A Discípula de Sun Wukong

32 | Fornalha

Valente

- Precisamos sair daqui! - começo a bater na porcaria do forno.

- Não grite! Podem acender a fornalha antes da hora! - Wukong segura minhas mãos.

- Estou nem aí! - me afasto dele.

- Conheço fornalhas como conheço minha caverna, sei onde podemos ficar sem nos queimar.

- E sair? Seria melhor saber sair do que ficar se desviando das chamas!

- Nada te faz feliz?

- Isso não me faz feliz. Era para ser algo simples: você dormir, o monstro sair, eu derrotar ele e todo mundo ficar feliz!

- É, realmente.

- Você não existe, sério. - Sento e tento não grunhir de raiva. Lembro do 1% de magia negra que aprendi com o Macaque. Tento criar portais de sombras que me tirem dali mas parece que meus poderes enfraqueceram desde que voltei de Yama's House, o lugar mais importante do submundo.

- Hey! Aonde aprendeu isso? - Wukong aponta para as sombras que saem de mim. Céus, mais um deslize desse e estou ferrada com F maiúsculo.

- U-um a-migo me ensinou.

- Macaque?

- Não lembro o nome, faz muito tempo que vi ele.

- Só pode ser ele.

- Me conta mais dele, quem sabe eu não lembre se foi ele mesmo ou não! Inclusive, me diz aonde ele foi parar... se ele sabe magia negra, a ajuda dele é bem-vinda.

- Você acha?! - Wukong avança sobre mim, me pressiona contra a parede do forno, segurando cada mão minha ao lado da minha cabeça.

- Dá para sair de cima?

- Aquele... aquele cara...! - ele se afasta resmungando alguma coisa.

- É seu namorado?

- O quê?! - Sun se vira para mim com os olhos esbugalhados.

- Heheheheheh...

- Engraçadinha - ele puxa seu bastão do ouvido e o faz crescer. - Melhor deixar isso comigo - passa a tentar quebrar a nossa cadeia.

- Vou usar magia negra que ele... ah... Macaque me ensinou, duas pessoas tentando, alguma coisa deve enfraquecer esse fogão.

- Não use isso - Monkey King repreende.

- Pode me dizer o por quê?

- Não é uma boa ideia depender de algo dele - Sun treme -, vai por mim. Ele... ele não está mais no mundo dos vivos e... e não acho certo usar algo dele dessa forma, sua partida foi recente, melhor guardar luto para sua alma descansar em paz.

- Sabe do quê ele morreu, Wukong?

- Eu... Não quero falar sobre isso. Temos... coisas mais importantes para fazer, como sair daqui - ele volta a espancar as paredes de forma mais violenta.

Ah agora quer dá uma de responsável! Quando é conveniente, ele adere a responsabilidades com foco absoluto, rei sacana. Vou alfinetar.

- Ouvi falar que um certo amigo o abandonou e isso causou a sua ruína. Será verdade?

- Ele já andava em maus caminhos, ninguém causou a ruína dele, além dele mesmo e...

- Tenho a impressão de que você sabe algo sobre a morte dele e não quer me contar. Tá, sei que não quer falar sobre isso...

- Eu, eu era amigo dele e, e sinto muito pelo que aconteceu! Ele... ele merecia viver, me arrependo de não ter ajudado, me arrependo de ter deixado ele. De...

- Se um dia você se encontrasse com ele... pediria perdão por tudo de ruim que fez a ele?

- Quem dera se eu tivesse essa chance... Não a desperdiçaria! Mas como ele se foi... isso nunca vai acontecer.

É com o Monkey King que estou lidando, óbvio que se uma reconciliação aconteceu, aconteceu de forma bem mais bem nas entrelinhas, nada de apertos de mãos, muito menos, de abraços.

- Hum... - suspiro com dor nos braços, essa manipulação de energia escura me deixa em frangalhos. Desisto do teletransporte de sombras, lamentando por que também não posso usar outros poderes agora. Estou exausta, se ao menos eu me transformasse em uma formiga para sair daqui, poderia desmaiar logo em seguida e sabe se lá quanto tempo ficaria desacordada dando trabalho extra ao Monkey King.

- Pelo visto, é você quem sabe demais aqui - Sun me olha de soslaio, suas costeletas estão uma bagunça, o brilho de seu olhar está intenso.

- Sei de quase nada - dou de ombros, farta de tantos problemas, louca para mandar todo mundo se lascar, dá uma de herói não é nada fácil, ainda mais para uma ex criminosa -, só ouvi a lenda dos dois. Enfim, vamos focar no que interessa.

Macaque e Wukong... tem muito o que resolver ainda. Se um dia tudo voltar ao normal, todos ficarem bem, se eu conseguir sobreviver, com certeza vou dar um jeito de fazer esses dois se aproximarem e serem grandes amigos de novo. Posso estar sendo intromedita nessa área e estou nem aí, quero mais é vê-los juntos de novo, como nas lendas. Seria tão legal, dois grandes amigos, juntos outra vez.

Monkey King destrói a fornalha e logo percebo como os famintos capturadores foram azarados em nos manter aqui. Pigsy e Sandy também são libertos com a ajuda do bastão do rei. Corremos para a porta e teríamos saído por ela sem nenhum problema mas além de estar trancafiada de forma comum, está coberta de magia de campo de força que não permite toque sem dar choque. Nossa próxima saída seria as janelas. Subi na pia e ia passando por ela quando Monkey King fez questão de derrubar a parede.

- Seu louco! - ainda bem que me afastei a tempo. - Nem parece que estava me segurando para não fazer barulho!

- Você ia mesmo sair por aquela janela e nos deixar para trás?! - Sun diz claramente indignado.

- Óbvio que não! - tento não gritar muito alto. - Ia tentar abrir a porta do outro lado!

- Pessoal! - Sandy chama -, vamos logo sair daqui antes que os donos cheguem e nos peguem de novo!

- Podem ir na frente! - Sun se alonga todo sorrisos. - Posso ficar e lutar!

- Nada disso! - puxo sua cauda felpuda. - Eles estão com raiva da gente com razão, não deveria arrumar brigas.

- Bah! - ele dá de ombros. - Vamos embora então!

- Que bom que conseguiu convencer ele! - Pigsy comemora.

- Seria bom se ele não tivesse ido atrás das manfruits desde o início - digo tentando não ficar irritada.

- Sabem que estou bem aqui, não sabem? Tipo, ouvindo tudo - Monkey King comenta.

- Sim, sim, sabemos - sorrio de orelha a orelha.

Do quintal, só tivemos que enfrentar o muro. Conseguimos passar por ele através de nuvens voadoras. Wukong ajudou a carregar seus condicípulos.