11 | Raio

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Valente

Assim que avistamos a tal ilha do reino das mulheres, descemos as nuvens cambalhotas lentamente. Foi um milagre eu chegar sã e salva, tive medo de cair várias vezes e me afogar ou de esbarrar em alguma montanha de ilhotas.

Foi bom conversar com o mestre durante a viagem, de certa forma conheci MK e... ri de nervosa. E se eu não conseguir salvá-lo? Fico observando minha Power Rod em mãos. Ela está torta, trincada, lascada. Tudo porque fui patética de enfrentar um monstro que podia ter me esmagado com uma só pata.

Wukong é o último a descer da nuvem e, assim que seus dois pés pousam na areia da praia onde escolhemos parar, um raio o atinge em cheio. Me abaixo no susto, fumaça paira entre nós durante alguns minutos. Tossindo, com olhos ardendo pela fumaça espessa, procuro pelo mestre.

- Wukong? Wukong! Mestre!

Ficar desorientada é, de longe, algo que eu não imaginava ficar ao chegar nesse reino, afinal eu teria um guia conhecedor da região mas não esperava que ele fosse atingido por um raio em pleno dia claro sem sombra de alguma nuvem de chuva.

Estou cada vez mais desesperada porque ele não me responde. A fumaça vai se dissipando na lentidão de uma tartaruga, o que parece piorar minha ansiedade em ver o mestre. Vamos lá, ele é imortal, não é? Ele deve estar bem, logo ele vai aparecer. Mesmo assim, vou continuar a procurar por ele, tateando a fumaça enquanto caminho.

Quando toda a fumaça vai embora, meus olhos vão parando de lacrimejar de forma lenta e gradual. Estou torcendo para o mestre estar bem. Consigo ver uma silhueta caudada jogada na praia, só pode ser ele, com as ondas quase o arrastando para o mar.

Aos tropeços, alcanço seu corpo, arrasto para longe de ser levado pelas ondas.

- Mestre? Mestre! Acorda!

Me atenho a dar tapinhas na sua face e, ao mesmo tempo, procuro por algum machucado que aquele raio possa ter deixado. Parece que seu corpo nunca foi atingido por tal coisa, não há nem um chamuscado nas roupas. Um raio provavelmente deixaria algum rasgão, alguma queimadura, isso não pode ser fruto da minha imaginação, tenho certeza que vi ele ser atingido por um raio!

MK... ele está aqui? Sinto um calafrio tomar minha espinha e suor frio correr minhas têmporas. Se ele estiver aqui é o meu fim, com o mestre desacordado, ninguém poderá me salvar como da última vez. Contenho as lágrimas, pode não ser ele, preciso ficar calma, me ater as profecias.

Sinto o coração de Wukong batendo ao colocar minha face rente ao seu peito, isso é tão calmante quanto música de ninar. Através das batidas do seu coração sinto que ainda posso ter esperança de que tudo vai ficar bem. De repente, um tremor toma conta da ilha mas logo cessa. Passo a fazer das minhas pernas travesseiro para o rei desacordado.

Do meio da floresta, entre coqueiros, uma silhueta feminina vai ficando cada vez mais evidente e é quase impossível não acompanhar a sua aproximação. Espero não ser uma integrante de alguma tribo a fim de nos trucidar por invadir suas terras. Deveria correr? Pedir ajuda?

Para o bem ou para o mal que a garota possa me fazer, me preparo puxando um de meus leques. Percebo como ela está vestida, parece mais uma garota de cidade grande do que uma nativa de alguma tribo intocada pela civilização construtora de carros, prédios e afins.

- Calma! Não vim te fazer mal! Sou amiga desse cara que está segurando, me chamo Mei.

- Acho que o mestre já me falou de você.

- Espera aí. Mestre? Então você é a Kaira Valente?

- Na verdade é Valente Kaira.

- Então você é a discípula do Wukong.

- Sim.

- Só me diz que ele não foi atingido por um raio.

- Infelizmente ele foi! Como advinhou?

- Nossa! Longa história!

- Me diz onde posso encontrar médicos, posso ir voando com ele, para onde for, em uma nuvem voadora.

- Nesse caso, pode me acompanhar, já sei onde ele pode receber cuidados.

- Muito obrigada mesmo.

- Não me agradeça ainda! Temos um longo caminho a percorrer.

Nos entranhamos na floresta, andamos um bocado e nada de civilização. Mei deve ter percebido meu desespero através da minha cara de preocupação. Então diz, cortando de forma breve, o silêncio entre nós.

- Fica tranquila, estamos na direção certa.

Faz tanto tempo que o mestre está desacordado... minutos se passam, ansiosa permaneço até Mei se dirigir a uma rocha gigantesca. Desenha algo nela e logo uma passagem é aberta. Ela corre atravessando a entrada e as luzes de dentro da caverna ou sei lá o que isso pode ser, se acendem.

- Red Son. É ela, Valente Kaira.

A ouço dizer para uma sombra se mexendo no breu de um corredor, logo um rapaz de cabelos vermelhos vivaz se faz presente, vem até mim e estende a mão. Nos cumprimentamos.

- Prazer, Red Son. Estava ansioso para te conhecer.

- Ah, prazer...

- O que houve com o Wukong...? - ele parece entender o que houve. - Era só o que nos faltava!

Deito Wukong em uma maca dali com a ajuda da nuvem e de Mei. Red Son vai até a maca e passa a examinar o mestre. Mei me chama para conversar em um canto mais distante dos dois.

- Red Son está atrás de uma cura para o MK. Um dos raios que acertou Monkey King veio dessa máquina - Mei toca um gigantesco cilindro fluorescente esverdeado.

- Ele vai ficar bem... não vai?

- Eh...

- Quando ele acordar... posso dar alguma resposta, até lá... só nos resta ficar aguardando. - Red Son respira fundo. - Fica tranquila, ele está só dormindo por enquanto.

Horas mais tarde, aquele macaco continua ressonando enquanto divago sobre sua situação e janto com os... olho bem para eles antes de afirmar.

- Então vocês são amigos do mestre.

- Sim. - Mei separa mais uma porção de salada para si. - Os treinamentos estão muito difíceis?

- Não acho, difícil é alguém como eu vencer... alguém como ele.

Mei sorri por alguns segundos, toca minha mão, interpreto como "estamos aqui para o que der e vier".

- Estamos contando com você, somos uma equipe, não vai enfrentar, o que for, sozinha, certo? Pode contar com a gente!

- Valeu.

- Com licença! - Red Son alcança meus leques e o cajado que deixei deitados no chão - posso te ajudar com isso. Topa dar um upgrade no seu arsenal?

- Toda ajuda é bem vinda...

- Enquanto o dorminhoco ali descansa, vamos adiantar algumas coisas - Red Son termina sua refeição e vai até uma mesa onde passa a desentortar a Power Rod com seus equipamentos, ao meu ver, sofisticados. Também faz algo com os leques, nem vou procurar saber o quê exatamente, minha preocupação está longe desses objetos.

A Discípula de Sun WukongOnde as histórias ganham vida. Descobre agora