48. Como Arrancar um Dente Mole

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        Não... Simplesmente não podia ser.

        Crystal encarou o caldeirão de Molly pelos próximos dez minutos enquanto esperava a mistura ficar pronta.

        — Não fique nervosa, meu bem. — murmurou Molly, olhando para a bruxa mais nova. — Se for mesmo o que eu acho que é, será uma boa notícia!

        — Não sei... Não tenho tanta certeza. — sussurrou Crystal em resposta, respirando fundo e tentando focar na conversa dos outros na sala de estar. Agora mal conseguia escutar uma palavra por conta do rádio. — Molly... — chamou e fitou a mais velha. — Eu sou de outro mundo... Lá, eu tinha dezesseis, dezessete anos... Mesmo que eu tenha o quê? Trinta e seis anos aqui e agora, ainda sim é loucura pensar nessa possibilidade. E estamos em guerra... Como posso sequer pensar em criar uma criança no meio disso?

        — Ei, ei... Respire. — pediu a ruiva e puxou a cadeira para se sentar o mais próximo possível da outra bruxa. — Eu entendo que sua cabeça deve estar uma bagunça agora, mas me ouça. Mesmo com a idade sendo algo confuso, você ainda é uma das pessoas mais responsáveis que eu conheço, minha querida. Sei que, mesmo que a situação fosse completamente outra e você estivesse grávida nos seus dezessete anos... — Molly fez uma careta pensando na possibilidade de gravidez tão nova. — Sei que não fugiria da sua responsabilidade e que se sairia muito bem nessa jornada. — apertou as mãos de Crystal e a mesma apertou de volta. — E, sobre essa época em que estamos...

        Os olhos de Molly vagaram um pouco e duas batidas leves no caldeirão chamaram a atenção de ambas. Tomando a deixa, a mais velha foi checar a poção.

        — Está pronta! — informou, servindo uma quantia em uma tigela pequena e colocando-a na frente da mulher de olhos âmbar. Com um aceno de varinha, o caldeirão soltou fumaça e sumiu. — Vamos precisar de um fio de cabelo.

        — E o que acontece? — perguntou Crystal, fazendo uma careta ao arrancar um fio e entregando o cabelo para a mais velha. A mistura cinza-claro estava fumegante, mas o cheiro era agradável: morango.

        — Após colocar o cabelo, deve mudar de cor... Cores quentes são positivas, cores frias são negativas. — explicou resumidamente, mas não jogou o cabelo na tigela como Crystal estava esperando.

        — Faça isso, rápido. — pediu a mais nova.

        — Isso não é como um dente mole que é melhor se arrancado rapidamente. — ralhou Molly, mas havia um sorriso reconfortante em seu rosto. — Crystal... Eu sei que o que está te assustando mais agora é essa guerra e como você pode ter um filho em meio a tudo isso. Eu entendo o medo de que algo possa acontecer melhor do que ninguém... — murmurou. A sra. Weasley devia estar com os nervos em frangalhos, sempre pensando nos filhos e em Harry. — Todos os dias nós pensamos se está tudo bem, se eles estão bem. E eu digo nós, porque sei que é assim para você em relação a Harry, você mesmo me disse isso.

        Crystal fitou a tigela novamente. Todos os dias ela se perguntava sobre Harry e, por um tempo, imaginou que todo o cuidado era apenas pela promessa que havia feito aos amigos no cemitério — ou talvez por culpa. Mas já passara do ponto em que o carinho pelo menino era apenas por senso de responsabilidade e culpa, ela não podia negar: se importava com ele como se fosse sua família, talvez como se fosse seu filho.

        — E, seja lá o que aconteça com eles, nós sempre estamos lá para ajudar, para amenizar as cargas. Para protegê-los o máximo que conseguirmos. Sempre.— continuou Molly. — Mas sempre um passo de cada vez... É o que terá que fazer, como deverá levar as coisas.

𝗠𝗨𝗧𝗔𝗧𝗜𝗦 𝗠𝗨𝗧𝗔𝗡𝗗𝗜𝗦,	𝒔𝒊𝒓𝒊𝒖𝒔 𝒃𝒍𝒂𝒄𝒌Where stories live. Discover now