhava mais a frente, parando de minuto em minuto para observar a dona. Às vezes, tinha a impressão de vê-lo lançar-lhe olhares acusatórios.

        Foi o que aconteceu quando ela parou para observar uma pequena praça à dois quarteirões do seu destino. Viu, por entre as poucas árvores, um espaço vazio no meio.

        Um dia houvera um poste ali. Nele, havia um símbolo que não deveria estar lá e umas palavras estranhas. E ele causara uma confusão sem tamanho.

        — Quem imaginaria que um poste pudesse fazer tal coisa? — murmurou para si, rindo sozinha, antes de ouvir um grunhido de seu cachorro. Rolou os olhos quando percebeu novamente que ele parecia julgá-la. — Ao invés de me olhar desse jeito, devia me ajudar a carregar essas compras.

        Em resposta, seu cachorro apenas voltou a andar e ela não pôde deixar de rolar os olhos mais uma vez antes de fazer o mesmo.

        Continuou sua caminhada até chegar em frente a uma casa que conhecia bem. Haviam vozes de várias pessoas conversando lá dentro — umas riam, outra obviamente ralhava pelo escarceu, e talvez duas delas discutiam alguma coisa. Subiu os poucos degraus da entrada e tocou a campainha. A ouviu ecoar lá dentro e as vozes continuaram, uma delas aumentando conforme vinha em direção à porta.

        — Ah, finalmente! — exclamou Cecília Phoenix ao ver a filha, se apressando para pegar as compras e correr para a cozinha. — Por que demorou tanto? O mercado nem é tão longe.

        Crystal riu do jeito da mãe e abriu espaço para Lesath passar primeiro antes de entrar também.

        — Não me diga que está fazendo tudo sozinha. — gritou para a mãe, ouvindo palavras de indignação.

        — Eu sei me virar na cozinha, muito obrigada!

        — Eu estou ajudando, fica tranquila! — ouviu a voz inconfundível de Aurora e sorriu para si. Então ela havia finalmente chegado para o almoço.

        — Filha, filha! — ouviu o pai chamar da sala logo ao lado e espichou a cabeça para dentro do comodo enquanto pendurava o casaco ao lado da porta de entrada. — Explique para ele de novo como resolver isso, vamos, explique.

        Crystal piscou duas vezes para o pai antes de voltar os olhos para quem, por um instante, pensou se tratar de Sirius com um cubo mágico em mãos: Deneb, tal como o pai, era alto e tinha longos cabelos negros levemente cacheados amarrados para longe dos olhos; diferentemente dele, tinha olhos azuis misturados com castanho-claro, além do estilo de roupas — Sirius dificilmente escolheria um macacão beje, camisa de mangas curtas branca e sapato marrom como vestimenta. Era um ótimo pocionista, trabalhando com Louise desde que se formara em Hogwarts.

        — É mais fácil pedir ajuda do tio Alex com isso. — sibilou Lira ao gêmeo, sentada onde estava no sofá. Dona de um sorriso maroto, era a cópia feminina de Sirius até na escolha do terno verde-esmeralda de veludo. A única diferença estava no corte de cabelo extremamente curto, talvez.

        — Tio Alex está ocupado em Hogwarts agora que vai assessorar em Trato de Criaturas. — contrapôs Deneb, devolvendo o cubo para o avô e beijando a mãe no topo da cabeça.

        Observando aquelas interações faziam o coração da bruxa aquecer. Momentos como aquele faziam Crystal ter completa certeza de que jamais mudaria as escolhas que fez — mesmo com as brigas que algumas delas causaram.

𝗠𝗨𝗧𝗔𝗧𝗜𝗦 𝗠𝗨𝗧𝗔𝗡𝗗𝗜𝗦,	𝒔𝒊𝒓𝒊𝒖𝒔 𝒃𝒍𝒂𝒄𝒌Where stories live. Discover now