56. Chalé das Conchas

267 30 1
                                    

        Fleur nunca havia andado tanto de um lado ao outro com o marido nos últimos tempos como havia andado naquela noite. Quando o fabricante de varinhas, Dino e Luna apareceram, ela ficou chocada mas agradecida de não estarem gravemente feridos; Louise e Crystal tinham os ferimentos mais recentes, mas o estado emocional era o que parecia mais abalado. Ela ajudou um a um sem pestanejar.

        Mas quando Hermione apareceu sendo carregada por Rony, com os lábios arroxeados e pálida como papel, Fleur sentiu um frio na espinha ao pensar que estivesse morta. Não estava, é claro — seu corpo trêmulo confirmava isso. Fleur deixou os outros para ajudá-la em um piscar de olhos, sentindo os olhos arderem de tristeza e ódio ao ajudá-la a se banhar e notar "sangue-ruim" escrito com cortes no braço.

        Enquanto Hermione era tratada, Louise estava com Gui ajudando os outros. Seus olhos iam da poção que preparava para o amontoado de gente no chalé e deles para a janela.

        Lá fora, Crystal estava sentada em completo silêncio ao lado da porta enquanto Harry cavava com uma espécie de fúria o lugar que Gui indicara no extremo do jardim: era ali, entre moitas e arbustos, que o rapaz enterraria Dobby. Ela não conseguia acreditar desde o momento que havia ouvido Harry gritar por ajuda, momentos depois dela mesma chegar ao Chalé das Conchas, que o elfo estava morto. Não conseguia tirar de sua mente os olhos grandes vítrios salpicado de estrelas, nem a faca de prata cravada no peito miúdo e sangrento.

        Talvez ele tivesse pensado se tratar da espada de Godric Gryffindor — que estava enrolada em um pano e dentro do chalé — quando Crystal dissera "cuidado com a faca de prata", mas não adiantava supor agora. Ela havia falhado de novo.

        Nunca salvaria ninguém? Nunca haveria um momento de paz?

        Suspirou silenciosamente e tentou focar no som das ondas batendo. Tinha que manter a cabeça no lugar, como Louise havia dito... Mesmo que houvessem milhares de pensamentos em sua mente que lhe causavam aquela sensação terrível de embrulhar o estômago, aquela inquietude sem fim que parecia fazer sua alma vibrar — e não de um jeito bom.

        Observou Harry mais atentamente: ela havia tentado abraçá-lo, mas ele estava alheio demais para retribuir; agora, fazia companhia enquanto respeitava seu espaço e via o luto atingi-lo de novo, tão cruel e dolorosamente como em todas as vezes anteriores. Ao vê-lo cavar com tanta fúria, negando a magia mesmo que estivesse exausto, a bruxa entendeu que Harry havia chegado ao seu limite de perdas.

        Havia ela chegado ao seu também? Se sim, onde estava aquela força motivada por um amor disfarçado de raiva? Por que se sentia, de repente, tão... Vazia?

        Aquelas perguntas ecoaram em cada canto do seu ser durante a noite toda, distraindo Crystal o suficiente para sequer notar que havia clareado. Parecia ter piscado e, de repente, estava coberta com uma manta e Louise estava ao seu lado; os outros estavam espalhados pelo quintal, terminando os últimos detalhes do velório improvisado. Talvez tivesse realmente dormido...

        Harry havia coberto o elfo com o próprio blusão há muito tempo, mas notou que Rony havia tirado os sapatos e as meias e colocado sobre os pés de Dobby, Dino havia conjurado um belo chapéu de lã; foi ideia de Luna fechar os olhos do ser que, de repente, poderia simplesmente estar dormindo. Os quatro disseram algumas palavras — Luna mais do que todos, pois não havia muito mais que nenhum conseguisse dizer — e Gui cobriu o corpo do elfo.

        Ela não quis sair do jardim, mesmo quando Harry pediu para ficar sozinho. Quando Louise a chamou, Crystal sequer pareceu ouvir — e aquele estado catatônico estava começando a preocupá-la seriamente. Com um último aperto no ombro, a loira os deixou também.

𝗠𝗨𝗧𝗔𝗧𝗜𝗦 𝗠𝗨𝗧𝗔𝗡𝗗𝗜𝗦,	𝒔𝒊𝒓𝒊𝒖𝒔 𝒃𝒍𝒂𝒄𝒌Where stories live. Discover now