A Discípula de Sun Wukong

16 | Estrago em Womanland

Valente

Encontramos fragmentos do medalhão da ressureição em várias regiões do meu país. São Paulo, Minas Gerais, Pará e Amazônia, cada estado tinha um pedaço. Com dois pedaços faltando para completar o artefato, guiamos nossas nuvens até Austrália e Madagáscar. Do último lugar, queria até levar um lêmure! Eles são tão fofinhos.

Ah... República Federativa do Brasil... não odeio o meu país, queria até que a Terra tivesse esse nome. Se um alien me visitasse eu diria com todo orgulho do mundo: "Bem vindo ao Brasil!"... amar meu país não foi suficiente para me fazer permanecer nele, queria ver o restante do mundo de qualquer maneira, pois vi muitas belezas naturais e culturais através da internet e a cereja do bolo de uma jovem ansiosa por ver mais... o objetivo principal da minha saída foi me livrar da miséria que minha família tem enfrentado nos últimos anos, adquiri a maioridade, tinha mais é que desafogar os pobres dos meus pais... dureza.

Ainda bem que na minha antiga casa meus pais haviam saído para trabalhar e meus irmãos estavam na escola. Ufa! Essa foi por pouco! Foi um sufoco tremendo encontrar o fragmento, espíritos malignos rondavam o casebre para arrancar o pedaço de nossas mãos. Derrotamos todos, tinham formas de ratazana, me saí "mais ou menos" no combate pois acertei o mestre várias vezes com a minha Power Rod, sem querer, é claro... E qual não foi a minha surpresa ao encontrar o fragmento dentro da minha caixinha de música?! Wukong teve que quebrá-la para mim pois, mesmo passando tanto tempo longe dela, não queria ter que fazer isso por mais necessário que fosse. Levar o aparelho para desmonte iria envolver gente desconhecida e isso não queríamos de jeito nenhum. Desmontar nós mesmos iria consumir um tempo que não tínhamos. Fiquei feliz por minha família ter deixado meu quarto como deixei antes de viajar para Aolai, pelo luto, só cobriram algumas coisas com tecido preto. Conhecendo minha família, pelo mural de atividades da casa, vi consultas com psicólogo agendadas, dívidas com caixão, assuntos de trabalho e escola... voltaram a rotina quase normal rápido talvez para tentar amenizar a dor de terem me perdido, sei que não é totalmente verdade, o fato de terem me perdido para a morte mas, de qualquer forma, não deixa de ser verdade para eles, algo doloroso. Prometi para mim mesma nunca mais voltar a vê-los. Kaira está morta e ponto final.

Fiquei me perguntando, durante boa parte da viagem: como aquele pedaço foi parar em algo meu. Wukong contou a história do medalhão, era de um tal Rhino Demon King, esse cara mandou seus súditos espalhar bem sua maior riqueza, no futuro tomaria de volta o que era dele, dividiu o medalhão para ninguém poder usar enquanto ele não estivesse por perto. Rhino Demon King desapareceu sem deixar rastros e seus pedaços de medalhão foram passando de mão em mão até um deles chegar em mim. Estava conectada desde o início a Monkey King, Rhino Demon King já foi seu inimigo que fugiu durante o centésimo round.

Quando voltamos de nossa cansativa viagem, reparei que o clima estava mais tenso que o de costume. Ia perguntar o que havia acontecido mas, devido a treinamentos constantes, meu cansaço venceu a curiosidade e preocupação que consumia meu interior, ela foi definhando na medida em que a MK's Team foi melhorando o humor até voltar ao que eu estava acostumada a conviver antes de partir com o mestre. Com a relíquia pronta, só faltava a Cabaça do Paraíso, pensei que Wukong fosse me chamar para essa missão, o que não aconteceu, ficou de conversinha com seu amigo Nezha e partiu com ele me deixando em treino árduo em Womanland.

Lembrei de todas as visões e sonhos perturbadores em que eu e Wukong estávamos... diferentes. Sem sombra de dúvidas, muito diferentes. Agimos de forma heróica até hoje, não podemos ser os vilões da história. Não tem lógica, não faz o menor sentido! Preciso de mais informações que Wukong tem me negado desde que me tornei a sua discípula. Penso em voltar naquela sala estranha com aquela bola de cristal gigante mais estranha ainda. Que tipo de cigana ou cigano usa uma coisa daquele tamanho? WTF?!

Depois de finalmente ter achado a sala, depois de uma hora de procura, fecho a porta e me dirijo a esfera incandescente. Levanto uma mão e leio uma colinha especial tirada de um pergaminho que Wukong sempre olha antes de vir aqui repetir o que leu nele. Digo as palavras e ela fica mais iluminada ainda. Parece a Lua.

- O que deseja ver, jovem guerreira? - uma voz calma sai da esfera.

- Olá... érr. Gostaria de saber... sobre algumas coisas. Fiquei sabendo que pode revelar a verdade.

- Adianto que não posso responder a qualquer pergunta. E, antes de tudo, se apresente, por favor.

- Meu nome é Valente e sou discípula do Monkey King.

- O que deseja saber?

- O penúltimo discípulo de Wukong está descontrolado, uma usina de poder prestes a explodir a qualquer momento. Quem fez isso a ele?

- Seu mestre.

- Mas que droga de resposta é essa?

- A verdade.

- Grr. Ok, ok. Vou conseguir vencer MK e trazer ele de volta, não vou?

- Você também ficará como MK. - A luz enfraquece até sumir, se tornando assim uma esfera sem brilho e sem voz. Que absurdo foi esse que acabei de ouvir?

- Quê...? Es-espera! - Me desespero -, não pode me deixar com essa resposta! - avanço sobre a esfera, acabo empurrando a bola para fora de seu suporte, ela cai e se espalha em milhões de pedacinhos no chão. Era tão leve e frágil, ver o estrago faz meu coração redobrar as batidas. Quebrei um artefato milenar importante! Estou ferrada com F maiúsculo! Não, não, isso não pode estar acontecendo!

- Tem alguém aí? - uma voz aguda questiona através da porta que se abre devagar.

- Ai, droga, não!

- Valente? Você não deveria estar na cama agora? - pergunta uma Amazona tutora minha.

- Ai...

Ela encara os estilhaços e arregala os olhos.

- Não acredito... você... você fez isso?

- F-foi... foi sem querer, eu juro!

- Certo, certo. Pois bem, levante as mãos e fique parada. Está presa!

Só pode ser brincadeira... Presa? De novo? Affs!